As ações das construtoras MRV (MRVE3), Mitre (MTRE3), Even (EVEN3) e Melnick (MELK3) encerraram o pregão desta terça-feira (18) em queda após divulgação das prévias operacionais referentes ao quarto trimestre de 2021. Mas o que não agradou o mercado?
Para Caio Ventura, analista da Guide Investimentos, a performance negativa não está relacionada, especificamente, à tese de investimentos das companhias, já que a maioria apresentou números operacionais “robustos”. A queda desta terça-feira, segundo Ventura, está associada ao sentimento do investidor em relação às perspectivas para o setor da construção civil em 2022.
“Alguns desafios para o setor estão bastante em foco e, inclusive, foram trazidos nas prévias, como a capacidade de estabilização das margens frente às pressões dos custos, mas também variáveis macroeconômicas como a trajetória dos juros e também política, por conta das eleições deste ano. Disto isso, o investidor olha o setor de construção com maior preocupação para o ano frente ao cenário mais adverso”, explicou.
Essa é a mesma análise de Ygor Altero, head de Real Estate da XP, ao reiterar que o cenário econômico está falando “mais alto”, em especial pelo avanço nas taxas de juros e o ambiente eleitoral, que cria incertezas sobre como a economia será conduzida. “Nada de notícia negativa do lado das prévias, os números parecem bons, até mesmo no segmento de média e alta renda, que o mercado esperava uma queda na velocidade de vendas mais acentuada”, disse Altero ao complementar que companhias atuantes no segmento de baixa renda, como a MRV, reportaram números resilientes.
Em relatório, as casas de investimentos apontaram os desafios do último trimestre do ano passado. A equipe de research da Levante Investimentos sinalizou que MRV, Mitre e Even apresentaram um aumento no volume de lançamentos, mas uma menor aceleração nas vendas líquidas, o que causou uma redução significativa nas vendas sobre oferta (VSO, índice de venda que determinado empreendimento imobiliário está atingindo) do período. Outro ponto de atenção, no caso da MRV, foi a queima de caixa “decepcionante” na avaliação do BTG Pactual.
Já a Melnick, que chegou a operar em alta em alguns momentos do dia, mas encerrou com desvalorização, reportou avanço nos lançamentos e nas vendas na análise trimestral, conforme mostrou a XP Investimentos, que espera ainda uma reação “ligeiramente” positiva das ações.
Confira abaixo a opinião das casas de análises sobre os números reportados pelas empresas:
Ticker | Cotação em R$ | Variação em relação ao pregão anterior (%)* |
MTRE3 | 6,44 | -3,74 |
MRVE3 | 10,76 | -2,18 |
EVEN3 | 6,08 | -1,78 |
MELK3 | 3,7 | -1,33 |
*Encerramento do pregão do dia 18 de janeiro de 2021
MRV
Em relatório, Gustavo Cambauva e Elvis Credendio, analistas do BTG Pactual, disseram que os resultados da MRV foram mistos. A MRV lançou R$ 2,23 bilhões em projetos (somente Brasil) durante o trimestre, alta de 5% no comparativo anual, em linha com as previsões do banco de investimento. A velocidade de vendas foi de 15% (ante 14% do terceiro trimestre de 2021 e 19% do quarto trimestre de 2020), ligeiramente abaixo da projeção de 17% do banco. “Os números operacionais no Brasil foram bons, com lançamentos sólidos, mas a velocidade de vendas ficou abaixo do esperado”.
Além disso, a queima de caixa de R$ 128 milhões (explicada pela aquisição antecipada de materiais de construção para evitar a escassez e a alta da inflação) foi “decepcionante” na opinião da dupla.
“Esperávamos uma geração de FCF (fluxo de caixa de financiamentos) no quatro trimestre, devido a grande venda de ativos. Ao todo, o consumo de caixa deve elevar a alavancagem da MRV, enquanto a margem bruta das operações de baixa renda deve permanecer pressionada, levando a um momento mais difícil no curto prazo”, disseram os analistas da casa ao reiterar classificação de compra para os papéis da empresa e preço-alvo em R$ 23.
Mitre
A Mitre, por sua vez, lançou aproximadamente R$ 1,1 bilhão no quarto trimestre de 2021, um crescimento de 146% em relação ao mesmo período de 2020. No entanto, a equipe da Levante Investimentos apontou que as vendas líquidas cresceram apenas 11%, totalizando R$ 314 milhões no quatro trimestre de 2021. “Com isso, a companhia passou de uma VSO de 41,8%, no quarto trimestre de 2020, para 19,2% no quarto trimestre de 2021”, diz o relatório da casa ao ressaltar que o patamar estabelecido no quarto trimestre de 2020 foi fora dos padrões e, portanto, muito difícil de ser mantido.
Ao ressaltar que a empresa registrou uma redução de 22 pontos percentuais na sua VSO, que resultou em um estoque de R$ 1,1 bilhão de reais, uma alta de quase 250%, os analistas da Levante ressaltaram que é preciso levar em consideração que os números de 2020 ficaram distorcidos por conta dos fechamentos que ocorreram nos primeiros trimestres do ano.
Além disso, a casa reiterou que patamar de quase 20% em VSO ainda é considerado saudável, visto que, em média, mais de 70% das unidades lançadas já foram vendidas e quase 80% estoque vem de projetos com menos de um ano. No entanto, a Levante fez uma ponderação. “Com certeza devemos ficar atentos principalmente aos próximos trimestres, visto que a companhia lançou uma quantidade gigante de unidades no quarto trimestre de 2021, em um cenário para 2022 que com certeza será mais desafiador que os anos anteriores”, reiterou.
Even
Ao mencionar que a Even terminou o último trimestre do ano passado com R$ 809 milhões lançados, ante R$ 482 milhões registrados em igual período do ano passado, uma alta de quase 70%, a equipe da Levante ponderou que as vendas líquidas não acompanharam e tiveram uma queda de 35% no período. Com isso, a companhia terminou o trimestre com uma VSO de 13%, uma redução de 14 pontos percentuais em relação ao quarto trimestre de 2020.
Em relatório, os analistas da Levante também ressaltaram que a companhia vendeu, no quartro trimestre de 2020, R$ 238 milhões de estoques do Rio de Janeiro, o que causou uma distorção no período. Sem considerar o Rio de Janeiro, “as vendas líquidas permaneceram constantes”, disse a casa.
A Even também teve uma redução significativa nas VSO de lançamentos, principalmente no quarto trimestre, de 36% para 25%, mas também já mostrou uma recuperação de 6 pontos percentuais. em relação ao terceiro trimestre. “Um ponto que merece atenção é a redução nas VSOs do estoque que estão em 9%, após seguidas quedas nos últimos trimestres”, alertou a casa de análise.
Melnick
Ygor Altero, head de Real Estate da XP Investimentos, e Renan Manda, analista-chefe do setor financeiro, apontaram que a Melnick reportou dados operacionais positivos no quatro trimestre de 2021, explicados por lançamentos que cresceram 142% no comparativo anual, atingindo R$ 213 milhões e totalizando R$ 808 milhões no acumulado de 2021, alta de 62% no comparativo anual.
Além disso, as vendas líquidas cresceram 97% na variação trimestral ao atingir R$ 195 milhões no quatro trimestre de 2021, ante os R$ 99 milhões reportados no trimestre anterior, e totalizando R$ 548 milhões em 2021, queda de 1,6% no comparativo anual.
“Assim, impactando positivamente a velocidade de vendas (VSO) no trimestre, atingindo 16% no quartro trimestre de 2021 versus 9% no terceiro trimestre. Além disso, o distrato atingiu 6% das vendas brutas, contra 8% no terceiro trimestre. Portanto, podemos ver uma reação ligeiramente positiva das ações”, explicaram os analistas.
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