Finanças
Ibovespa na semana: varejo se recupera e Eletrobras despenca sem privatização
Risco fiscal volta com força e pressiona mercados; bolsa brasileira tem segunda semana consecutiva de perdas
Segunda semana consecutiva de perdas para a bolsa brasileira, o Ibovespa acumulou declínio de 2,47%.
Nesta sexta-feira (22), o índice da B3 fechou em queda de 0,80%, aos 117.380,49 pontos. No ano, a baixa acumulada da bolsa é de 1,38%.
Entre os principais fatores da queda estão o risco fiscal e político que mais uma vez pressionam os mercados, em meio ao aumento de casos e mortes por covid-19 no Brasil e no mundo.
Segundo Matheus Kraft, assessor de investimentos e sócio do escritório Ikedo Investimentos, a decisão do Banco Central de abandonar o compromisso de manter a Selic baixa também impactou. Agora a perspectiva para o fim de 2021, é de juros entre 3% e 3,25%. “A inflação estava elevada e foi necessário um aumento na curva de juros para controlar isso”, explica.
Outro motivo foram as discrepâncias entre os candidatos à liderança da Câmara e Senado. Os ruídos sobre risco fiscal voltaram à tona após declarações do candidato à presidência do Senado Rodrigo Pacheco (DEM-MG) – apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro – de que será preciso sacrifício de premissas econômicas para manter o socorro às famílias durante a pandemia.
Com dúvidas se o auxílio emergencial vai ser prorrogado ou não, os investidores enxergam com preocupação a situação do teto de gastos.
Além disso, o avanço de casos de coronavírus e o endurecimento de restrições à mobilidade no estado de São Paulo -que responde por um terço da economia do Brasil – deixam um sinal de alerta. Kraft destaca também que as possíveis tensões com China e índia não foram bem recebidas pelo mercado.
No cenário externo, mesmo com Biden agora ocupando a presidência dos EUA, ainda não há notícias concretas sobre o pacote de estímulos. “Isso gera questionamentos sobre o auxílio de US$ 1,9 trilhão ser aprovado, com essa expectativa há forte volatilidade negativa para os mercados”, afirma.
Contudo, Kraft destaca que após o Ibovespa ter passado por um fluxo de alta desde novembro, finalmente devolveu um pouco desses ganhos. Isso também justificaria porque o investidor estrangeiro ainda permanece na bolsa brasileira.
O assessor de investimentos recomenda ter cautela nas próximas semanas, de olho nos desdobramentos fiscais. “É importante avaliar como os investidores vão reagir a estas mudanças para tirar o melhor proveito dos ativos da bolsa”, acrescenta.
Maiores altas
Entre os destaques positivos da semana, o varejo voltou a liderar com viés otimista para o setor. B2W (BTOW3) foi a maior alta, com valorização de 9,85%, seguida da Magazine Luiza (MGLU3) que acumulou ganhos de 8,47%.
Kraft explica que após o setor ter sido penalizado nos últimos meses com o movimento de rotação nos mercados e a preocupação do investidor sobre a performance do e-commerce pós pandemia, novamente o varejo vive um ciclo de retomada o que beneficiou as companhias.
Na 3ª posição está a Totvs (TOTS3) que avançou 7,20% na semana. O assessor de investimentos destaca como principal motivo da alta, a disputa bilionária da companhia com a Locaweb para adquirir a empresa de marketing digital RD Station. “A companhia é bem cotada a médio e longo prazo e isso trouxe ânimo para o papel”, afirma.
Ainda entre as maiores altas, a Suzano (SUZB3) valorizou 5,25%, em função da maior demanda de celulose da China. Os estoques do país asiático estariam reduzidos, o que estaria impulsionando mais exportação de celulose dos players brasileiros. Segundo Kraft, o dólar elevado no patamar de R$ 5,48 também favorece a companhia. “Papel e celulose será um setor em voga para 2021”, reforça.
Veja as cinco maiores altas do Ibovespa nesta semana:
Ação | Alta |
B2W (BTOW3) | 9,85% |
Magazine Luiza (MGLU3) | 8,47% |
Totvs (TOTS3) | 7,20% |
Suzano (SUZB3) | 5,25% |
Banco BTG Pactual (BPAC11) | 4,65% |
Maiores quedas
No lado oposto do Ibovespa, o destaque negativo foi da Eletrobras, as ações preferenciais (ELET6) e ordinárias (ELET3) da companhia recuaram 11,57% e 11,29%, respectivamente.
Após fala do candidato à presidência do Senado Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de que a privatização da companhia não está entre suas pautas principais, os papéis derreteram na quinta-feira. Frente as incertezas sobre a desestatização, o Bradesco BBI reduziu a recomendação dos ativos ELET6 de outperform para neutra.
Enquanto outros especialistas do mercado apontaram que a Eletrobras tem 90% de chances de ficar como uma empresa estatal. “Essa expectativa de privatização sem avanços nem dados concretos acaba sendo negativa para a ação”, explica Kraft.
Contribuíram também para a queda das ações ruídos sobre possível sinalização do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, de que o projeto de lei de privatização da companhia poderia ser aprovado no Congresso até junho.
Kraft acrescenta que os problemas recentes com o apagão no estado do Amapá colocam a companhia em uma situação complicada. “O investidor precisa aguardar notícias sólidas sobre a privatização para se posicionar”, aconselha.
Ainda entre os destaques negativos a Cyrela (CYRE3) cedeu 9,03%. Segundo o assessor de investimentos a decisão do Banco Central de que os juros vão subir novamente não foi bem recebida pelo setor. “Juros elevados têm um impacto negativo para a construção civil com encarecimento do crédito“, aponta.
No entanto, a longo prazo a visão de Kraft sobre a Cyrela ainda é otimista, por ser uma empresa sólida, com bons fundamentos. “A retomada dos juros terá apenas um impacto pontual na ação”, defende.
Veja as cinco maiores queda da semana: