O fundo imobiliário (FII) Hectare CE (HCTR11) cortou a distribuição de dividendos em 66% após uma crise gerada por calotes envolvendo Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs). De acordo com especialista ouvido pelo InvestNews, a crise foi provocada por estratégias arriscadas na gestão do fundo, falta de transparência e desafios na estruturação dos CRIs.
O dividendo que será pago aos cotistas na próxima sexta-feira (15) será de R$ 0,1705 por cota, enquanto o valor referente a julho foi de R$ 0,50 por cota.
O anúncio provocou uma queda no valor das cotas do fundo, que tem um pouco mais de 80% do seu patrimônio alocado em CRIs. Somente nos últimos dois dias, a queda da cota estava acumulada em mais de 22% até o fechamento desta terça-feira (12).
Mas a desconfiança do mercado em relação ao fundo não é de agora. No ano de 2023, o HCTR11 acumula queda superior a 61%, contra alta de 12% no mesmo período do Ifix, principal índice de FIIs da B3. No período de 12 meses até agora, o Hectare recua 62%, enquanto o Ifix sobe mais de 8%.
No início do ano, a cota custava mais de R$ 93. Já nesta terça, era negociada por cerca de R$ 35.
A Hectare Capital Gestora de Recursos Ltda, gestora do fundo imobiliário, disse, em nota, que “a distribuição de rendimentos do Fundo sofreu momentânea redução, em relação ao observado nos últimos meses, devido à restrição imposta pela diminuição do saldo contábil acumulado, em decorrência da remarcação em períodos anteriores de alguns ativos a valor justo pelas regras contábeis vigentes.”
Mozar Carvalho, sócio do escritório Machado de Carvalho Advocacia, destaca a falta de transparência da gestão. “O fundo HCTR11, que dominava o mercado em 2019, enfrenta desafios devido a estratégias arriscadas e falta de transparência aliadas a calotes e desafios na estruturação de CRIs, que resultaram em uma queda dramática no valor das cotas”, diz ele.
“A falta de transparência na gestão, evidenciada por atrasos na divulgação de resultados e relatórios ambíguos, exacerbou a desconfiança dos investidores, colocando o fundo em uma posição precária.”
Mozar Carvalho, sócio do escritório Machado de Carvalho Advocacia
O advogado ressalta que no mundo dos investimentos é crucial contar com uma legislação robusta e transparente, proporcionando segurança aos investidores e regulando as operações de mercado. “É vital que investidores busquem sempre o amparo legal para assegurar seus investimentos e direitos”, diz Carvalho.
O especialista em FIIS Nathan Octavio acrescenta que as informações divulgadas até o momento não dão muitos detalhes sobre quais ativos tiveram seu valor remarcado e nem a gravidade dessa remarcação.
“Espero que a Hectare dê mais detalhes no próximo relatório gerencial. Mas tudo indica que não haja, na prática, nenhuma novidade, mas sim apenas desdobramentos e consequências de todas as inadimplências e dificuldades que o fundo já vem enfrentando há muito tempo.”
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