Enquanto aguardam pela divulgação do balanço do 4º trimestre de 2022 (PETR3 e PETR4), investidores seguem na expectativa sobre a distribuição de dividendos da Petrobras. Com projeções convergindo para números fortes, especialistas apontam que a grande dúvida do mercado é sobre o anúncio de distribuição dos proventos.
Após o resultado de R$ 46 bilhões no 3º trimestre, a Petrobras deve fechar o período seguinte com lucro de R$ 51 bilhões, segundo estimativa do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
Entre os especialistas do mercado, a expectativa também é de um resultado positivo forte. João Lucas Tonello, analista de investimentos da Benndorf Research, projeta que o lucro líquido anunciado será ao redor de R$ 50 bilhões, com uma melhora nos números do resultado financeiro. Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, estima um montante ao redor de R$ 44 bilhões.
“A dúvida não é sobre os resultados financeiros que devem ser pouco abaixo do 3º trimestre de 2022 por conta da menor venda de diesel no 4º trimestre, mas sim qual será a destinação do lucro líquido de R$ 44,5 bilhões ou próximo disso versus R$ 46,3 bilhões no 3º trimestre de 2022”.
Flávio Conde, analista da Levante Investimentos
O especialista lembra que, no 3º trimestre, “foram distribuídos R$ 3,35, equivalente a cerca de R$ 43,5 bilhões de R$ 46,3 bilhões de lucro líquido, ou seja, 94% de payout bem acima do mínimo de 25%”. “Se a Petrobras distribuir, de novo, 94% do lucro líquido, será comemorado pelos investidores e as ações subirão após o anúncio”, complementa.
Em 2022, a Petrobras distribuiu, até setembro, mais de R$ 173 bilhões em dividendos, segundo levantamento do TradeMap – um salto na comparação com os anos anteriores. Em 2021 inteiro, por exemplo, foram R$ 72 bilhões. Em 2020, R$ 6,6 bilhões.
Agora, o cenário político deixa dúvidas sobre o que deve ocorrer. Assim, André Fernandes, head de renda variável e sócio A7 Capital, diz que o maior foco do mercado nesta semana não será sobre os números da Petrobras, e sim as declarações da diretoria após a divulgação.
“O foco será na teleconferência, a atenção será total em relação ao que o novo CEO, Jean Paul Prates, pode falar nesse evento, principalmente em relação à política de dividendos”, comenta.
Conde, da Levante, também chama a atenção para a discussão política em torno dos dividendos da Petrobras. “Lula e integrantes do PT, principalmente, a Gleisi Hoffman, vem dizendo que a Petrobras não pode distribuir tantos dividendos porque teria que aumentar investimentos, principalmente, em refinarias e energia renovável”, diz.
“Então, há uma chance razoável que a distribuição de dividendos (payout) seja reduzida de 94% para 50% ou mesmo 25%. Entretanto, há uma expectativa com menor probabilidade que seria manter em 94% o payout pelos seguinte motivos: o governo federal tem 28,67% das ações do capital total da Petrobras e, assim, receberia 28,67% dos dividendos a serem distribuídos”, analisa Conde.
Tonello, da Benndorf, não acredita em uma interrupção da distribuição de dividendos pela Petrobras. “A situação fiscal do governo federal e a condição financeira confortável da Petrobras levam a crer que o pagamento de dividendos não irá cessar completamente“, acredita ele, embora também reconheça que “é muito difícil prever quanto será distribuído, dado que a companhia já cumpriu suas obrigações em relação à política de pagamento de dividendos para o ano de 2022″.
“Além disso, o novo diretor presidente já declarou que seus planos para a empresa incluem maior investimento, o que implicaria em menor distribuição de proventos aos acionistas“, diz o especialista.
Outras incertezas
Fernandes, da A7, acrescenta que, além do que será da distribuição de dividendos da Petrobras, os investidores também estarão de olho em falas sobre “mudanças na governança corporativa e política de preços dos combustíveis”.
Sobre os números do balanço em si, ele comenta que “o mercado espera um resultado forte para a Petrobras, já que o relatório de produção e vendas que foi divulgado no início do mês de fevereiro veio dentro das expectativas do mercado, com aumento na participação total do pré-sal, aumentando o número para 78%. Com isso o mercado espera uma forte geração de caixa”.
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