Finanças
Ibovespa na semana: IRB se recupera, mas para CVC Brasil o futuro é nebuloso
Com risco fiscal, Trump e falta de alinhamento na política o índice tem quinta semana de queda consecutiva
Quinta semana de queda consecutiva para o Ibovespa, o principal índice da B3 recuou 3,08%. Foram múltiplos conflitos com ênfase na política e teto de gastos que afetaram diretamente no desempenho do mercado.
Murilo Breder, analista da Easynvest, explica que o caos se instalou a partir da preocupação dos investidores com o risco fiscal brasileiro. Essa tensão chegou no clímax no começo da semana após o anúncio do Renda Cidadã que seria financiado com recursos do Fundeb e precatórios.
O mercado não gostou nada do ocorrido e o ministro da Economia Paulo Guedes surgiu mais uma vez para amenizar a situação, reforçando que o governo não pretende financiar os programas sociais de forma duvidosa.
Houve um respiro para o Ibovespa, que também não durou muito. Nesta sexta-feira (2) explodiu outra bomba com o presidente Donald Trump anunciando que está com covid-19. A notícia preocupou o mercado sem falar que ele tem 74 anos de idade.
No Brasil a troca de farpas na política ressurgiu, desta vez com o ministro de Desenvolvimento, Rogério Marinho batendo o pé de que o ‘Renda Cidadã sai, com ou sem tento de gastos’. E Guedes retrucando furioso chamando o colega de desleal, despreparado e fura-teto.
Segundo Breder o mercado não sabe mais em quem confiar porque não é a primeira vez que Guedes fala algo mas não executa. “Falta alinhamento entre o governo, alguns políticos falam em gastar mais dinheiro, logo Paulo Guedes desmente, Bolsonaro endossa o comentário”, explica o analista.
E aos 45 do segundo tempo os bancos salvaram a semana após Bolsonaro assinar a Medida Provisória 1006 aumentando a margem do crédito consignado de 35% para 40% para aposentados e pensionistas do INSS. Os bancos representam um quarto do Ibovespa e a alta amenizou as perdas do índice.
Contudo Breder destaca que para a próxima semana o cenário é nebuloso. “Enquanto não houver um alinhamento no discurso do governo nada melhora. O cenário macro também não é bom”, avalia.
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Maiores altas
A maior alta da semana foi do IRB Brasil (IRBR3) que valorizou 12,83%. A resseguradora está tentando arrumar a casa após a confusão do primeiro semestre.
Breder explica que a companhia fez um follow on que deu certo, resolvendo 70% do problema com a Susep. E recentemente divulgou os dados do mês de julho, que apesar do prejuízo de R$ 62,4 milhões, foi melhor do que o projetado pelo mercado.
A companhia se esforça em comunicar que o pior já passou. Nesta semana o IRB anunciou uma captação de R$ 900 milhões de debêntures simples. E a agência de risco Standard & Poor’s avaliou a companhia com rating AAA e perspectiva estável. “Essa é uma excelente notícia para o IRB que vai captar mais dinheiro com uma taxa menor do que esperado”, afirma o analista.
Com a benção do Standard & Poor’s o IRB deve finalmente reunir os recursos para tampar o buraco que o follow on não conseguiu resolver completamente.
A segunda maior alta da semana foi da Embraer (EMBR3), a ação subiu 6,05%. A companhia valorizou após a Azul anunciar que recebeu certificação para operar um jato cargueiro construído pela Embraer. E tem mais três aviões que devem ser adaptados para o transporte de carga ainda em 2020.
Contudo, a companhia está envolvida em uma briga com os sindicatos para garantir a demissão de 2,5 mil funcionários que não aderiram ao programa de saída voluntária. A briga inclusive foi parar no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). “É difícil prever o resultado, mas se a Embraer for derrotada as ações podem voltar a cair”, reforça Breder.
A terceira maior alta da semana foi da CSN (CSNA3) que avançou 5,47% com a demanda de aço pela China, com recuperação em V. Influenciou também o fato do Credit Suisse recomendar a ação para compra com preço-alvo de R$19.
Veja as cinco maiores altas da semana:
Ação | Altas |
IRB Brasil (IRBR3) | 12,83% |
Embraer (EMBR3) | 6,05% |
CSN (CSNA3) | 5,47% |
Santander (SANB11) | 4,80% |
Weg (WEGE3) | 4,36% |
Maiores quedas
A maior queda da semana foi da CVC (CVCB3) que cedeu 11,16%. Após problemas contábeis a companhia divulgou finalmente os resultados do primeiro trimestre de 2020, que foram desastrosos, com prejuízo de R$ 1,13 bilhão.
Breder destaca que embora a situação complexa da CVC já tinha sido precificada pelo mercado, o segundo trimestre deve ser pior o que desanima os investidores. Se o passado condena, o futuro da companhia também não ajuda. Por um lado, as viagens corporativas devem ter mudanças se tornando dispensáveis, enquanto no cenário internacional a situação da CVC na Argentina também é complexa.
A segunda maior queda da semana foi da Ultrapar (UGPA3) com recuo de 9,68% Enquanto a CSN foi beneficiada pela recomendação de um banco, a Ultrapar foi prejudicada após o Bradesco BBI ignorar a companhia.
O banco anunciou uma ligeira recuperação no volume de vendas de combustíveis mas elogiou apenas a BR Distribuidora impactando o desempenho da Ultrapar. “Naquele dia as ações da empresa caíram 2,2% enquanto a BR Distribuidora subiu 0,4%. Movimentos antagônicos para o mesmo setor provocados pelo relatório”, explica Breder.
Outra que caiu foi a CCR (CCRO3), a ação cedeu 9,40% mesmo após anunciar a distribuição de dividendos. “Pesou a notícia de que podem existir erros contábeis”, afirma o analista.
O mercado que já conhece bem essa história, com precedentes como IRB e CVC não ficou nada contente. Afinal, será que a CCR está considerando lucros no pagamento de dividendos que não deveriam ser levados em conta?
Veja as cinco maiores quedas da semana: