Uma das maiores gestoras privada de patrimônio da China trouxe novas preocupações sobre a saúde do setor bancário paralelo do país depois de deixar de pagar vários produtos de investimento de alto rendimento.
A turbulência na Zhongzhi Enterprise Group, um conglomerado financeiro misterioso que administra cerca de 1 trilhão de yuans (US$ 138 bilhões), ganhou destaque depois que vários de seus clientes corporativos divulgaram pagamentos atrasados por uma unidade fiduciária.
Em um sinal de que autoridades chinesas estão preocupadas com um possível contágio, o regulador bancário criou uma força-tarefa para examinar os riscos da Zhongzhi, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
Embora pouco conhecida fora da China, a Zhongzhi está entre os maiores players da indústria de trusts do país, avaliada em US$ 2,9 trilhões, que combina características de banco comercial e de investimento, private equity e gestão de patrimônio. Empresas do setor captam economias de famílias ricas e clientes corporativos para oferecer empréstimos e investir em imóveis, ações, títulos e commodities.
Crise: do imobiliário ao financeiro
Os trusts chineses estão sob pressão há anos depois que reguladores começaram a reprimir os excessos do sistema bancário paralelo do país em 2017. Mas as dificuldades da Zhongzhi surgiram em um momento particularmente delicado para investidores, muitos dos quais já estão preocupados com o estado da segunda maior economia do mundo e seu mercado imobiliário.
Uma das maiores incorporadoras do país, a Country Garden, está à beira de declarar default, enquanto empréstimos concedidos por bancos chineses caíram para o nível mais baixo desde 2009 no mês passado, em um sinal de menor demanda de empresas e consumidores.
A unidade de trusts da Zhongzhi comprou participações em projetos imobiliários no ano passado, apostando em uma recuperação do mercado que até agora não se concretizou.
A confluência de riscos aumenta a pressão sobre o governo de Xi Jinping para fortalecer a confiança dos investidores. As bolsas chinesas caíram na segunda-feira, com o índice CSI 300 em queda pela quinta vez em seis sessões, e o yuan se desvalorizou para a cotação mais fraca este ano.
Embora os mercados tenham se consolado com as notícias da força-tarefa para a Zhongzhi, analistas do JPMorgan Chase alertaram que a turbulência pode contribuir para um “círculo vicioso” no financiamento imobiliário na China.
“O maior problema agora é como isolar os riscos associados ao grupo Zhongzhi para que isso não cause o colapso da confiança de toda a indústria de trusts. Se a situação continuar a piorar, a escala dos riscos não deve ser menor do que quando uma importante incorporadora imobiliária entra em default.”
Shen Meng, diretor da Chanson & Co., de Pequim.
Um total de 106 produtos fiduciários no valor de 44 bilhões de yuans entrou em default neste ano até 31 de julho, de acordo com o provedor de dados Use Trust. Os investimentos imobiliários representaram 74% em valor.
Três empresas disseram na sexta-feira que não receberam pagamentos de produtos emitidos por empresas ligadas à Zhongzhi, incluindo a Zhongrong International Trust.
A Zhongzhi, com sede em Pequim, foi fundada em 1995 por Xie Zhikun, que transformou a empresa em um império em expansão. Xie morreu de ataque cardíaco em 2021, quando o Covid-19 e os lockdowns desaceleraram a economia da China e aumentaram a volatilidade em seus mercados de capitais.
Embora seu substituto, Liu Yang, tenha prometido manter o foco estratégico da empresa nos negócios industriais e gestão de ativos, a desaceleração econômica e a crise do mercado imobiliário pesaram nas operações.
Sozinha, a Zhongrong Trust conta com 270 produtos, totalizando 39,5 bilhões de yuans com vencimento este ano, mostraram dados da Use Trust. O rendimento médio desses produtos foi de 6,88%, em comparação com a taxa de referência de depósito de um ano de 1,5% paga pelos bancos.
A Administração Reguladora Financeira Nacional, a Zhongrong Trust e sua controladora Zhongzhi Group não responderam a pedidos de comentário.
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