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Com alta de 90%, Azul deve fechar semestre como maior alta do Ibovespa

Especialistas citam cenário macro e renegociação de dívidas como fatores de impulso para AZUL4.

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A ação da Azul (AZUL4) caminha para fechar o semestre como a maior valorização do Ibovespa, em alta de 90% na primeira metade de 2023. Especialistas destacam o ambiente macroeconômico e o bom momento vivido pela empresa, especialmente após renegociações de dívidas. No entanto, eles alertam para a expectativa de volatilidade e as dúvidas que ainda permanecem sobre as perspectivas para o papel.

Até o fechamento desta terça-feira (27), a ação AZUL4 acumulava alta de 90% no ano, a R$ 20,94, depois de ter encerrado 2022 em R$ 11,01. Na máxima do ano, no dia 21 de junho, o papel chegou a atingir R$ 21,76, acumulando naquele momento uma alta de mais de 97% em 2023 até então.

Especialistas citam diversos fatores que puxaram a ação para cima nos últimos meses, como a queda do dólar, que reduz os custos da empresa. “A gente também vê o combustível, que representa quase 40% dos seus custos totais, tendo uma queda bem considerável, fazendo com que as despesas também venham a se controlar”, cita Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club.

Avião da Azul se prepara para pousar no aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro 21/1/2019 REUTERS/Sergio Moraes

A ação tem sido ajudada também por perspectivas melhores do cenário econômico, com o mercado aguardando a queda da taxa Selic e um ritmo melhor que o esperado da atividade da economia

“O mercado passou a precificar melhor que os juros não vão ser tão altos. E, por conta disso, o custo financeiro das empresas também não vai ser alto”, comenta Heitor Martins, estrategista de investimentos da Nexgen Capital, acrescentando que, “por conta disso, se espera resultados melhores, margens melhores dessas empresas“. 

Nesse contexto, Bassotto, do Simpla, destaca que, “do lado do faturamento, a gente vê as empresas com uma demanda aquecida, a receita por assento atingindo patamares recordes”. 

A Azul registrou alta de 8,3% na demanda por seus voos em maio na comparação com o mesmo período de 2022. A oferta de voos da empresa subiu 5% no mês passado contra um ano antes, segundo dados operacionais, enquanto a taxa de ocupação ficou em 79,8%, avanço de 2,5 pontos percentuais ano a ano.

Alívio para dívidas

Além dos fatores macroeconômicos, especialistas destacam especialmente as renegociações de pagamentos como os principais fatores de impulso para AZUL4 em 2023.

Em março, investidores de Azul repercutiram um acordo com arrendadores de aeronaves que deve permitir que o fluxo de caixa da empresa seja positivo em 2024. “As ações da Azul acumulavam queda em 2023 até o início de março, quando divulgou um acordo com os arrendadores para renegociar seus pagamentos de leasing, o que ajuda a aliviar a necessidade de capital em 2023“, comenta Alexsandro Nishimura,  economista e sócio da Nomo.

“Este foi o grande ponto de inflexão para o papel, que a partir de então recuperou as perdas acumuladas nos primeiros meses e ganhou novo impulso a partir de maio, com uma série de fatores atuantes.”

Alexsandro Nishimura,  economista e sócio da Nomo

Em junho, a Azul lançou ofertas para troca de títulos de dívidas com vencimentos em 2024 e 2026 por papéis que expiram em 2029 e 2030, respectivamente, no movimento mais recente de um amplo plano de reestruturação da companhia.

“A gente viu o cenário do guia de alavancagem da empresa, tanto para 2023 quanto para 2024, um pouco mais confortável”, opina Bassotto. 

Por fim, o analista cita que “um outro motivo que a gente pode acrescentar (para a alta de AZUL4) se refere a algumas recomendações de banco, que antes estavam com papel no neutro e agora passaram para compra e aumentaram o preço alvo. Querendo ou não, isso traz mais liquidez para o papel, mais procura por ações da Azul, e consequentemente acaba impactando o preço”.

Recentemente, analistas do Bank of America (BofA) elevaram a recomendação das ações para “neutra” ante “underperform”, citando efeitos benignos da taxa de câmbio e dos preços do petróleo, bem como o plano de reestruturação.

Em seus últimos resultados, a Azul divulgou um prejuízo líquido ajustado de R$ 727,6 milhões no 1º trimestre de 2023, o que representa um recuo de 10% em comparação com o o 1º trimestre de 2022. A receita líquida operacional da empresa atingiu R$ 4,5 bilhões no trimestre, um salto de 40,3% na comparação anual, igualando assim expectativas de analistas consultados pela Refinitiv.

É hora de comprar AZUL4?

Apesar da forte alta, especialistas apontam muitas incertezas envolvendo a ação da Azul. Nishimura, da Nomo, aponta que, “com a forte alta acumulada no ano, as ações da Azul chegaram a um patamar muito próximo do consenso do mercado, restando pouco potencial de valorização, e a maior parte dos analistas têm recomendação neutra”.

Segundo levantamento da plataforma Valor Pro com 9 casas, 6 têm recomendação neutra para Azul: Santander Corretora, BTG, Ativa, Terra, Guide e XP. Já Ágora Investimentos e Itaú BBA têm recomendação de compra, enquanto Safra colocou o papel em revisão.

Martins, da Nexgen, pondera que “é sempre importante levar em consideração o perfil de risco do investidor para comprar uma ação com tanta volatilidade como a de Azul. E também o orçamento de risco“. 

Avião da Azul decola do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Bassotto, do Simpla, diz que a casa segue com visão negativa sobre Azul, mesmo após a sequência de elementos que vêm puxando a ação para cima. “Não é por causa da soma desses fatores positivos que nós do Simpla mudamos a nossa opinião sobre o setor e Azul especificamente”. 

“A gente continua vendo uma assimetria muito grande em relação ao risco. São empresas que, historicamente, passam muita dificuldade em ciclos econômicos ruins. É uma empresa que realmente ainda tem uma dívida muito alta, uma margem líquida muito apertada – mesmo que tenha melhorando um pouco.”

Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club

“Então, mesmo diante de um cenário muito mais amistoso para as companhias e para a Azul especificamente, a gente ainda não tem uma recomendação de compra para o papel, ficando de fora do setor”, finaliza o analista.

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