Economia
Preço da gasolina já subiu mais de 32% nos postos em 2021; veja comparativo
Em 1 ano, quantidade de gasolina que motorista pode comprar com R$ 100 caiu de 24 para 17 litros.
O preço da gasolina segue em alta para o consumidor. Em agosto de 2020, a quantia de R$ 100 era suficiente para comprar cerca de 24 litros do combustível. No começo de 2021, essa quantidade já havia caído para 22. Em agosto deste ano, o mesmo montante de dinheiro conseguia comprar 17 litros de combustível – uma queda de 29% em 1 ano.
É o que aponta levantamento feito pelo InvestNews considerando dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Segundo a agência, o valor médio da gasolina estava em R$ 5,92 por litro na semana terminada em 21 de agosto. Existe, no entanto, grande variação regional, e em algumas cidades nas regiões Norte, Sudeste e Sul do Brasil a ANP chegou a encontrar preços acima de R$ 7 por litro no mesmo período.
Gasolina x inflação
Até agora, o preço da gasolina nas bombas ao consumidor acumula um avanço de mais de 32% no ano, e quase 40% em 12 meses. A variação está bem acima da inflação. Considerado o indicador oficial de inflação no Brasil, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou até julho um avanço de 4,76%, e de 8,99% em 12 meses.
Para efeito de comparação: se o preço da gasolina acompanhasse o IPCA, em julho o litro estaria custando, em média, R$ 4,84. No entanto, a média calculada pela ANP no mês passado foi de R$ 5,80.
Ao invés de os preços da gasolina acompanharem a inflação, são eles que a pressionam para cima. Isso porque esses custos fazem parte do grupo “transportes”, o principal peso na composição do IPCA, com 21%. Por essa razão, o aumento dos combustíveis tem sido um dos principais vilões da inflação nos últimos meses, ao lado de outros fatores como preços da conta e luz por causa da crise hídrica.
Por trás do preço nas bombas
Dados da ANP mostram que, nos últimos 12 meses, o preço médio da gasolina só não subiu em um mês. O avanço contínuo ocorre em meio a reajustes feitos pela Petrobras (PETR3 e PETR4) nas refinarias, seguindo sua política de preços que busca acompanhar as cotações internacionais do petróleo.
Neste ano, o preço da gasolina nas refinarias já subiu 51%. Ao mesmo tempo, o barril de petróleo do tipo Brent, uma das principais referências internacionais, tem alta acumulada de quase 40%, enquanto o petróleo nos Estados Unidos, o WTI, avança cerca de 42%.
A magnitude da alta dos preços da gasolina nas refinarias, no entanto, não é exatamente o que o consumidor vai sentir no bolso. Isso porque a composição no preço das bombas não depende somente do valor do combustível nas refinarias, mas também de itens como distribuição e impostos. Veja abaixo:
Composição do preço da gasolina nas refinarias*
Distribuição e revenda | 14% |
Custo do etanol anidro | 15,70% |
ICMS | 28,60% |
Cide, PIS/PASEP e Cofins | 11,90% |
Realização da Petrobras | 32,40% |
* Fonte: Petrobras
Apesar de os aumentos praticados pela Petrobras serem alvo de críticas (incluindo o presidente da República, Jair Bolsonaro, que chegou a trocar o comando da empresa após reclamar dos preços), números apontam que os valores no Brasil seguem defasados em relação ao mercado externo, apesar de a diferença estar diminuindo.
Segundo cálculo mais recente do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), o preço da gasolina doméstica ficou R$ 0,36/litro (ou 11,5%) abaixo do preço no Golfo do México, nos Estados Unidos, em 23 de agosto.
Críticas à Petrobras
Nesta terça-feira (31), o presidente Jair Bolsonaro voltou a reclamar publicamente dos preços dos combustíveis, dizendo que o governo iria “começar a trabalhar” nesse assunto. Apesar de ele não ter especificado o que pretende fazer, as declarações já mexeram com as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) e, consequentemente, com o Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores brasileira, a B3.
Críticos apontam que a Petrobras deveria alterar sua política para frear o aumento dos preços dos combustíveis. Alvo de polêmica, o assunto não é unanimidade.
O economista Alexandre Schwartsman aponta que “a ideia de vender gasolina pelo custo de extração, ou melhor, de refino, dado que gasolina não brota do chão, não faz o menor sentido nem econômico e nem em outras dimensões importantes”.
“O país importa pouco menos de 20% do que consome. Caso vendesse aqui a preço menor do que o internacional, nenhuma empresa privada se interessaria em trazer gasolina para cá – papel que teria que ser desempenhado, como aliás já foi, pela Petrobras”, disse ele em comentário enviado ao Mais InvestNews.
“Quer dizer, a empresa teria que importar a preço internacional e vender abaixo dele, perdendo dinheiro no processo, exatamente como ocorreu na década passada. Entre 2014 e 2016, a empresa perdeu, a preços de hoje, quase R$ 10 bilhões e se tornou a petroleira mais endividada do planeta”, comenta Schwartsman.
O economista aponta ainda que “do ponto de vista do consumo, não faz sentido subsidiar a gasolina”. “Em primeiro lugar, incentiva-se o gasto com um produto que ficou mais caro, exatamente aquilo que o sistema de preços tenta evitar”, explica. “Por fim, é um subsídio que beneficia apenas a parcela mais rica da população. Pode, sem dúvida, agradar alguns ao custo do dinheiro do contribuinte, mas é um mau uso desses recursos.”
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