Na terça-feira, o peso caiu mais de 1%, chegando a poucos centavos de romper a banda de flutuação e levando o Banco Central a intervir para sustentá-lo pela primeira vez em cerca de um mês. Segundo pessoas próximas ao assunto, o Tesouro americano também vendeu dólares para atender à disparada na demanda pela moeda norte-americana, já que operadores se desfazem do peso antecipando uma desvalorização inevitável após a votação.
O padrão de negociações se repetiu nas últimas semanas: os ativos sobem com manchetes sobre o apoio dos EUA ao aliado sul-americano, mas perdem os ganhos até o fim do pregão quando faltam detalhes concretos do acordo.
Mais cedo, os títulos chegaram a subir após o secretário do Tesouro, Scott Bessent, voltar a exaltar a linha de swap de US$ 20 bilhões com a Argentina, descrevendo-a como “um acordo de estabilização econômica” e “uma ponte para um futuro econômico melhor para a Argentina, não um resgate”.
O arranjo é peça central dos esforços dos EUA para estabilizar a volátil economia argentina, enquanto Milei se aproxima das eleições cruciais deste fim de semana. Mas a falta de detalhes sobre a ajuda — tanto por parte de Bessent quanto de autoridades locais, como o secretário de Finanças Pablo Quirno — reduziu seu impacto sobre os ativos do país.
Embora Bessent tenha dito que o peso está subvalorizado e o governo argentino prometa não alterar o regime cambial após a votação, operadores afirmam que o país não tem reservas suficientes para manter a moeda nos níveis atuais nem sustentar o sistema de banda cambial acertado com o FMI em abril.
“Achamos que anúncios isolados como os de Milei e Quirno terão impacto limitado sobre as expectativas — especialmente às vésperas de uma eleição incerta”, escreveu o analista da StoneX, Ramiro Blazquez.
Os títulos em dólar da Argentina reverteram ganhos anteriores: os papéis com vencimento em 2035 recuaram cerca de 0,7 centavo, para 56 centavos por dólar, segundo dados da Bloomberg. A moeda, pressionada desde que o partido de Milei perdeu para os peronistas em uma eleição provincial, fechou no nível mais fraco já registrado, a 1.490,5 pesos por dólar — a menos de 1 peso do limite inferior da banda. Após o fechamento, o Banco Central argentino informou ter vendido US$ 45,5 milhões para sustentar o peso.
“Ninguém vai fazer grandes apostas antes das eleições de domingo”, disse Walter Stoeppelwerth, diretor-de-investimentos da Grit Capital Group. “Os riscos de queda são maiores que os de alta, mesmo com um bom resultado para Milei.”
O governo de Donald Trump vê Milei como um aliado ideológico firme numa região volátil e tem intervindo repetidamente no mercado à vista argentino nas últimas duas semanas.
“Não queremos outro Estado falido na América Latina, e uma Argentina forte e estável é explicitamente de interesse estratégico dos Estados Unidos”, afirmou Bessent em nota — sem divulgar detalhes ou valores. O Tesouro não respondeu a pedidos de esclarecimento.
Milei, ídolo de libertários e conservadores pelo mundo, reuniu-se com Trump na Casa Branca na semana passada. Sua equipe, liderada pelo ministro da Economia Luis Caputo, havia passado a semana anterior negociando em Washington com a equipe de Bessent antes das reuniões anuais do FMI.
Durante o encontro na Casa Branca, no entanto, Trump alertou que a ajuda dependeria de um bom resultado eleitoral — o que preocupou investidores, que temem que o apoio só venha depois da votação de 26 de outubro.
No fim de semana, Trump defendeu o socorro a Milei: “Eles não têm dinheiro, não têm nada, estão lutando com todas as forças para sobreviver”, disse a repórteres a bordo do Air Force One.
Por ora, o mercado segue à espera de detalhes sobre o programa dos EUA e maior clareza sobre a política econômica argentina de longo prazo. Com a aproximação do pleito, a diferença entre o câmbio paralelo e o oficial vem aumentando; no mercado informal, o dólar já supera 1.600 pesos.
“Eles continuarão sustentando o câmbio até sexta-feira, mas ao custo de uma venda contínua de dólares”, disse Juan Sola, economista do Banctrust. “Com expectativas desancoradas e a poucos dias da eleição, o incentivo para fechar a brecha entre o dólar paralelo e o oficial continuará drenando dólares do Banco Central e de Bessent.”