Economia
Brasil só fica atrás da Rússia em ranking de juros reais
Levantamento é do Trading Economics e considera as 40 maiores economias do mundo.
Em um ranking de 40 países com as maiores economias do mundo, o Brasil aparece na segunda colocação entre as nações com os maiores juros reais (ou seja, taxa de juros com desconto da inflação), atrás somente da Rússia. É o que apontam dados do Trading Economics.
O levantamento, que já considera a nova taxa básica de juros do país, a taxa Selic, de 11,75% ao ano, mostra que o Brasil tem um juro real de 2,81% ao ano, ficando apenas atrás da Rússia, com 6,86% ao ano, e acima da China, Indonésia e Paquistão, por exemplo.
Veja abaixo os países com os maiores e os menores juros reais:
Segundo João Beck, economista e sócio da BRA, o Brasil aparece entre os países com maior juro real por dois motivos. O primeiro deles está relacionado com comportamento. “O Brasil é traumatizado com a inflação, qualquer problema gera, por parte dos agentes econômicos, uma expectativa de inflação alta. E expectativa de inflação gera inflação“, diz ele.
O segundo fator, de acordo com Beck, são os diversos choques adversos que o Brasil viveu e que o resto do mundo não passou, como as geadas, que puxaram os preços do café e soja; a falta de chuvas, que fez o preço da energia disparar; e a mudança da regra do teto de gastos, envolvendo os precatórios.
“Foram três fatores que trouxeram ainda mais ‘combustível’ para um fogo que já estava acontecendo. Todo o resto do mundo estava vivendo os efeitos naturais da pandemia. O Brasil também sofreu com isso, mas teve esses outros problemas”, explica Beck.
Inflação
A taxa de juros no Brasil tem ganhado força à medida que a inflação persiste no país. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, acelerou para 1,01% em fevereiro, depois de ter registrado taxa de 0,54% em janeiro. Com isso, no acumulado em 12 meses, a taxa subiu para 10,54% e, no ano, para 1,56%.
Após os impactos da pandemia, a guerra entre Rússia e Ucrânia traz um novo agravante à inflação, refletindo nos preços das commodities e, consequentemente, afetando preços dos combustíveis e alimentos, por exemplo.
Em meio a esse cenário, economistas estão revisando suas estimativas para a inflação do país em 2022. De acordo com o último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (14), o mercado financeiro elevou a estimativa de inflação neste ano para 6,45%. A projeção anterior era a de que a inflação oficial ficasse em 5,65% em 2022.
Segundo projeções do Trading Economics, a inflação brasileira deve encerrar 2022 em 8,70% ao ano, ficando na sétima colocação em um ranking considerando as 40 maiores economias do mundo. A Argentina aparece em primeiro lugar, seguida da Turquia e do Irã.
Inflação preocupa bancos centrais
A preocupação com a inflação não é exclusividade brasileira. Nos Estados Unidos, por exemplo, a inflação em fevereiro teve maior alta anual em 40 anos. Thomas Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, avalia que os bancos centrais, no geral, passaram a mostrar preocupação muito maior com a inflação, que há alguns meses era vista apenas como temporária.
“Os BCs reconhecem, sim, muito, a inflação, e a função de reação está ligada de que tanto o BC brasileiro quanto o americano vão aumentar a dose do remédio – ou seja, os juros – se necessário”, disse o economista à agência Reuters,
Na quarta-feira (17), o Federal Reserve (Fed), o banco central do Estados Unidos, elevou a taxa de juros no país em 0,25 ponto percentual e sinalizou mais seis aumentos em 2022.
Já no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou o aumento da taxa Selic de 10,75% para 11,75% e, para o próximo encontro, em maio, indicou que fará novo ajuste da mesma magnitude.