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Economia

Interferência de Bolsonaro na Petrobras: entenda em 4 pontos

Presidente tem criticado política de preços e CEO, mas mercado teme por outras empresas.

Fachada de prédio da Petrobras
REUTERS/Sergio Moraes.

As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) estão desabando nesta segunda-feira (22) com receios do mercado sobre a interferência de Jair Bolsonaro na estatal. Insatisfeito com a alta no preço dos combustíveis, o presidente anunciou a troca no comando da empresa na sexta-feira (19) e nesta manhã voltou a criticar a política da empresa.

Entenda abaixo 4 pontos da crise envolvendo a Petrobras e Bolsonaro.

1. Política de preços

A Petrobras determina o valor dos combustíveis nas refinarias de acordo com sua política de preços que segue fatores como a cotação do barril de petróleo no mercado externo e o câmbio. O objetivo é acompanhar os preços internacionais. A Petrobras já reajustou o diesel em suas refinarias em mais de 27% no acumulado do ano, enquanto a gasolina subiu 35%.

Em meio a ameaças de greve dos caminhoneiros, no entanto, Bolsonaro tem reclamado dos aumentos no preço dos combustíveis. Nesta segunda, ele voltou a criticar a política de preços da empresa. “Alguns do mercado financeiro estão muito felizes com a política que só tem um viés na Petrobras: atender os interesses próprios de alguns grupos no Brasil. Nada mais que isso”, disse Bolsonaro.

Apesar de repetir que “ninguém vai interferir na política de preços da Petrobras”, o presidente afirma que “tem coisa aí que tem que ser explicada” sobre as decisões da empresa. “Eu não consigo entender em um prazo de duas semanas ter uma variação do diesel de 15%. Não foi essa a variação do dólar aqui dentro nem no preço do barril lá fora.”

No sábado (20), ele já havia voltado a criticar a política da empresa. “Ninguém quer interferir, nem está interferindo na Petrobras, mas eles estão abusando”, afirmou em um evento. “Compromisso zero com o Brasil. Nunca ajudaram em nada… não é aumentando o preço de acordo com o petróleo lá fora ou o dólar aqui dentro, é mais do que isso. A preocupação é ganhar dinheiro em cima do povo”, acusou Bolsonaro.

Bolsonaro tenta também baixar o preço dos combustíveis mudando os impostos que são cobrados sobre ele. Além de ter anunciado que vai zerar os impostos federais sobre o diesel por 2 meses, o presidente quer alterar a forma de cobrança do ICMS, um imposto estadual, para que não seja mais cobrado na bomba, mas nas refinarias.

O governo enviou em janeiro um projeto de lei sobre o tema ao Congresso. No entanto, a mudança enfrenta resistência dos governadores, já que vários estados perderiam receita.

Nesta segunda, Bolsonaro disse a apoiadores que é possível reduzir em 10% o preço dos combustíveis intervindo na bitributação e em mudanças no ICMS. “Os impostos (sobre os combustíveis) são bitributados, incidem sobre o preço na refinaria, nos postos e em cima do próprio ICMS. Se jogar só em cima disso, reduz 10% o preço dos combustíveis e vários organismos do governo não fazem nada. No fundo, ninguém fazia nada. Eu descobri tudo isso sozinho.”

2. Roberto Castello Branco

Roberto Castello Branco
Roberto Castello Branco REUTERS/Amanda Perobelli

Bolsonaro também tem criticado Roberto Castello Branco, CEO da estatal. Na quinta-feira (18), ele disse que “teria consequências” a declaração do executivo de que uma eventual greve dos caminhoneiros não seria problema da Petrobras. No dia seguinte, Bolsonaro decidiu indicar o general Joaquim Silva e Luna para assumir os cargos de conselheiro e presidente da Petrobras após o encerramento do ciclo de Castello Branco.

