Direto ao ponto. O que Trump quer são juros mais baixos nos EUA. Isso faz a economia crescer, o que sempre traz bons dividendos políticos . Caso ele consiga, os efeitos de curto prazo valem para o mundo inteiro, Brasil incluído.

Juros mais baixos nos EUA reduzem a demanda por títulos públicos americanos. Ato contínuo, a demanda por dólares cai mundo afora – já que você precisa da moeda deles para comprar os títulos deles.

E o dólar perde força. No Brasil, e em qualquer outro lugar, isso reduz os preços das importações, já que as notas verdes são a moeda franca das transações internacionais. A baixa nos importados, então, pressiona a nossa inflação para baixo. 

Selic existe para combater inflação. Com um IPCA mais comportado, cresce a expectativa para que os juros comecem a cair por aqui. Tudo bem, então? Claro que não.

Bancos centrais independentes, como o Fed e o nosso, existem para que o combate à inflação não fique refém da política. “Independência”, nesse caso, é algo simples: o presidente do país não pode demitir diretores do Fed, o BC americano – a não ser que a pessoa tenha cometido um crime.

Trump usou esse expediente, de forma inédita, para demitir a diretora Lisa Cook, membro do Fomc, o “Copom” americano. Acusou-a de mentir num financiamento imobiliário para pagar prestações mais baixas; um crime financeiro. 

Cook não aceitou a demissão, já que pode recorrer. Caso Trump consiga substituí-la, vai nomear um diretor que vote por cortes maiores nos juros, como ele deseja.

Mas aí é aquilo. Se os juros caírem num ritmo maior do que deveriam, a inflação sai do controle. E o único remédio, lá no futuro, serão juros ainda maiores, por ainda mais tempo – péssimo negócio para a economia global.