O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, elevou a taxa de juros do país em 0,75 ponto percentual, de 0,75% a 1%, para uma faixa entre 1,50% e 1,75%. Uma ala do mercado já previa um avanço dessa magnitude, embora o consenso aguardasse uma alta de 0,50 ponto percentual.
O comitê afirmou que a decisão foi tomada em apoio as suas metas que visam “buscar alcançar a taxa máxima de emprego e inflação de 2% no longo prazo”. A decisão foi quase unânime, com apenas um membro a favor do aumento de 0,5%.
Em comunicado divulgado na tarde desta quarta-feira (15), a autoridade monetária escreveu que a invasão da Ucrânia pela Rússia está causando “enormes dificuldades humanas e econômicas”, criando uma pressão adicional sobre a inflação que está pesando sobre a atividade econômica global.
O Fed também afirmou que os recentes lockdowns na China, com o objetivo de frear novos casos de covid-19, “provavelmente exacerbarão as interrupções na cadeia de suprimentos”.
O comitê disse ainda que a atividade econômica geral parece ter se recuperado após a queda no primeiro trimestre, mas que a inflação “permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços”.
Na última sexta-feira, o departamento de trabalho dos Estados Unidos divulgou que o índice de preços ao consumidor subiu 1,0% em maio, após avanço de 0,3% em abril – número acima do projetado pelo mercado. Economistas consultados pela Reuters, por exemplo, esperavam aumento de 0,7% para o período.
Visão do mercado
De uma forma geral, analistas do mercado consideram que a postura mais hawkish (manter as taxas elevadas) adotada no comunicado do Fed se mostrou necessária.
Para André Perfeito, da Necton, o Fed resolveu enfrentar mais “diretamente a inflação”. Entretanto, a subida dos juros acima do esperado pelo consenso do mercado não é uma “surpresa”, já que na última semana havia uma expectativa de avanços em proporções maiores.
“Há alguns dias o mercado vinha estressando e subindo a taxa de contratos mais longos. Essa alta está reorganizando a curva de juros por lá, sancionando a visão mais altista dos juros”, explicou Perfeito ao reiterar que a taxa básica nos Estados Unidos deve chegar a 4% no final do ciclo.
Na mesma linha, Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, afirmou que o comunicado da autoridade monetária mostra um tom mais austero. “Deixa claro que os Estados Unidos não estão se incomodando com a projeção de atividade caindo, além de uma possível recessão técnica ao longo desse ano, porque estão focando no combate a inflação”.
Étore Sanchez, da Ativa investimentos, projeta, com base nos sinais dados pelo Fed, que a taxa básica será elevada por mais uma vez em 75 pontos bases na próxima reunião, principalmente quando se leva em conta que o comitê “está fortemente comprometido em retomar a inflação ao centro da meta de 2%”. Nas duas reuniões seguintes, a projeção da casa é de um aumento de 50 pontos bases e ainda de 25 pontos bases nas duas últimas reuniões do ano.
Cruz avalia que essa postura mais dura pode estimular o Banco Central brasileiro e outros BCs a intensificarem a subida de juros. “Porque a maior economia do mundo está direcionando para esse lado”, diz.
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, esclarece que o ponto de atenção é se a subida de juros será eficaz, isso porque o mundo lida com a falta de abastecimento de produtos, especialmente pela China, o que tem ajudado a pressionar os preços, e não necessariamente uma demanda aquecida. “Nesse caso, os preços vão subir com os juros mais altos ou mais baixos, o que fica de atenção é quanto isso também pode refletir para 2023 no bolso do americano, podendo gerar algum tipo de recessão”.
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