Nesta segunda, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que Castello Branco está há 11 meses “em casa sem trabalhar”, pois está atuando remotamente em meio à pandemia de covid-19. Castello Branco faz parte do grupo considerado “de risco” da doença. Bolsonaro também disparou críticas à política salarial dos executivos da estatal.

“É direito meu reconduzi-lo ou não. Ele não será reconduzido. Qual o problema?”, afirmou sobre a troca no comando da empresa.

3. Reação das ações da Petrobras

As ações da Petrobras responderam à crise com uma intensa queda na bolsa de valores. Por volta das 11h, os papéis operavam em queda de mais de 20%. Por terem forte peso na composição do principal índice da bolsa de valores, o Ibovespa, as ações da estatal acabaram puxando uma despencada do indicador neste pregão. Acompanhe as cotações. Com as fortes quedas das ações, a Petrobras já perdeu R$ 100 bilhões em valor de mercado.

Lá fora, os papéis da empresa que são negociados na bolsa dos Estados Unidos também caem forte. Pela manhã, os papéis recuavam cerca de 17%.

Analistas de mercado rebaixaram suas recomendações para as ações da Petrobras nos últimos dias. O BTG Pactual rebaixou a recomendação para “neutra”, enquanto o Bradesco reduziu para “underperform”. O Credit Suisse baixou a recomendação para “underperform” e reduziu pela metade o preço-alvo para os papéis, de R$ 16 para R$ 8, citando “muitas incertezas”.

Analistas do Itaú BBA colocaram a recomendação para os papéis da estatal “sob revisão”, citando uma sensação de “déjà vu” e apontando que “mais uma vez, o governo interveio” nas políticas da petroleira.

4. Reação do mercado financeiro como um todo

dólar

Diante da preocupação sobre a interferência de Bolsonaro em empresas estatais, ações de empresas como Banco do Brasil (BBAS3) e Eletrobras (ELET3 e ELET6) também tiveram reação negativa. Perto das 11h, os papéis do banco caíam mais de 10% e os da elétrica, perto de 8%.

Um dia depois de anunciar a troca no comando da Petrobras, Bolsonaro disse no sábado que vai “meter o dedo na energia elétrica”. Após a declaração, analistas do Credit Suisse reduziram a recomendação para as ações Eletrobras e cortaram preços-alvo dos papéis.

“Uma afirmação que pode ter muitas implicações”, escreveu a equipe do Credit Suisse em relatório no domingo (21), no qual apontou que eventual intervenção governamental no setor “pode aumentar a percepção de risco”, principalmente por levantar ecos de medidas do governo para reduzir tarifas em 2012 que impactaram empresas, principalmente estatais.

Recentemente, outro alvo de discussões sobre interferência política foi o Banco do Brasil, quando Bolsonaro criticou o plano do banco que previa o fechamento de agências. O mercado reagiu negativamente com a possibilidade de demissão do presidente do banco, André Brandão, por interferência política. Semanas mais tarde, Brandão declarou que a desavença com Bolsonaro foi “problema de comunicação”.

Além do mercado de ações, o temor dos investidores sobre interferência política de Bolsonaro em estatais também atinge o mercado de câmbio. Logo nos primeiros negócios desta segunda-feira, o dólar disparava contra o real, deixando a moeda brasileira na posição de pior desempenho global no dia. O dólar comercial chegou a passar de R$ 5,53 nesta sessão.

No mercado de títulos, o Morgan Stanley removeu a recomendação “like” sobre os papéis soberanos do Brasil nesta segunda, citando preocupações fiscais e potenciais repercussões da troca no comando da Petrobras. “As mudanças na Petrobras são preocupantes nesse sentido, já que mostram que a tolerância a políticas impopulares é baixa, talvez direcionada por considerações eleitorais”, disseram analistas do banco.

Leia também: Greve de caminhoneiros termina sem adesão; veja comparações dos preços do diesel

(* Com informações da Reuters)

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