Finanças
1 em cada 3 fundos de ações batem o Ibovespa na crise. O que eles têm em comum?
Apenas 12,9% dos fundos voltados para a bolsa têm retorno positivo desde a chegada da pandemia, segundo dados da Morningstar.
De um total de 511 fundos de ações, apenas 66 acumulam retorno positivo desde que a pandemia do novo coronavírus derrubou as bolsas do mundo todo. A gestão ativa da carteira, a exposição ao dólar e às bolsas americanas estão entre os fatores que ajudaram muitos deles a se sobressair. Os dados são da provedora de informações financeiras Morningstar, levantados entre o dia 26 de fevereiro (dia da primeira forte queda dos mercados) até quarta-feira (7).
Neste período, o índice de referência das ações brasileiras, Ibovespa, até conseguiu encostar nos 100 mil pontos, mas ainda acumula desvalorização de 12,97%. A forte alta dos últimos três meses suavizou as perdas vistas em fevereiro e março, mas nem assim levaram o índice de volta ao patamar pré-crise. Apenas 187 fundos de ações (36,5%) conseguiram superar o desempenho do Ibovespa desde o estouro da pandemia. Ou seja, a maior parte ainda não supera seu benchmark — que é a marca que os fundos tentam ultrapassar.
O pior desempenho da lista ficou com um dos fundos mais populares entre o pequeno investidor nos últimos meses, o Alaska Black BDR Nível 1, do gestor Henrique Bredda, que acumula retorno negativo de 52% desde o final de fevereiro. O fundo ganhou fama nos últimos anos após uma forte valorização, com a aposta nos papéis da varejista Magazine Luiza (MGLU3). Pelas redes sociais, Bredda não cansa de repetir que o que importa mesmo é o desempenho no longo prazo.
Mas entre os fundos que conseguiram se sobressair desde o início da crise, alguns deles chamam atenção por concentrarem suas estratégias em investimentos fora do Brasil. Um deles é o Western BDR Nível 1, da gestora Western Asset. O fundo acumula rentabilidade positiva de 24,21% desde o estouro da pandemia, o terceiro melhor desempenho, segundo os dados da Morningstar.
A carteira do fundo mantém um portifólio voltado para grandes empresas americanas listadas na B3 (as chamadas BDRs, ou recibos de ações estrangeiras). Segundo Maurício Lima, gerente de produtos da Western, o fundo é composto pelas chamadas “large caps”, ações de gigantes consolidadas que, ainda assim, apresentam um grande potencial de valorização. “São aquelas com capacidade de crescer em ciclos econômicos mais positivos e resiliência para aguentar eventuais quedas”, explica.
Com patrimônio líquido próximo a R$ 1 bilhão, o fundo tem os cerca de seus 40 papéis concentrados nos setores de tecnologia e de consumo discricionário (que variam ao sabor do ciclo econômico). Dentro dessa categoria, a maior exposição do fundo está em ações (BDRs) da gigante do comércio eletrônico Amazon (AMZO34), que acumula valorização de quase 70% desde o começo do ano. A gigante tem ajudado a deixar seu fundador Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, ainda mais rico — com seus negócios beneficiados pela demanda crescente por compras online e a quebra de concorrentes menores durante a pandemia.
Segundo Maurício, um dos fatores que ajudaram no bom desempenho do fundo da Western é a diversificação geográfica, já que as grandes empresas americanas via de regra têm presença global. “Dada a circunstância em que o mundo vive, a economia americana é a mais dinâmica das economias e essa diversificação geográfica não fica restrita aos EUA”, observa.
A variação do câmbio também funciona como um contrapeso ao risco-Brasil dentro da carteira do fundo. Quando as coisas vão mal no cenário interno, o dólar tende a ganhar valor frente ao real, o que torna o fundo descorrelacionado do mercado local. A moeda americana valorizou 36% frente ao real nos seis primeiros meses do ano.
“Tem também a diversificação setorial do fundo, com exposição a empresas dos setores de tecnologia e setor farmacêutico , muito pouco representados na bolsa local”, explica Maurício.
