Na última terça-feira (1), a B3 anunciou o lançamento de três produtos, a partir de 27 novembro, que possibilitarão aos investidores negociar os chamados grandes lotes, ou blocos, de ações de forma apartada ao livro central de ofertas.
A possibilidade de negociação de grandes lotes de ações em ambiente paralelo foi uma das novidades regulatórias anunciadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no ano passado.
Na segunda-feira, a autarquia divulgou a primeira lista oficial, a ser atualizada quadrimestralmente, com 946 ativos que se enquadram, inicialmente, no modelo.
Conforme a CVM, a definição de grande lote varia de acordo com o ativo e seu volume diário de negócios. Para Petrobras e Vale, por exemplo, as ações com maior liquidez da bolsa, grandes lotes são, nesse primeiro momento, operações de no mínimo 8,5 milhões de reais em ações.
A negociação de lotes relevantes de ações ocorre, normalmente, por investidores de maior porte, como gestoras de ativos. Atualmente, esses movimentos podem ser realizados por meio de um leilão durante o pregão, aberto ao mercado, ou pelas chamadas ofertas diretas — operação entre um comprador e um vendedor específico com base nos preços do livro central.
“Essas formas de negociação que o mercado utilizava não eram as mais eficientes”, disse Marcos Skistymas, diretor de produtos listados da B3, a jornalistas. Para ele, alguns dos benefícios dos novos produtos da empresa são a confidencialidade dos termos da operação com grandes lotes até que ela seja de fato concretizada e a eficiência na formação de preço.
Os produtos
Em ofício circular publicado nesta terça-feira, a B3 anunciou o lançamento de três produtos. Um deles é o “Midpoint Order Book”, que permitirá a negociação de grandes lotes de ações no preço médio entre a melhor oferta de compra e a melhor oferta de venda do livro central.
Skistymas disse que a ideia é que cada produto anunciado resolva uma dificuldade enfrentada atualmente pelos clientes da B3, e que o “Midpoint Order Book” deve funcionar para ativos de maior liquidez, que já têm uma formação de preço eficiente.
Outro produto é o “Book of Block Trade (BBT)”, que funcionará como um livro de ofertas paralelo, exclusivo para grandes lotes, que não ficará visível a todo o mercado. Também será possível, segundo a B3, negociar com ágio ou deságio em relação ao livro central, embora os chamados túneis — limites que controlam os preços — continuem.
Para Skistymas, o produto “se adequa àquela dinâmica onde é necessário uma maior flexibilidade de preço”.
O terceiro produto é o “Request for Quote”, com o qual o investidor poderá solicitar aos agentes de mercado cotações de preço para um negócio. A ideia, de acordo com o diretor, é que o produto funcione em transações com restrição de tempo e que envolvem ativos de menor liquidez.
“O sistema da B3 vai olhar todas as respostas que a minha requisição recebeu e, baseado nessas respostas, eu vou fazer o ‘matching’ com a requisição”, disse Skistymas, acrescentando que o negócio sairá no melhor preço oferecido. Como no BBT, o produto também oferece possibilidade de ágio e deságio ante o livro central, mas respeitando os túneis.
Concorrência
Atualmente, só a B3 tem autorização da CVM para oferta de produtos que permitam a negociação paralela de grandes lotes.
Outras empresas, como Itaú BBA e BTG Pactual, anunciaram desde 2022 sistemas próprios para negociação de grandes lotes, porém, segundo a CVM, essas ferramentas são apenas serviços de busca de contrapartes, não necessitando do aval regulatório expedido à B3 neste mês.
“A gente sabe que existem empresas que estão se movimentando, a regulação abriu a possibilidade de trazer novas plataformas para negociação de blocos”, disse Skistymas. “Nós estamos nos posicionando de forma a entregar valor para os clientes”, acrescentou.
Em estimativas feitas durante a elaboração da regra para grandes lotes, a CVM chegou a projetar que cerca 10% do volume da bolsa estaria apto à negociação no modelo, enquanto a B3 citou aproximadamente 20% de volume elegível.
Skistymas disse não ter como quantificar esse patamar hoje, uma vez que parte dos grandes lotes é, atualmente, fracionada pelos investidores em pequenos negócios, de modo a não revelar suas intenções ou impactar menos o preço, por exemplo.
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