Dólar sobe, bolsa cai. Esta é uma das primeiras lições de quem acompanha o mercado financeiro do Brasil. E o mês de abril seguiu à risca esse ensinamento.
A moeda americana valorizou de 3,51% e liderou o ranking de rentabilidade no período. Já o Ibovespa teve retorno negativo de 1,70%. O S&P 500 também ficou no vermelho: -2,40%.
No acumulado do ano, a direção do dólar e da bolsa também é oposta: a alta de 6,83% no câmbio é quase proporcional ao tamanho da queda de 6,16% do mercado de ações desde janeiro. Nesse intervalo, o S&P 500 ainda acumula uma alta de 5,57% – feliz de quem tem algum ETF que acompanha a bolsa americana, como o IVVB11, já que somam-se aí os ganhos no câmbio e no índice.
De um modo geral, o movimento no Brasil reflete a falta de apetite dos investidores estrangeiros – que deixam de aportar dólares por aqui, ajudando a derrubar o real.
Dados da B3 mostram que o fluxo de capital externo em ações já listadas está negativo em mais de R$ 10 bilhões apenas em abril, até o fim da semana passada. No acumulado de 2024, essa conta está no vermelho em quase R$ 35 bilhões.
Para se ter uma ideia, em 2023, os gringos ingressaram cerca de R$ 45 bilhões no mercado secundário, depois de aportar o volume recorde de pouco mais de R$ 100 bilhões em 2022.
A pergunta que fica é: depois de inverterem a mão neste início de ano, o que esperar para maio – mês tradicionalmente conhecido pela “fuga de estrangeiros”?
Pedro Coutinho, sócio da The Hill Capital, responde: “É preciso acompanhar se haverá entrada de capital estrangeiro, dando fôlego à bolsa local”.
Maio vem aí
“Venda em maio e vá embora” é um dos mais conhecidos adágios do mercado financeiro. O sell in may and go away refere-se a um costume do século 19, quando banqueiros, empresários e aristocratas ingleses deixavam o mercado de lado para sair de Londres e aproveitar o início do verão.
Não que isso determine qualquer coisa no mundo real. Mas não custa olhar o passado do Ibovespa para lustrar a bola de cristal.
Um levantamento da Elos Ayta Consultoria, a pedido do InvestNews, mostra que desde 2019 a bolsa brasileira vem registrando meses de maio positivos. Em contrapartida, entre 2010 e 2018, o quinto mês de cada ano sempre foi negativo (veja gráfico abaixo).
Jason Vieira, economista do MoneYou, brinca: “O ‘venda em maio’ está acontecendo desde o início do ano”. E ele prevê que o período que se aproxima deve ser marcado por um volume financeiro ainda menor. Ondas de calor, pelo jeito, só mesmo no clima atmosférico. No do mercado financeiro, o inverno se abate.
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