Entre os fundos multimercados, categoria de investimento que dá ao gestor a liberdade para investir nos mais variados ativos, a estratégia descorrelacionada também tem funcionado em tempos de crise, como mostrou matéria do InvestNews em março.
Captação líquida de R$ 49,5 bilhões
Os fundos de ações tiveram um desempenho excepcional na primeira metade do ano. A captação líquida foi de R$ 49,5 bilhões, sem nenhuma saída mensal de recursos ao longo da crise e com 21 meses ininterruptos sem resgate, consolidando a tendência observada já há algum tempo, segundo dados da Anbima.
O apetite crescente dos investidores por ativos de maior risco, mesmo em uma das piores crises desde a Grande Depressão de 1930, tem explicação: a combinação entre as taxas de juros no menor patamar da história, o que reduziu o apelo da renda fixa, e os bancos centrais inundando as economias com trilhões de dólares em estímulos contra a crise, o que empurra parte dos recursos apara a renda variável.
O levantamento da Morningstar fornecido ao InvestNews levou em conta fundos com patrimônio acima de R$ 30 milhões e número de cotistas superior a 100 na base da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com a primeira cota publicada antes de 26 de fevereiro, data inicial da amostra.
OS 15 MAIORES RETORNOS
Fundo de ações | Patrimônio do fundo | Retorno entre 26/02 e 07/07 |
Invexa Inter + IBOVESPA Ativo FIA | 66.318.478,00 | 37,74% |
XP MS Gbl Opportunities Advis FIC FIA IE | 320.036.822,00 | 34,00% |
Western Asset BDR Nível I FIA | 966.216.264,00 | 24,21% |
Vitreo Exponencial FIA IE | 122.187.045,00 | 21,33% |
Forpus Ações FIC FIA | 414.948.220,00 | 18,14% |
BB Ações Globais BDR Nível I FIC FIA | 244.498.292,00 | 18,05% |
Caixa Institucional BDR Nivel I FIA | 1.189.428.698,00 | 17,89% |
Caixa BDR Nivel I FIA | 327.404.422,00 | 17,51% |
BRAM BDR Nível I Plus FIC FIA | 73.955.485,00 | 16,75% |
It Now S&P500® TRN Fund ETF | 639.583.373,00 | 16,62% |
BRAM BDR Nível I FIC FIA | 240.288.608,00 | 16,34% |
Verde CSHG Global Equities FIC FIA IE | 176.030.468,00 | 16,24% |
CSHG Allocation Truxt Long Bias FIC FIA | 600.262.161,00 | 15,83% |
CSHG Alloc Truxt Long Bias II FIC FIA | 227.159.204,00 | 15,82% |
OS 15 PIORES RETORNOS
Fundo de ações | Patrimônio do fundo | Retorno entre 26/02 e 07/07 |
BRAM Bradesco H Petrobrás FIA | 33.864.726,00 | -27,41% |
Itaú Vértice Phoenix FIC FIA 2 | 443.089.286,00 | -27,43% |
Caixa Construção Civil FIA | 526.838.052,00 | -27,53% |
Safra Petrobrás FIC FIA | 43.262.358,00 | -27,62% |
Santander Petrobrás Plus FIC FIA | 37.153.306,00 | -27,63% |
Itaú Ações Petrobrás FIA | 209.542.542,00 | -27,82% |
Itaú Phoenix I FIC FIA | 549.472.976,00 | -28,08% |
Zenith Hayp FIA | 120.940.915,00 | -28,11% |
Itaú Institucional Phoenix FIC FIA | 1.795.562.621,00 | -28,17% |
BB Ações BB FIA | 328.290.065,00 | -31,06% |
Caixa Banco do Brasil Plus FIA | 128.035.724,00 | -31,10% |
Mauá Capital Ações FIC FIA | 243.924.966,00 | -34,26% |
XP Trend Ibovespa Alavancado FIA | 103.380.982,00 | -41,33% |
Alaska Black II BDR Nível I FIC FIA | 428.962.639,00 | -51,80% |
Alaska Black BDR Nível I FIC FIA | 1.704.099.468,00 | -52,05% |
Fonte: Morningstar