A Circle Internet Group e alguns de seus investidores pretendem arrecadar até US$ 624 milhões em uma aguardada oferta pública inicial (IPO), à medida que empresas de criptoativos recorrem cada vez mais ao mercado de capitais para captar recursos.

IPO aguardado desde 2021

A empresa com sede em Nova York — responsável pela segunda maior stablecoin do mercado, a USDC — e alguns de seus acionistas pretendem oferecer 24 milhões de ações por um valor entre US$ 24 e US$ 26 cada, segundo documento protocolado na Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) nesta terça-feira (27).

A Circle, liderada por Jeremy Allaire, busca abrir capital desde pelo menos 2021, quando anunciou uma fusão com uma empresa de propósito específico (SPAC), que posteriormente foi cancelada.

Segundo cálculos da Bloomberg, a oferta pode avaliar a emissora de stablecoins em cerca de US$ 5,65 bilhões no topo da faixa de preço. Considerando opções de ações e unidades de ações restritas, a avaliação totalmente diluída chegaria a aproximadamente US$ 6,7 bilhões.

Empresa bilionária

Essa avaliação representa uma redução significativa em relação a valores anteriores da Circle. Após uma rodada de financiamento em 2022, a empresa foi avaliada em US$ 7,7 bilhões, e a fusão fracassada com a SPAC naquele mesmo ano teria avaliado a companhia em US$ 9 bilhões.

A quantidade de negócios envolvendo empresas de criptoativos e companhias listadas em bolsa aumentou desde a eleição de Donald Trump, em novembro, visto que os laços do presidente com o setor indicam uma possível redução da incerteza regulatória. Em abril, a SEC declarou que, em geral, stablecoins não são consideradas valores mobiliários.

Regulamentação

A Circle está protocolando seu pedido de abertura de capital no momento em que a legislação sobre stablecoins avança no Congresso americano, o que, se aprovada, pode impulsionar o investimento institucional nesse mercado.

No entanto, a empresa alerta em seu documento que, além dos riscos associados à operação e concorrência em um setor novo e de rápida evolução, a falta de regulação federal pode levar à classificação de suas stablecoins como valores mobiliários, o que afetaria materialmente seus negócios.

Concorrente da Tether

Fundada em 2013, a Circle se tornou a principal concorrente da maior stablecoin do mundo, a Tether. Ao longo dos anos, a Circle se diferenciou por afirmar que é mais regulada que a Tether e oferece maior transparência sobre suas reservas.

Stablecoins são criptomoedas atreladas a outro ativo, normalmente o dólar.

Segundo o documento protocolado, havia US$ 60 bilhões em circulação da stablecoin USDC em 28 de março.

Turbulência na abertura de capital

A empresa também enfrentou turbulência em 2023, quando o Silicon Valley Bank — onde a Circle mantinha parte de suas reservas — entrou em colapso. A Circle conseguiu recuperar seus depósitos, mas sua capitalização de mercado — valor total da moeda em circulação — levou meses para se recuperar da crise.

Os maiores acionistas da empresa incluem entidades ligadas à Accel, Breyer Capital, General Catalyst, IDG Capital, Oak Investment Partners e FMR, segundo o documento. A ARK Investment Management, empresa focada em tecnologia e fundada por Cathie Wood, demonstrou interesse em adquirir até US$ 150 milhões em ações na oferta pública.

A Circle reportou um lucro líquido de US$ 156 milhões sobre uma receita de US$ 1,68 bilhão em 2024, comparado a um lucro líquido de US$ 268 milhões sobre US$ 1,45 bilhão em receita no ano anterior, conforme os dados do documento.

O IPO será liderado por JPMorgan Chase, Citigroup e Goldman Sachs. A precificação da oferta está prevista para o dia 4 de junho, de acordo com documentos obtidos pela Bloomberg News. A empresa deverá ser listada na Bolsa de Valores de Nova York com o símbolo CRCL.