A queda de 9,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre coloca o desempenho da economia na 22ª posição em uma lista com 48 países – dos quais apenas 2 não registraram recuo, China e Índia.
O levantamento foi realizado pela Austin Rating com os resultados trimestrais que já foram divulgados até agora. Entre eles, a média é de queda de 9,9% do PIB entre o primeiro trimestre do ano e o segundo – um resultado bem próximo ao do Brasil.
O pior colocado na lista é o Peru, que registrou no período um tombo de 27,2% em sua economia. Outros que se destacam entre os piores da lista são Reino Unido (-20,4%), Tunísia (idem), Espanha (-18,5%) e México (-17,3%).
China descola
Na outra ponta, o desempenho da economia chinesa no mesmo período disparou na comparação com os outros países, crescendo 11,5%. Mas o que os analistas explicam é que esse é o efeito do forte recuo no trimestre anterior, em um movimento de retomada na primeira economia a ser atingida pela crise da pandemia do novo coronavírus.
No primeiro trimestre do ano, o PIB da China despencou 10% – uma queda bem maior que a média de 2,5% na lista com os mesmos países naquele período.
“A China foi o país que mostrou o pior desempenho no primeiro trimestre. Foi o epicentro (da Covid-19) no final do ano e sentiu os primeiros efeitos dessa crise. Depois, saiu mais rapidamente do isolamento e conseguiu ter esse desempenho no segundo trimestre”, explica Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
“Se a gente fizer uma média do primeiro trimestre com o segundo, a China teve um crescimento perto de 0. Esse desempenho forte da China no segundo trimestre é muito mais para recuperar o que foi perdido”, aponta Agostini.
Além da China, o único país do ranking a registrar resultado positivo no segundo trimestre foi a Índia, com elevação de 0,7% do PIB na comparação com os três meses anteriores.
Brasil na média, mas preocupa
Na lista, o desempenho da economia brasileira ficou à frente de outros países da América Latina, como Chile, Colômbia e México, e europeus como Itália, França e Portugal. No entanto, Agostini avalia que o Brasil perdeu para países que concorrem diretamente por investimentos, o que é preocupante.
“Índia, Hong Kong, Taiwan e Indonésia, por exemplo, são emergentes que estão acima do Brasil na lista. Isso mostra que o Brasil precisa fazer mais, porque concorrentes diretos por investimentos se saíram melhor”, avalia Agostini.
“O problema é internacional, não é só do Brasil. Mas é claro que poderíamos ter uma queda menor se a gente não viesse desde 2014 numa crise fiscal, se a gente não tivesse uma crise política entre Executivo e Legislativo já há algum tempo, se a gente tivesse um nível de investimento melhor do que o que tem hoje. Aí a gente poderia ver o Brasil mostrando uma capacidade de resiliência maior do que seus concorrentes diretos por investimentos”, comenta Agostini.
O economista Roberto Luis Troster também comenta as condições já “frágeis” em que se encontrava o cenário brasileiro quando eclodiu a crise do coronavírus, citando exemplos como a evolução da dívida pública e a baixa competitividade da economia. “Já tínhamos alguns indicadores antecedentes de que podia haver problemas”, afirma.
“O dilema entre saúde e economia, que foi muito discutido no começo, é um falso dilema, não existe. Países que cuidaram rapidamente da saúde foram os que se saíram melhor na economia”, acrescenta Troster.
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