Nascido no Rio Grande do Sul, o brasileiro Alfonso Cardoso se naturalizou uruguaio e administra uma produtora de cannabis medicinal no país vizinho há 4 anos. O médico Alfonso Cardoso mudou-se para o Uruguai há 15 anos com o objetivo de estudar medicina.
Interessado em terapias alternativas, ele decidiu unir sua expertise de médico para cultivar e produzir cannabis, e agora pretende abrir capital na B3, bolsa de valores brasileira, o primeiro IPO de cannabis do país. Atualmente, os brasileiros só podem investir em cannabis através de fundos de investimentos de gestoras do exterior.
“A gente está se preparando para os próximos 12 a 24 meses fazer um lançamento da empresa na bolsa de valores. A gente espera a finalização da auditoria das empresas que são sociedades anônimas no Uruguai para transformá-las em uma empresa brasileira de capital aberto e poder entrar com essa empresa na B3”, disse.
Alfonso Cardoso, CEO PUCMED
Ele diz que recursos provenientes da emissão de ações da Produtora Uruguaia de Cannabis Medicinal (PUCMED) serão usados no desenvolvimento da empresa, ampliação de laboratórios, pesquisa, produção de sementes e desenvolvimento de centros de acolhimento de pacientes no Brasil.
Na primeira etapa do lançamento do IPO, a empresa busca apenas investidores qualificados, ou seja, com investimentos acima de R$ 1 milhão e com certificados do conhecimento em operar no mercado financeiro, para atrair mais investimentos. Posteriormente, eles pretendem abrir a compra de ações para os pequenos investidores.
Brasil atrasado
A legislação brasileira não permite o cultivo da planta.Também não é possível exortar a planta, sendo autorizado apenas o consumo à base de substâncias da cannabis, como o canabidiol. O uso dessas substâncias é permitido apenas com recomendação médica.
O cannabis é uma opção terapêutica que não cura doenças, mas dá qualidade de vida aos pacientes que sofrem de dores crônicas, ansiedade, depressão, mal de Parkinson, esclerose múltipla e epilepsia, por exemplo.
O mercado da cannabis medicinal poderá atingir US$ 30 bilhões ao ano no Brasil a partir de 2030, segundo os dados da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann). Os diversos produtos com as propriedades terapêuticas poderiam beneficiar e reduzir sintomas de pelo menos 18 milhões de brasileiros.
Como surgiu a ideia de investir em cannabis
Cardoso aproveitou a segurança jurídica do Uruguai, que foi o primeiro país do mundo a legalizar a cannabis em 2013, para criar a startup de cannabis medicinal, unindo a expertise da área médica com a produção de cannabis.
“O caminho era construir uma empresa de biotecnologia. A gente conseguiu as primeiras habilitações para produzir o cânhamo industrial, que é a diferença de uma planta de cannabis com até 1% de THC. A gente começou como uma produtora para se tornar uma empresa com um nome de qualidade na produção de cannabis e acabamos indo mais em direção a área farmacêutica do uso da cannabis medicinal para tratamentos”, afirmou o médico.
Com a produção toda concentrada na Zona Franca de Florida, no Uruguai, cerca de 100 km de Montevidéu, a produtora conta com uma área com 15 hectares para o cultivo de flores de cannabis para uso medicinal. São 11.000 m² de estufas climatizadas, com produção semihidroponia, e 10.000 m² de área aberta para cultivo ecológico desenvolvido somente com produtos autorizados pela União Europeia.
Esse é o primeiro ano de faturamento da startup, com crescimento real. A estimativa é que até o fim do ano entrem no caixa US$ 11 milhões, e entre US$ 80 e US$ 95 milhões nos próximos 3 anos.
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