Finanças
Altas e baixas de outubro: CSN lidera ganhos e IRB confirma cenário crítico
Índice da B3 fechou outubro em queda de 0,69%; terceiro mês consecutivo de perdas
Aos “45 minutos” do segundo tempo, o Ibovespa zerou os ganhos e fechou outubro no vermelho. Após avançar 7,73% até a quinta-feira passada, o índice virou para a queda nesta semana conturbada.
O índice encerrou outubro em queda de 0,69% engatando o terceiro mês consecutivo de baixa, após recuar 4,80% em setembro e 3,44% em agosto. No ano o Ibovespa acumula perdas de 18,76%.
Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria, explica que o mês de outubro começou positivo acompanhando as expectativas com o pacote de estímulos americano, o que impulsionou também o mercado nacional.
A reabertura econômica e a esperança com os balanços do terceiro trimestre deram um fôlego a bolsa nas primeiras semanas. “As ações de bancos que estavam muito descontadas também tiveram fortes ganhos, isso ajudou o índice”, afirma.
No entanto, a incerteza tomou conta dos mercados nesta última semana revertendo o viés de alta. O Ibovespa perdeu os 100 mil pontos, as expectativas com o pacote americano foram frustradas e houve aumento de casos de coronavírus na Europa, nações como França e Alemanha voltaram ao lockdown.
Tudo isso acontecendo além de uma agenda cheia com a proximidade das eleições americanas, que ocorrem na terça-feira (3), reforçaram a volatilidade no mercado.
Apesar dos balanços trimestrais muitas companhias operaram no negativo com as incertezas lá fora. Segundo Espinhel, embora a bolsa perdeu a marca psicológica dos 100 mil pontos isso não se traduz em uma tendência de baixa a curto prazo. “A queda ocorre por conta da segunda onda de covid-19 e das eleições americanas. O mercado não gosta de incertezas”, defende.
Com isso ele descarta a possibilidade do Ibovespa voltar aos 75 mil pontos. O futuro ninguém conhece, mas a tendência de alta ainda está no radar. Tudo vai depender da tolerância do mercado a estes impasses.
Maiores altas
A maior alta do mês foi da CSN (CSNA3), que avançou 24,18%. Segundo Espinhel, o setor de siderurgia se favoreceu com a alta no preço do minério de ferro e a recuperação da indústria chinesa. “A China é o maior comprador de aço e minério, isso beneficia as empresas brasileiras enquanto a alta do dólar favorece as exportadoras”, aponta.
Além disso, nesta quinta-feira (29) a Moody’s reafirmou o rating B2 da CSN e alterou suas perspectivas da companhia de negativa para estável.
A segunda maior alta de outubro foi do Santander (SANB11), que valorizou 14,87%. Espinhel avalia que o setor financeiro estava bastante descontado no Brasil. Quando os bancos americanos começaram a apresentar seus balanços, com bons resultados, os investidores brasileiros se animaram acreditando que os bancos brasileiros poderiam replicar esta realidade. “Nas últimas semanas o setor financeiro teve forte alta e o Santander acabou pegando carona nessa expectativa”, afirma.
No entanto, o banco divulgou seus resultados do 3º trimestre e dividiu opiniões. O Santander Brasil registrou lucro líquido gerencial de R$ 3,902 bilhões no período de julho a setembro, um crescimento de 82,7% em relação ao trimestre anterior. E uma alta de 5,3% comparada ao mesmo período em 2019.
O mercado questionou as provisões para devedores duvidosos (PDD), de R$ 2,9 bilhões, considerando estas insuficientes. Aparentemente, a inadimplência deve aumentar em 2021 com o fim dos benefícios do governo, e o Santander tem maior exposição ao segmento de varejo.
A terceira maior alta foi da Weg (WEGE3), a ação subiu 13,35% em outubro. A empresa surpreendeu positivamente o mercado com o balanço do terceiro trimestre. A companhia teve lucro líquido de R$ 644,24 milhões, 54% maior do que no mesmo período em 2019.
O salto de 54% nos lucros fez o Bank of America (BofA) elevar o preço-alvo da ação de R$ 52 para R$ 90. Enquanto o BTG Pactual apontou em relatório que a ação está “inegavelmente cara” e manteve a recomendação neutra para a companhia aconselhando os investidores a esperar. No ano, a Weg é a maior alta do Ibovespa com ganhos de 119,73%.
Usiminas (USIM5) também avançou 8,24% em outubro repercutindo a melhora na indústria chinesa. A companhia teve um lucro líquido de R$ 198 milhões no terceiro trimestre de 2020 e reverteu os prejuízos trimestrais e anuais. “A Usiminas derrubou despesas e aumentou receitas”, reforça Espinhel.
Veja as maiores altas de outubro:
Ação | Alta |
CSN (CSNA3) | 24,18% |
Santander (SANB11) | 14,87% |
Weg (WEGE3) | 13,35% |
Usiminas (USIM5) | 8,24% |
Suzano Papel (SUZB3) | 7,63% |
Magazine Luiza (MGLU3) | 7,18% |
Braskem (BRKM5) | 7,13% |
Localiza (RENT3) | 6,23% |
Gerdau (GGBR4) | 5,11% |
Gerdau Metalúrgica (GOAU4) | 4,70% |
Maiores quedas
A maior queda de outubro foi do IRB (IRBR3). A ação recuou 24,20%. Embora a companhia tentou se recuperar por meio de um processo de reestruturação, assumindo seus erros e acertando contas, ainda é muito difícil conquistar novamente a preferência do investidor. Segundo Espinhel, na bolsa muitas ações estão a preço de banana e há muito papel barato no mercado. Então, na hora da escolha, o investidor opta por uma companhia mais sólida, deixando de lado o IRB, que ainda é um mar de incertezas.
A companhia deve publicar seu balanço do terceiro trimestre no dia 3 de novembro.
A segunda maior queda do mês foi da Cogna (COGN3) que recuou 22,28%. Para Espinhel a companhia segue o fluxo do setor de educação, que ainda tenta se adaptar ao formato EAD, e repercute a lentidão no processo de fusões e aquisições.
A Cogna ainda sente os impactos da recomendação do J.P Morgan em outubro de neutra para venda e a redução do preço-alvo da ação para R$ 5. Recomendação que comprova o cenário difícil para a companhia e reforça a cautela para os investidores.
Recentemente a Cogna anunciou que faturou R$ 365 milhões com vendas no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2021. Deste total foram R$ 158 milhões reconhecidos no terceiro trimestre de 2020. No entanto, o cenário para COGN3 ainda é muito volátil.
Caiu também a CVC (CVCB3), que acumulou queda de 21,83% no mês. A companhia é a segunda maior queda de 2020. Apesar de ser uma empresa sólida, a CVC não conseguiu se recuperar dos efeitos da pandemia. “A CVC depende das viagens e o lockdown na Europa além do risco de segunda onda atrapalham”, avalia o especialista. Enquanto a vacina da covid-19 não sair, a companhia continua sangrando com as incertezas.
Veja as maiores quedas de outubro: