Para gestores de recursos em emergentes, a disparada do ouro é mais um motivo para o otimismo. Ao alimentar um efeito-riqueza para produtores e compradores, os valiosos estoques de ouro aumentam a convicção dos investidores em comprar. Em relatório neste mês, estrategistas do Goldman Sachs Group Inc. apontaram a força da mineração sul-africana como uma das principais razões para prever ganhos adiante para os títulos e as ações do país.
“O rali do ouro é benéfico para um pequeno grupo de países nos mercados emergentes, como Gana, África do Sul e Uzbequistão”, disse Daniel Wood, gestor da William Blair Investment Management. “A história mais ampla por trás da alta do ouro é que os investidores buscam cada vez mais alternativas às moedas tradicionais dos países desenvolvidos, em especial o dólar dos EUA.”
Wood disse estar otimista com a moeda do Uzbequistão porque o país é um grande produtor de ouro e detém reservas substanciais. Ele acrescentou que os preços em disparada dos metais ajudam a explicar por que os mercados da África do Sul vivem um ano tão histórico.
O índice FTSE/JSE Africa All Share subiu mais de 30% em 2025. O rand, a moeda sul-africana, está perto da máxima em um ano, e o rendimento do título do governo de 10 anos caiu recentemente abaixo de 9% pela primeira vez em mais de sete anos. A desaceleração da inflação, que permitiu ao banco central cortar juros, também impulsiona o sentimento do mercado.
Em suma, trata-se de uma virada dramática para um país que por anos teve dificuldade em atrair investidores devido a turbulências políticas e a crises de energia que prejudicaram o crescimento.
Outro país beneficiado pelo rali do ouro é Gana. Após atravessar uma crise em 2022 que levou ao calote da dívida, a nação vem se recuperando sob o novo presidente John Mahama. O cedi se valorizou cerca de 38% no ano, o maior avanço do mundo.
Outros investidores observam países como Polônia, Turquia e Cazaquistão, que vêm aumentando suas reservas de ouro. Para Alexis de Mones, gestor de renda fixa da Ashmore Group Plc, embora a tendência seja positiva, não se deve exagerar na leitura.
“Os países com maior participação de ouro em suas reservas também vão parecer melhores, mas não se deve enxergar efeitos de preço como fonte de fortalecimento de crédito”, afirmou.
O fator mais importante para emergentes, acrescentou ele, é que os preços mais altos do ouro acontecem num momento em que o dólar está fraco e as condições financeiras, de modo geral, mais frouxas — visão compartilhada por Ning Sun, estrategista sênior de mercados emergentes na State Street Markets, em Boston.
Ela disse que a alta do ouro normalmente ocorre em movimentos amplos que derrubam ativos de risco. Mas, neste caso, dado o enfraquecimento do dólar e a apreensão com a política econômica dos EUA, essa relação se inverteu. E agora os mercados emergentes estão saindo vencedores.
Por Selcuk Gokoluk
Foto: Bloomberg
