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71% dos mais ricos investiram em ativos digitais em 2021, revela estudo

Segundo especialistas, atual conjuntura econômica muda este cenário e desafia a procura por investimentos menos tradicionais.

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A população mais rica do mundo viu sua renda crescer ainda mais em 2021. Boa parte apostou sua riqueza em investimentos alternativos: sete em cada 10 pessoas deste grupo (71%) investiram em ativos digitais no ano passado. Para especialistas consultados pelo InvestNews, o momento econômico favorável da época impulsionou o apetite por diversificação e maior rentabilidade em opções de menos tradicionais, mas a conjuntura econômica atual está mudando este cenário.

Os dados fazem parte do levantamento “The World Wealth Report 2022”, da consultoria Capgemini, que mostrou que a população dos mais ricos do mundo (alta riqueza líquida individual) cresceu 7,8% e sua riqueza avançou 8% em 2021, devido à recuperação das economias e investimentos.

Robson Gonçalves, professor de economia do ISAE/FGV, explica que, por ter sido marcado por menores taxas de juros em decorrência da pandemia, o ano passado foi propício a grandes oportunidades de especulação em diversos tipos de ativos, como commodities, criptoativos e ações, por exemplo. 

“Essas oportunidades de ganhos especulativos estão muito mais disponíveis e em uma escala maior para pessoas que já são ricas, portanto, criou-se uma oportunidade de ganhos rápidos, especulativos, mas que estão sendo rapidamente revertidos agora, a exemplo o declínio muito forte das criptomoedas”, alerta Gonçalves.

Allan Augusto Gallo Antonio, analista do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, destaca três pontos que podem estar por trás desse cenário: novidades de ativos, que tendem a atrair as pessoas no início; projetos razoavelmente sólidos e crescimento do populismo e do protecionismo em um cenário global de incertezas, com pessoas procurando maneiras de diversificar seus investimentos e preservar o seu poder de compra.

Gonçalves alerta, no entanto, que a elevação da taxa de juros americanos deve colocar fim a esse ciclo de alta especulação e criar uma situação na qual os ativos mais tradicionais, principalmente os de renda fixa, voltam a ser mais remunerados, o que cria uma redução desta possibilidade de ganhos com ativos altamente especulativos.

Mais ricos devem retornar a ativos tradicionais

Em função da pandemia, 2021 foi marcado por estímulos de governos, taxas de juros baixas, vacinação contra a covid-19, além de ganhos do mercado acionário internacional.

Só nos Estados Unidos, por exemplo, os três principais índices da bolsa de valores do país, Dow Jones, Nasdaq e S&P 500, encerram o ano com ganhos acumulados  de 18,73%,  21,4% e 27%, respectivamente. 

Em meio a este cenário, a maioria de indivíduos de alta riqueza líquida individual, segundo a Capgemini, buscou investimentos em ativos digitais, com maior concentração de pessoas abaixo dos 40 anos. 

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, explica que esse fenômeno se replicou na população mais jovem e rica por ela já ser adepta a esse tipo de investimento, oriunda de uma cultura de liquidez, de desapego e de proximidade com o universo digital.

Robson Gonçalves, professor de economia do ISAE/FGV, afirma que as famílias e pessoas que têm altos ganhos, em momento de especulação, têm um comportamento que é pendular: em momentos de relativa normalização e progressiva elevação da taxa de juros, principalmente a americana, elas procuram refúgio novamente nos títulos públicos dos Estados Unidos

Segundo Gonçalves, esse movimento é comum, devendo ter, portanto, uma maior procura por estes ativos tradicionais e seguros a partir de 2022 e 2023. Ele acrescenta que a próxima onda especulativa deve ocorrer quando, em algum momento do futuro, as taxas de juros voltarem a cair de forma significativa.

“Isso já vinha acontecendo, por exemplo, no último ciclo de especulação, que resultou na crise do subprime dos Estados Unidos, em 2007/2008. Foi um momento de alta especulação que depois foi seguido pela busca por ativos seguro”, afirma Gonçalves.

Momento atual estimula a migração de ativos

Em 2022, o cenário macroeconômico é diferente do ano passado. O aumento do preço de matérias-primas por causa da guerra na Ucrânia tem pressionado os preços no mundo, lockdowns na China provocaram gargalos de produção, além de questões locais que, em conjunto, fizeram a inflação se tornar uma grande preocupação e desafio para os bancos centrais.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a inflação em maio atingiu o maior nível em 40 anos, chegando a 8,6% no acumulado de 12 meses. Na zona do euro, a inflação alcançou a máxima histórica, de 8,1% em 12 meses. 

