Finanças
5 fatores que podem impulsionar a retomada das ações de varejo
Aumento dos empregos formais, fim do clico de alta da Selic e término do conflito entre Rússia e Ucrânia são apontados entre eles.
O cenário para as varejistas não tem sido nada fácil. As ações dessas companhias amargam perdas na bolsa brasileira, a B3, impactadas, especialmente, pelo cenário macroeconômico mais conturbado com o advento da pandemia.
Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Via (VIIA3), por exemplo, atingiram em março de 2022 a menor cotação dos últimos dois anos (veja quadro abaixo), especialmente após a divulgação dos balanços referentes ao quarto trimestre de 2021, que trouxeram números decepcionantes. A empresa comandada por Luiza Trajano, por exemplo, registrou um prejuízo ajustado de R$ 79 milhões de outubro a dezembro, ante lucro de R$ 232,1 milhões divulgados um ano antes.
“No segundo semestre do ano passado, o setor perdeu mais da metade da capitalização de mercado, principalmente pela redução de disponibilidade de renda dos brasileiros, vindo pela pressão inflacionária e também pelo encarecimento do dinheiro, a partir da política de aumento de juros por parte do Banco Central”, explicou José Cassiolato, sócio da Nexgen Capital.
Recuperação das ações de varejo?
Mas será que há uma luz no fim do túnel para as varejistas da bolsa? Na avaliação de Murilo Breder, analista da NuInvest, o preço das ações das empresas do setor não deve voltar ao patamar anterior, mas, de qualquer maneira, elas devem enfrentar ventos melhores.
“Essas empresas foram muito ‘amassadas’ ao longo do segundo semestre de 2021. Quando a gente pensa na matemática básica, ou seja, se uma ação cai 50%, ela precisa subir 100% para voltar no mesmo patamar. No caso de Magalu, que caiu 82% (desde a máxima em novembro de 2020 até a mínima em 15 de março deste ano), por exemplo, mesmo que suba 100%, o papel irá recuperar somente uma fração do que caiu. Há espaço para se recuperar, mas não ao patamar de antes, porque o cenário agora é bem diferente”.
O fato é que, de acordo com especialistas, cinco fatores podem contribuir para uma recuperação dessas varejistas na bolsa, a maior parte relacionada a uma melhora do cenário macroeconômico brasileiro. Confira abaixo:
1 – Mais emprego
Para Cassiolato, da Nexgen Capital, os melhores indicadores de emprego, além da recuperação da informalidade, têm trazido otimismo para o segmento varejista.
A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que a taxa de desemprego no Brasil ficou em 11,2% para o trimestre encerrado em fevereiro. Foi a menor para o período desde 2016.
Além disso, os profissionais informais totalizaram 38,3 milhões no período, enquanto eram 38,6 milhões no trimestre anterior, o que levou a taxa de informalidade a uma leve redução de 40,6% para 40,2%.
“São dois elementos importantes para essa retomada que estamos acompanhando com a reabertura da economia e com o fim efetivo do que foi a pandemia e todas as suas medidas sanitárias”, diz Cassiolato.
2 – Queda da Selic após o pico
Inflação e juros menores contribuem para elevar o poder de compra das pessoas, além de tornar o endividamento de companhias com alta poder de crescimento, como é o caso das varejistas, mais barato. Por outro lado, o que vemos por aqui é uma taxa de juros ainda elevada (de 11,75% ao ano) para tentar conter a inflação.
Entretanto, no fim de março, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ser provável que a autoridade monetária esteja perto de encerrar seu ciclo de aperto com uma taxa Selic de 12,75% em maio, com sinais de que a inflação pode estar chegando ao pico.
“Se houver, de fato, uma reversão desse ciclo de alta e a Selic começar a diminuir ao final de 2022 e 2023, o novo cenário pode incentivar as empresas varejistas a seguirem andando na bolsa”, explicou Breder.
Mas vale um ponto de atenção. Com a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), na última sexta-feira (8), que subiu 1,62% em março, após alta de 1,01% em fevereiro, a queda nos juros pode demorar um pouco mais de tempo para se firmar, segundo avaliações do mercado.
Em comentário, André Perfeito, economista-chefe da Necton, escreveu que os dados do IPCA reforçam a a perspectiva de que a autoridade monetária terá que subir a Selic também na reunião de junho. “Ou seja, teremos uma alta de 100 pontos base em maio, fazendo a Selic subir para 12,75% e mais outra de pelo menos 50 pontos em junho o que fará a taxa chegar em 13,25%”, disse.
3 – Queda na curva de juros
Na próxima reunião em maio, o Banco Central deve elevar a taxa de juros em 12,75%, mas como o mercado já se antecipa à sinalização de um fim do ciclo de altas, a tendência é de alívio na curva de juros – que nada mais é que uma representação gráfica que reflete as taxas exigidas ou esperadas pelo mercado para determinados prazos no futuro.
O “gostinho” dessa queda foi sentido nas últimas semanas de março, por exemplo, com uma possível atenuação do conflito entre Rússia e Ucrânia, que contribuiu para uma recuperação dos papéis das varejistas na bolsa.
“A expectativa e o valor de empresas de alto crescimento (como é o caso do varejo) não está em como elas são hoje, mas o que elas podem ser daqui a cinco ou 10 anos. E quando a gente traz o fluxo de caixa para o valor presente, o valor delas aumenta com a queda na curva de juros. Esse é um dos motivos que para esses empresas tenham andando ao longo das últimas duas semanas de março”, explica Breder.
4 – Mais brasileiros na bolsa
Outro ponto mencionado por Breder é uma possível retomada de compra de ações do setor por gestores de fundos, já que, atualmente, com a Selic atrativa e a rentabilidade de alguns fundos performando abaixo do Ibovespa, muitos investidores de fundos optam por resgatar suas posições.
“Os fundos, então, têm reposicionado a carteira junto a ativos mais líquidos, que são justamente aqueles que os gestores internacionais estão comprando (como é o caso de commodities e bancos), porque como ainda há muitos resgates sendo feitos, eles querem ter maior flexibilidade na hora de vender esses papéis”.
Porém, com o fim do ciclo de alta na taxa de juros, esse cenário tende a mudar. “Na hora que esses gestores pararem de fazer resgates, muitos deles vão voltar a comprar ações que ficaram para trás, como é o caso das varejistas”, acredita Breder.
5 – Fim da Guerra
Embora seja um fator indireto, o preço das commodities tende a impactar o desempenho das varejistas. Desde que o conflito entre Rússia e Ucrânia começou, o preço de diversos insumos tem acelerado, como é o caso do petróleo. Isso porque a Rússia é um dos três maiores produtores da commodity do mundo, consequentemente, o conflito resulta em menos petróleo para ser distribuído, gerando um aumento nos preços simplesmente por um desequilíbrio na relação entre oferta e demanda.
Por outro lado, se houver um sessar fogo, os preços tendem a se normalizar. “O que é positivo para as empresas de varejo, porque elas gastam dinheiro, por exemplo, com transporte, e a queda no preço dos combustíveis, por exemplo, é favorável”, explica Breder.
Nesse cenário, a inflação também daria uma trégua, beneficiando o setor. “Obviamente, se a gente tiver um cenário de commodities mais confortável ou até mesmo um possível cessar fogo e um possível arrefecimento nos preços das commodities isso implicaria em menor inflação e um menor impacto no poder de consumo. E, obviamente, as empresas que foram prejudicadas por essa alta da inflação seriam beneficiadas”, explicou Gabriela Joubert, Analista-chefe do Inter.