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Finanças

As 10 ações que mais subiram em abril: especulação ou fundamento?

Com forte volatilidade, investidores se dividem entre ganhos fáceis e empresas resilientes

B3 Bolsa Ibovespa
Crédito: Shutterstock

O Ibovespa, principal índice da B3, teve um ganho acumulado de 10,25% em abril. E com muita luta, encerrou o último dia do mês ainda nos 80 mil pontos. O que para alguns se traduz em esperança, para outros é sinônimo de especulação. Abril foi o mês dos acontecimentos, com a Covid-19 colapsando o SUS, e estados como São Paulo, Rio de Janeiro sentindo os impactos, o mercado financeiro foi na contramão do sistema. “O país estava pegando fogo, um ministro que era considerado herói saiu e virou vilão. O governo não consegue ajudar empresas e famílias com os auxílios, e ainda assim a bolsa sobe, mas sem qualidade”, explica Luiz Guilherme Dias, CEO da Sabe Invest.

Para ele, o crescimento seria fruto de uma forte especulação, mas também de uma correção de mercado, onde a bolsa perdeu 30% em março e recuperou 10% em abril. No entanto, destaca que a perda do mercado em 2020 é irreversível. “Em 2019, a bolsa fechou o ano com alta de 32%. Todo esse ganho foi zerado em quatro meses”. Em um cenário de guerra, Dias afirma que o mercado se tornou especulativo e seletivo, onde existe muito jogo de compra e venda a curto prazo. Nesse cenário, apenas empresas com fundamento vão se dar bem.

No mês de abril, as dez maiores altas do Ibovespa foram: Via Varejo (VVAR3), B2W Digital (BTOW3), Marfrig (MRFG3), Cogna (COGN3), Lojas Americanas (LAME4), Natura (NTCO3), Yduqs (YDUQ3), SulAmerica (SULA11), Petrobras (PETR4), Localiza (RENT3). O InvestNews analisou junto à Sabe Invest o desempenho destas companhias.

Varejistas

O destaque positivo de abril foi o varejo, com duas empresas do setor na liderança. É o caso da Via Varejo (VVAR3), maior alta do mês, que teve um ganho acumulado de 73,86%. A empresa, que teve um resultado negativo em 2019, com um prejuízo de R$ 1,4 bilhão, estaria acumulando altas pelo movimento especulativo. É o que defende Dias, que aponta que os investidores enxergam na varejista a tentativa de seguir os passos da líder Magazine Luiza (MGLU3) no comércio eletrônico. Isso se fundamentaria nas trocas de conselho de administração, a procura pelo mundo digital, e a aquisição de uma empresa de logística em meio à pandemia. “O esforço é valido, mas ainda ineficiente. Via Varejo levaria 21 anos para pagar suas dívidas. No curto prazo é uma boa ação que se valoriza rapidamente, mas com fundamento fraco”, aponta o CEO da Sabe Invest.

Já a B2W Digital (BTOW3), que nasceu no mundo do comércio eletrônico, e possui uma dívida pequena, estaria em uma situação menos dramática que a Via Varejo. Dias define a B2W como uma empresa capitalizada, com fundamentos, e que está se preparando para ser comprada pela Amazon. “Isso pode até se concretizar no segundo semestre”, diz o especialista sobre a varejista que se valorizou 52,60% em abril.

As Lojas Americanas (LAME4) ocupam a 5ª posição do ranking. A varejista, que tem como braço de e-commerce a B2W, sofreu os impactos da quarentena, mas segundo Dias ainda deve ter bons resultados no seu balanço. Sua tradição e bons números seriam o fundamento que sustenta sua alta na bolsa.

Gigantes da educação

Ocupando a 4ª e 7ª posição, estão a Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3), que subiram 38,50% e 36,90%, respectivamente. Duas empresas que, segundo o especialista, tiveram forte crescimento em 2019, principalmente por aquisições. “O lucro da Cogna despencou em 2019, pelas mudanças do financiamento estudantil”, explica Dias. Contudo, a Cogna teve um crescimento acelerado nos últimos anos, em um mercado concentrado. Seus bons resultados seriam fruto de uma mistura de especulação e fundamento.

Para Dias, a Iduqs, está em um patamar melhor do que a Cogna, por ser uma empresa com pouca dívida, muito patrimônio e forte crescimento. “A Iduqs conquistou um lucro de R$ 640 milhões no ano passado, se desenvolveu também por aquisições, mas tem um ebtida parrudo e um bom retorno, o que da sentido a sua boa valorização na bolsa”, sustenta.

