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Finanças

Avanço do coronavírus derruba mercados no mundo todo; entenda

Ações de empresas brasileiras negociadas no exterior tiveram forte queda, acompanhando os mercados globais.

Enquanto o Brasil celebrava o Carnaval, bolsas do mundo todo sofreram um forte abalo desde segunda-feira (24). O avanço do novo coronavírus na Itália, na Coreia do Sul (onde uma fábrica da Samsung foi fechada) e a confirmação do primeiro caso no Brasil confirmaram os piores temores: a doença já não se limita à China. E a avaliação é de que, se essa propagação começar a crescer, os efeitos na economia global podem ser catastróficos.

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“O coronavírus pode até estar desacelerando na China continental, mas o grande salto registrado no fim de semana em vários países deve provocar reavaliações nas estimativas de crescimento global em 2020”, disse Ryan Detrick, estrategista sênior da gestora LPL Financial. “Poderemos ver uma rápida diminuição dos lucros e das perspectivas de crescimento.”

A China concentra a maior parte dos casos de coronavírus, que ultrapassam 78 mil. A epidemia já matou 2,7 mil pessoas em 10 dos 41 países com casos confirmados.

Ontem, o Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) avaliou que o coronavírus está se espalhando de forma rápida pelo mundo e que há provável risco de pandemia, ajudando a derrubar as bolsas de Nova York, que sofreram a maior queda em dois dias da história entre segunda e terça-feira.

Forte tombo dos mercados

Essas preocupações fizeram com que as bolsas de valores de todo o mundo tivessem uma segunda-feira de pânico generalizado. A Bolsa de Milão registrou a maior queda, de 5,43%. Frankfurt caiu 4,01% e Paris, 3,94%, no pior dia para as bolsas europeias desde 2016. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York recuou 3,56%, entre outras quedas globais.

O MSCI World, índice global que reúne ações de 1,6 mil empresas no mundo, perdeu desde quinta-feira passada 3 trilhões de dólares. O chamado “índice do medo”, o VIX, avançou 11,3% na terça. Ele é um termômetro que mede o risco de volatilidade das bolsas nos Estados Unidos.

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Nesta quarta-feira, as bolsas asiáticas voltaram a fechar em baixa generalizada. Principal índice acionário da China, o Xangai Composto recuou 0,83%, a 2.987,93 pontos. O Shenzhen Composto, que reúne empresas chinesas com menor valor de mercado, teve queda mais expressiva, de 2,71%, a 1.890,60 pontos.

As bolsas europeias dão continuidade nesta Quarta-Feira de Cinzas à forte queda da semana, pressionadas pelo noticiário sobre o coronavírus, que ameaça se tornar uma pandemia. Em um dia sem indicadores relevantes, investidores também reagem a balanços de grandes empresas da região. Às 7h (de Brasília), o índice pan-europeu Stoxx 600 tinha queda de 1,54%, a 398,36 pontos.

Ações brasileiras afundaram

No Brasil, o mercado financeiro estava fechado na segunda e terça-feira, por conta do Carnaval. Mesmo assim, ações de empresas brasileiras negociadas em Nova York tiveram forte queda. Os recibos de ações (ADRs) da Petrobras acumulavam baixa de quase 9% em dois dias, enquanto os da Vale cediam ao redor de 10%.

Os grandes bancos também amargaram perdas importantes, embora menores que as de Petrobras e Vale. O ADR do Itaú recuou 3,67% na segunda-feira, enquanto o do Bradesco perdeu 3,31% e o do Santander caiu 4,21%.

O fundo de índice (ETF) que acompanha o desempenho do Ibovespa em dólares (iShares MSCI Brasil) sofreu forte desvalorização, acumulando perda de mais de 6% desde segunda.

O Ibovespa deve reabrir às 13h desta quarta. E analistas esperam um possível recuo de mais de 5%, embora considerem qualquer projeção precipitada.

Cautela crescente

“O resultado de segunda significa que os mercados não esperavam que isso se tornasse uma grande questão fora da China”, disse Craig Erlam, analista sênior da Oanda, empresa de análise de dados financeiros. “Os investidores vão ficar muito mais sensíveis agora.”

Na Itália, a projeção dos economistas é de que o Produto Interno Bruto (PIB) caia entre 0,5% e 1% este ano, por conta do surto da doença.

O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse que ainda é cedo para estimar a extensão dos impactos do coronavírus sobre a economia global, mas que a disseminação do vírus é “preocupante”.

“Baseado em tudo o que vimos, é gerenciável, mas a situação pode mudar. Em três ou quatro semanas, teremos melhores dados”, disse, em entrevista à rede CNBC após reunião do G-20 em Riad, na Arábia Saudita. “Não acho que as pessoas deveriam entrar em pânico. Mas, por outro lado, é preocupante.”

Efeitos para a economia global

Para a presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Cleveland, Loretta Mester, o coronavírus está piorando as perspectivas econômicas de curto prazo para a China, com potenciais consequências no restante do mundo.

Segundo ela, o efeito do vírus no país pode ser maior do que o causado pelo Sars (síndrome respiratória aguda grave) em 2003, pois a China hoje é um player mais relevante na economia global e um eventual corte de gastos de consumidores do país ou redução no turismo envolvendo a China podem causar mais prejuízos que há 17 anos.

Loretta ressaltou, no entanto, que hoje o gigante asiático tem mais recursos para lidar com o problema e que o governo se adiantou para tomar atitudes no início da epidemia.

Medidas

Na segunda, o Banco do Povo da China (PBoC, o banco central chinês) anunciou que vai flexibilizar sua política monetária e injetar liquidez no mercado, numa tentativa de encorajar o crédito e auxiliar a economia do país a se fortalecer, em meio aos impactos do coronavírus. A informação foi dada por Chen Yulu, um dos vice-presidentes do banco, durante coletiva de imprensa de autoridades da área econômica.

O PBoC também estuda reduzir os compulsórios bancários (recursos das instituições financeiras que ficam retidos no banco central) para liberar mais recursos para empréstimos a empresas com dificuldades, disse Chen.

O BC chinês considera, ainda, permitir que os três grandes bancos estatais do país criem políticas para auxiliar pequenas manufaturas, exportadoras e criadores de porcos, setores que sofreram mais com os efeitos do coronavírus. 

*Com Estadão Conteúdo

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