Petrobras e Vale, as duas maiores pagadoras de dividendos do Brasil, vêm reduzindo o ritmo de distribuição de lucros aos acionistas, mas por motivos bem diferentes. Juntas, as duas companhias representaram 57% do total de proventos pagos aos investidores no país em 2022 e 41% em 2021. Este ano, até outubro, a participação caiu para 38%, mostra estudo da plataforma Meu Dividendo.
Enquanto na Vale (VALE3) a redução se deveu à perda de fôlego da economia da China, maior compradora de minério de ferro do mundo, que afetou os resultados financeiros da mineradora, na Petrobras (PETR4), mudanças políticas pesaram, ressalta Wendell Finotti, fundador e CEO da Meu Dividendo.
E na petroleira o valor distribuído aos acionistas pode cair ainda mais, caso uma assembleia que deve ocorrer em novembro aprove a criação de uma reserva de remuneração de capital. Na prática, a medida pode limitar o quanto do caixa é distribuído como dividendos aos acionistas.
Para Finotti, a nova proposta da petroleira preocupa mais pela questão de governança, por conta da medida que abre as portas para indicações políticas na gestão da petroleira, do que pela redução dos pagamentos de dividendos em si, estratégia que já vem acontecendo na companhia. A Petrobras distribuiu 76% do lucro no ano passado, considerando dados do terceiro trimestre. Este ano, o porcentual caiu para 53% até o final da primeira metade do ano.
Tendência
Em um ano que começou com a revelação do escândalo contábil na Americanas logo na primeira semana e vem sendo marcado por incertezas diversas no Brasil e no exterior, as empresas de capital aberto em geral reduziram a distribuição de dividendos. Nos 10 primeiros meses do ano caíram 31%, para R$ 176 bilhões, segundo o estudo da Meu Dividendo.
Inicialmente se imaginava que a distribuição de dividendos fosse ser a maior da história em 2023, mas na prática não é o que vem acontecendo. Após um janeiro com pagamentos recordes, as empresas foram mês a mês diminuindo a distribuição. “O mercado de dividendos está em transformação este ano”, afirma Finotti. “Em momentos de incerteza, as empresas preferem manter recursos em caixa. E estamos passando por várias turbulências, econômicas, políticas, duas guerras em andamento, inflação.”, ressalta o executivo.
Uma das estratégias das companhias para ter mais dinheiro em caixa é aumentar o prazo entre o anúncio da distribuição do provento e o efetivo recebimento do recurso pelo acionista, que tem se alongado este ano. “As empresas começam a segurar o pagamento do dividendo por um período maior”, comenta Finotti. Em outubro, a média para pagamento foi de 117 dias, o prazo mais longo dos últimos seis anos, mostra levantamento do Meu Dividendo. No mesmo mês de 2022, eram 58 dias, e de 2021, 49.
Na média, este ano, o prazo para pagamento do dividendo está em 67 dias, acima dos 55 de 2022 e dos 63 de 2021, ano ainda marcado pelas paralisações da pandemia e, consequentemente, pela maior incerteza.
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