Wesley Batista, dono da JBS
Wesley Batista, dono da JBS, participou do Esfera Brasil

Wesley Batista, acionista do Grupo J&F e controlador da JBS, jogou luz a um incômodo recorrente do empresariado: a falta de mão de obra como consequência dos programas sociais.

A reclamação já foi dita por outros CEOs e executivos ouvidos de maneira reservada pelo InvestNews, mas ganha ainda mais peso quando o controlador do maior grupo empresarial do país resolve falar abertamente sobre o tema. A constatação, explicitada por Batista, é de que há pouco interesse trabalhadores pelas profissões de entrada no mercado de trabalho, como atendentes e caixas do varejo e funcionários da indústria e construção civil.

“Faz sentido rever os programas sociais, o tamanho deles, as transições, porque você não tem gente nem para trabalhar”, afirmou Wesley, durante participação em um fórum promovido pelo grupo Esfera Brasil, no Guarujá (SP). “O agro está pujante, mas faltam pessoas dispostas e capacitadas para ocupar as vagas disponíveis.”

O empresário participou de um painel junto com o CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy, o chairman do BTG Pactual, André Esteves, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.

Esteves lembrou ainda que a política de reajustes reais, ou seja, acima da inflação para o salário mínimo tem pesado sobre as contas públicas. “O problema é que (o salário mínimo) está atrelado às contas da Previdência.”

Conforme o chairman do BTG, essa vinculação faz com que os aposentados acabem ganhando um reajuste muito acima da variação dos preços, de 15,5% no ano. “O Brasil passa a ser o único país do mundo a dar ganho de produtividade a quem não trabalha.”

Maluhy, do Itaú, e Sidney, da Febraban, alertaram ainda para os impactos da carga tributária e criticaram o uso do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) como ferramenta arrecadatória.

Para os executivos, o imposto deveria ter caráter apenas regulatório. “Com a taxa de juros em 14,75%, o impacto do IOF ‘flat’ pode elevar os custos para pequenas e médias empresas em 6, 8 ou até 10 pontos percentuais”, alertou o CEO do Itaú. Maluhy também destacou o aumento nos pedidos de recuperação judicial e o arrefecimento do crédito como sinais de alerta para o governo.

O presidente da Febraban ressaltou a necessidade de o governo controlar o gasto público. “Temos de interromper a escalada de gastos públicos. A solução precisa vir por meio de uma discussão estrutural, envolvendo Congresso, Executivo e sociedade. É melhor cortar mais do lado do gasto do que onerar ainda mais o setor produtivo.”

Sidney também citou a desoneração da folha de pagamento como um exemplo de política pública que falhou em estimular o emprego e hoje traz um peso muito grande para a arrecadação. “A ideia era boa, mas não trouxe a geração de emprego esperada”, disse o presidente da Febraban.

Apesar das críticas, o tom do discurso também foi de otimismo com o país. “Nós, como empresários e brasileiros, torcemos para o país. Está todo mundo aqui fazendo planos para investir. Às vezes dizem que está ruim, mas eu digo: não está ruim, está bom. Poderia estar melhor, mas não está ruim”, disse Batista, da JBS.

(o repórter viajou a convite do Esfera Brasil)