Se fosse modalidade olímpica, o salto da cotação do ouro nos últimos dias teria recebido o mais alto lugar no pódio. O valor do metal alcançou na última sexta-feira (1º) sua máxima histórica, num recorde que chegou a ser renovado na segunda-feira (4). Mas, a julgar pelo motivo que levou à disparada (a saber, expectativas sobre juros nos Estados Unidos), especialistas apontam que o mercado pode se preparar para mais máximas do ouro em 2024.
Na última sexta, o contrato futuro para fevereiro fechou a US$ 2.089,70 por onça-troy, depois de subir até a marca inédita de US$ 2.095,70 no intraday. Em ambos os casos, esses números superam o recorde anterior, de US$ 2.089,20 a onça em 7 de agosto de 2020.
Foi o maior nível já registrado pelo ouro, que chegou a ser renovado na segunda, quando foi além de US$ 2,1 mil na sessão. Em novembro, o metal precioso teve uma valorização de 3,16%.
O gatilho foi o consenso dos investidores sobre cortes na taxa de juros dos Estados Unidos em breve. Nesse cenário, a expectativa é de que, no médio prazo, o ouro deve atingir novos recordes.
“Com uma economia global mais lenta vendo os bancos centrais começando a cortar os juros, em meio às tensões geopolíticas, a direção parece destinada a continuar sendo para cima em 2024”
Adrian Ash, diretor de pesquisa da BullionVault
Com isso, os preços do metal precioso podem ir além de US$ 2,1 mil a onça-troy. Ao menos é o que prevê o ING para o ano que vem.
Segundo o estrategista-chefe de commodities Warren Patterson, do banco holandês, a expectativa em si de que o Fed deve começar a aliviar a política monetária em algum momento do próximo ano e até o final de 2024 é positiva para os preços do metal precioso.
“Juros mais baixos e dólar mais fraco devem fazer com que a procura aumente novamente, impulsionando o ouro para níveis recordes”, prevê Patterson, do ING. “O maior risco, porém, é de que as taxas nos EUA permaneçam mais altas por mais tempo”, pondera.
Disparada durante discurso de Powell
Aliás, o metal precioso alcançou o topo inédito na última sexta refletindo o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na tarde daquele dia.
“As falas dele ajudaram a intensificar as apostas de que o ciclo de aperto acabou. Mais que isso, a curva de juros já precifica queda em março e um corte total de 1,25 ponto em 2024”, explica André Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital.
Até então, o consenso entre economistas era de que o ciclo de afrouxo começaria em junho, enquanto apostas mais ousadas previam o início um mês antes, em maio. Seja como for, não se trata mais de uma questão de “se” o Fed irá cortar os juros, mas “quando”.
E foi exatamente essa confiança que içou o ouro, em um movimento alinhado à queda do dólar e nos rendimentos (yields) dos títulos soberanos dos EUA (Treasuries). Ao mesmo tempo, o Bitcoin (BTC) ultrapassou a barreira inédita dos US$ 40 mil.
“Isso nos diz que classes de ativos até então menosprezadas, como ‘pedras de estimação’ e ‘feijões mágicos digitais’, estão ressurgindo e alcançando preços mais elevados como alternativa a uma rápida reversão da política monetária”, comenta o estrategista sênior de mercados do Rabobank, Benjamin Picton, em relatório.
Mas, no curto prazo, nem tudo o que reluz é ouro
Porém, dada a resiliência da economia dos EUA frente ao ciclo de aperto de juros, um “pivô” tão repentino por parte do Fed é improvável. No caso, o mercado de ouro teria “colocado os pés sobre as mãos”, em análise feita pelo Julius Baer.
“Será que o presidente do Fed entregou ouro como presente antecipado de Natal?”
Carsten Menke, analista do Julius Baer
Para ele, essa dúvida explica o recuo nos preços do ouro desde segunda, quando registrou a maior queda percentual diária em um dia desde fevereiro. Já nesta terça-feira (5), na Comex, divisão de metais da New York Mercantile Exchange (Nymex), o contrato para fevereiro fechou em queda de 0,28%, a US$ 2.036,30.
Menke lembra que a recente recuperação nos preços do metal precioso foi impulsionada por especulações no mercado futuro – e não devido à busca por proteção em ativos seguros no mercado físico. “Ou seja, o ouro avançou à frente de si mesmo”, afirma.
Por isso, existe o risco de uma reversão, com a recente recuperação do metal precioso perdendo força, tal qual visto nesta terça.
“O ouro demonstrou mais uma vez o seu papel eficaz na diversificação dos retornos da carteira e na cobertura contra riscos”, afirmaram analistas do UBS em nota recente a clientes. Eles também alertaram contra a “perseguição” dos ganhos do ouro no curto prazo.
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