É possível medir a ansiedade dos investidores? Não é de hoje que um “termômetro” do mercado dá pistas sobre as emoções que mexem com o preço dos ativos. O VIX, também conhecido como “índice do medo”, voltou a chamar atenção esta semana, enquanto o mundo temia o avanço da epidemia do coronavírus para além do território chinês.
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Criado na década de 1990 na bolsa de opções de Chicago (Chicago Board Options Exchange), o VIX é um índice que acompanha contratos futuros das 500 ações mais importantes do mercado norte-americano. Ele indica o quanto o índice S&P 500 pode oscilar nos próximos 30 dias.
Em apenas dois dias, o VIX acumulou uma valorização de 57% no início da semana. Somente na segunda-feira (24), quando as bolsas afundaram, o índice avançou 8 pontos. Foi uma alta de 46,5%, chegando ao maior salto desde fevereiro de 2018, ou seja, há dois anos.
Foi também o sétimo maior avanço para um único dia em toda a história do índice. Na terça-feira, o índice atingiu um valor em dólares de 27,56. E desde o começo de 2020, o VIX já acumulava uma alta superior a 140% até esta quinta-feira (27). Em outras palavras, o medo dos investidores não era tão grande desde muito tempo.
Por que índice do medo?
Sempre que o VIX dispara, pode-se dizer que, de forma simplista, aumentou o risco no mundo. E como o risco deixa os mercados mais voláteis, pode-se dizer que o estresse acompanha essa oscilação, do ponto de vista da psicologia do investidor.
O índice está quase sempre ligado a eventos que geram grandes incertezas, como crises financeiras, desastres naturais, conflitos entre países e epidemias como a que vemos agora. E apesar de o VIX replicar somente o comportamento das ações americanas, ele é visto como referência desse sentimento no resto do mundo, já que Wall Street exerce uma forte influência sobre outros investimentos.
Por que o VIX chama atenção?
Costuma-se dizer que existe uma correlação negativa entre o comportamento das ações e o VIX. Traduzindo: quando a bolsa está em alta, o índice do medo caminha na direção oposta. Isso porque os investidores ficam mais dispostos a tomar risco e suportam mais possíveis perdas.
Da mesma forma, os mercados em queda fazem o VIX subir. Tanto que os picos aconteceram em momentos de grandes incertezas e tensão (veja no gráfico desta matéria). No ataque às Torres Gêmeas de Nova York, em 2001, ele quase atingiu 50 pontos em dólares. Em 2008, quando o banco Lehman Brothers decretou falência, um prenúncio da crise internacional, o índice do medo chegou aos 90 pontos.
No período em que o S&P 500 caiu 15%, entre agosto e outubro de 2008, o VIX subiu quase 260%.
“Bússola” dos investidores
Como ciclos de alta e baixa da bolsa são dados como certos, muita gente considera que o VIX mede não só a ansiedade dos investidores, mas também a ganância. É porque ele mostra também o quanto o mercado está disposto a ganhar cada vez mais com momentos de turbulência da bolsa.
Por isso, o índice passou a ser usado como uma ferramenta para especuladores e traders que compram e vendem ações no curto prazo. Uma das estratégias do mercado consiste em traduzir a alta do VIX como um sinal de que o mercado está barato.
O índice também compõe a carteira de alguns investidores para balancear perdas. Quem investe em ativos fora do Brasil, como fundos que replicam índices da bolsa americana, também costuma prestar atenção neste indicador.
Medo ou ganância?
No ano passado, a “CNN” internacional criou uma espécie de “gananciômetro” do mercado, o Fear and Greed Index (FGI). Basicamente, ele mede qual das duas emoções (medo ou ganância) está prevalecendo no dia, na semana, no mês e no ano.
No atual momento, em meio à queda generalizada dos mercados globais, o sentimento que prevalece é o “medo extremo”. Para fazer essa medição, o índice usa alguns critérios. Por exemplo, quão distante o S&P 500 está, para cima ou para baixo, de sua média dos últimos 125 dias? Outra métrica usada é a média móvel do VIX nos últimos 50 dias.