Mesmo com a quarentena, que incentivou a inadimplência no setor educacional, estas gigantes já surfavam na onde do ensino a distância (EAD) há muito tempo, aumentando suas chances de sobreviverem durante a pandemia.

Caixa Forte

Ocupando a 3ª, 8ª e 10ª posição, estão empresas que possuem um bom caixa. É o caso da Marfrig (MRFG3), um frigorífico, que teve um bom desempenho em 2019 e está enfrentando a crise com sucesso pelas exportações à China. A sua principal mercadoria, que é a carne, sustenta seus lucros, um forte fundamento para o mercado.

A operadora de seguros SulAmerica (SULA11) é outra com patrimônio enorme e dívida baixa, que continua crescendo apesar da pandemia. Sua principal ameaça é a inadimplência no setor de seguros. No entanto, Dias prevê bons resultados no seu balanço. “O fundamento do presente da companhia é ótimo, mas ainda desconhecemos o futuro” conclui.

Ainda no grupo das privilegiadas em abril estaria a locadora de veículos Localiza (RENT3), que fechou 2019 com R$ 800 milhões de lucro. “A empresa tem caixa suficiente para enfrentar a pandemia”, defende o especialista. O setor de transporte parou, mas a Localiza deve ficar confortável apesar das quedas. Outro fator que ajuda a empresa é seu histórico bom de gestão. “NO curto prazo se valoriza, mas deve sofrer impactos até o final do ano”, diz.

Bons Gestores

Enquanto algumas empresas são lembradas pelos seus lucros, outras se fundamentam na sua boa administração. É o caso da Petrobras (PETR4), que apesar de ser um papel especulativo, com uma dívida grande, melhorou sua gestão nos últimos anos. “Depois do governo Dilma, ela teve CEOs de qualidade, se tornou uma empresa de fundamento, apesar de ficar a mercê das mudanças do preço do petróleo internacional”, defende Dias.

Como o petróleo deixou de ser sinônimo de riqueza, ele avalia que a Petrobras não deve ter lucro em 2020. A alta em abril estaria relacionada com o preço baixo das ações, o valor tradicional da companhia e a expectativa dos investidores. Entre as maiores altas do mês, a petroleira está na nona posição.

Na 6ª posição está a fabricante de cosméticos brasileira Natura (NTCO3), conhecida por muitos por ser um exemplo de governança e sustentabilidade. “É uma empresa do bem, capitalizada com R$ 5 bilhões em caixa, o que é invejável”.

AçõesValorização
Via Varejo73.86%
B2W DIGITAL 52.60%
MARFRIG 45.08%
Cogna 38.50%
Lojas Americanas38.22%
NATURA 38.00%
YDUQS 36.90%
SUL AMERICA 32.40%
PETROBRAS 31.90%
LOCALIZA 29.96%

Sem perspectivas

Apesar da bolsa ter subido em abril, Dias acha difícil projetar os próximos meses. “Não sabemos se vamos melhorar em maio”, justifica e alega que tudo pode acontecer. “Outro ministro pode cair, a economia dos EUA piorar, vemos apenas a Índia e a China retomando seu crescimento. E não temos nem ideia do pico da pandemia”, justifica.

Por estes motivos, falar do mês de maio seria arriscado. Para Dias, a única certeza é que apenas em setembro teremos um movimento da bolsa não especulativo. Até agosto, deve reinar a volatilidade. “Com sorte fechamos 2020 nos 85 mil pontos, perdendo no ano 26%”, avalia. Neste contexto, apenas empresas com bom fundamento e caixa vão sobreviver, comprando aquelas que irão a falência.

As resilientes

Dias explica que existem duas empresas, que apesar da crise, não serão afetadas porque possuem ótimos fundamentos. É o caso da Raia Drogasil (RADL3) e da WEG (WEGE3). “Se o mercado financeiro fosse perfeito e sem distorções estas empresas deveriam estar entre as maiores altas”, conclui.

Apesar da crise, estas companhias mostraram ao que vieram. É o caso da WEG, cujo lucro no 1TRI subiu 47% em relação ao mesmo período do ano passado. Já a Raia Drogasil, se adapta ao mundo online sem ter baque nas receitas, ampliando a sua capilaridade. “A WEG é uma empresa admirável, mas obviamente com valor de longo prazo. Um investidor sempre vai optar por uma Via Varejo, que pode saltar 70% em um mês, deixando de lado empresas realmente resilientes”, alerta.

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