Foi mais um começo de semana infernal para o investidor em Bolsa, naquele que parece ser o novo normal dos mercados financeiros desde que a crise do novo coronavírus se alastrou pelo mundo.
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Ao longo do dia, os gestores de algumas das principais instituições financeiras se dividiram na missão de minimizar o prejuízo nos portfólios, ao mesmo tempo que acalmavam os clientes, alguns deles enfrentando seu primeiro grande revés na vida no mercado de renda variável.
Em um único dia, as ações das empresas negociadas na B3 perderam R$ 432 bilhões em valor de mercado, segundo dados da Economática. Em cifras, esse é o maior prejuízo da Bolsa em um único dia desde o início do Plano Real, em 1994.
No Itaú Unibanco, o diretor de investimentos, Cláudio Sanches, bateu na tecla da paciência, discurso que vem sendo usado desde fevereiro para o mercado. Para ele, por pior que a situação se apresente, é melhor deixar o dinheiro onde está e manter a calma.
“As pessoas ficam preocupadas. Mas para o cliente que está com a alocação bem posicionada, a gente está falando para manter o dinheiro na Bolsa”, diz.
“A única recomendação diferente é para aquela pessoa que percebeu que não tem estômago para risco tão forte quanto imaginava. Nesse caso, é bem melhor sair do que ficar sofrendo”, afirma.
Para o executivo do Itaú, o investidor precisa encarar a Bolsa como uma aplicação de, pelo menos, 12 meses. “E em até um ano acreditamos que as coisas vão se acalmar”, afirma.
Tensão entre clientes de alta renda
O chefe de investimentos da TAG, Dan Kawa, diz que seus clientes passaram o dia “muito desconfortáveis, mas ainda serenos”. Acostumado a lidar com famílias com pelo menos R$ 10 milhões aplicados, Kawa diz que seu público encara os solavancos da renda variável com um pouco mais de naturalidade.
O que não acontece com boa parte do mercado. “Conversei com muitos colegas e eles estão se matando para segurar os investidores, que querem sair correndo da Bolsa.”
No Indosuez, o diretor-geral da área de investimento, Fabio Passo, realizou uma conferência com os investidores às 16h, no momento em que o Ibovespa ampliava as perdas para além de 10% (o índice fechou o dia com queda de 12,17%).
“Falei que sim, que a situação é grave, que o impacto que o coronavírus deverá ter na produção global vai gerar recessão e que a falta de acordo entre a Opep e a Rússia na questão do preço do petróleo teve um peso enorme na crise do dia. Mas, ao mesmo tempo, falei que não podemos ser irracionais nas nossas decisões e que fundamentos sempre prevalecem”, lembra ele, que ainda prefere esperar para traçar um cenário para os ativos brasileiros nos próximos meses. “Em Bolsa, é preciso fazer as coisas com cuidado.”
Fuga da bolsa
Para a coordenadora do curso de Economia do Insper, Juliana Inhasz, apesar dos esforços dos gestores, parte do novo investidor pessoa física que vinha participando da alta da Bolsa nos últimos meses deve deixar a renda variável.
“Eu vejo um efeito manada, que é quando todos correm juntos para o mesmo lado”, diz. “É preciso esperar as coisas se acalmarem. Mas quem entrou na Bolsa na alta só deve recuperar seu dinheiro no ano que vem.”