No mercado acionário, o índice S&P 500 registrou seu pior primeiro semestre de 2022 em mais de 50 anos, com alta da inflação e dos juros. Enquanto isso, nos últimos três meses, o Nasdaq caiu mais de 20%, no seu pior desempenho desde 2008.

Em meio a este cenário, especialistas citam uma migração de ativos por parte dos investidores.

Investimento da moda pode virar ‘patinho feio’

Eliseu Hernandez, líder de Gestão de Risco da Oby, explica que, naturalmente, a conjuntura de juros mais altos e menor liquidez faz com que investimentos de maior risco e investimentos alternativos fiquem menos atrativos, pois são os mais penalizados quando se pensa em taxa de desconto e custo oportunidade. “Pode acontecer que o investimento da moda vire o patinho feio”, aponta Hernandez.

Allan Augusto Gallo Antonio, analista do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, avalia que o mercado de capitais está consolidado, mas há sempre espaço para mudanças positivas. Segundo ele, é evidente que, com o acréscimo de novas possibilidades de investimento, a tendência é que haja uma pulverização maior na alocação das carteiras, mas, dado o potencial de crescimento dos mercados emergentes, a mudança não será feita em detrimento de uma das opções consolidadas.

“Há apetite ao risco, mas a recomendação de não colocar todos os ovos em uma única cesta continua sendo válida”, destaca Antonio.

Concentração de ricos na América do Norte

Ainda de acordo com a pesquisa da  Capgemini, a América do Norte manteve no ano passado a  liderança de indivíduos de alto patrimônio líquido, com essa população crescendo 13,2% na região, com riqueza elevada em 13,8%, além de alocar 32% de seus investimentos totais para ações em comparação com a média global, de 29%.

Hernandez explica que um dos motivos que faz com que essa região concentre a maioria dessa população e sua renda cresça é o fato de a renda individual estar relacionada com a capacidade de inovação e de agregar valor para outras pessoas. 

“Ambientes mais livres, menos burocráticos, com alto nível educacional são mais propícios ao aparecimento de pessoas nesse perfil. Países desenvolvidos apresentam tais características”, aponta Hernandez.

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, aponta ainda que essa região congrega acesso a todos os mercados do mundo, qualidade de vida, networking, oportunidades tanto no mercado financeiro, como na economia real.

“É tudo o que o investidor atual busca, principalmente os com alto poder aquisitivo, que querem sempre estar em evidência, e, sem dúvida, esse é o melhor local para ter acesso as melhores oportunidades, e deve continuar sendo pelos próximos anos esse polo de atração”, diz Alves .

Novo perfil de investidor: novo mercado de capitais?

O estudo “The World Wealth Report 2022” revelou ainda a ascensão de mulheres, LGBTQ+, millennials e geração Z no universo dos investimentos. 

Allan Augusto Gallo Antonio, do Mackenzie, aponta que a democratização da informação e a cidadania econômica, impulsionada pela adesão em massa das novas gerações, tendem, de modo geral,  a tornar o cenário de investimentos mais diversificado e participativo.

No entanto, segundo ele, a aparente correlação entre este perfil de investidores com tipos de investimentos pode ser algo complexo, especialmente quando as variáveis demográficas e sociais não são tão claras. 

“Uma das grandes virtudes do sistema de mercado é justamente não rotular as pessoas que participam dele. Acredito que a tendência é uma evolução geral e uma diversidade maior do perfil demográfico dos investidores, embora não arrisque a criar uma classificação fixa da qual seja possível identificar uma relação de causalidade tão clara”, defende Antonio.

Já Robson Gonçalves, professor de economia do ISAE/FGV, destaca dois movimentos atuais que, segundo ele, estão em paralelo: a preocupação com uma agenda ESG, que está se impondo por conta das mudanças climáticas, e a existência um movimento de busca de integração e diversidade, de geração Z., millennials, LGBTQI+ etc.

“Esses movimentos se completam, mas têm características próprias. Diria que os dois formam um todo, que é uma agenda que visa integrar pessoas e meio-ambiente. A diversidade, do ponto de vista das pessoas, e a sustentabilidade, do ponto de vista do meio-ambiente. São tendências altamente saudáveis que estão correndo em paralelo e se complementam”, aponta Gonçalves.

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