Finanças
Mercado se prepara para o pós-pandemia; o que esperar da bolsa?
Analistas comentam tendências para o Ibovespa e destacam setores que devem ser impactados.
Apesar do volume de negócios reduzido na bolsa na primeira metade de abril, o Ibovespa, principal índice da B3, retornou ao patamar dos 120 mil pontos após cerca de 2 meses. O risco fiscal e as dúvidas sobre o cenário político seguem no radar, mas analistas comentam que o mercado já mira no cenário pós-pandemia.
Embora a percepção seja de que 2021 terá um cenário econômico melhor que o de 2020, entre os analistas do mercado financeiro não há consenso sobre a tendência do Ibovespa.
Do lado mais otimista, Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research, comenta as expectativas em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e seus impactos sobre as companhias listadas na B3, a despeito das dúvidas sobre o cenário político e fiscal.
“A gente tem uma dinâmica que é a recuperação cíclica em 2021. O PIB vai crescer 3%, e isso é super positivo. A gente viu os resultados das empresas serem impactados pela recessão no ano passado e esses resultados vão melhorar bastante em 2021. O que acontece agora é Brasília querendo atrapalhar a nossa recuperação. Mas, mesmo que eles atrapalhem, é difícil que seja completamente. 2021 vai ser muito melhor que 2020”, afirma Barbosa.
Também otimista, o analista Matheus Lima, da Top Gain, diz que segue “vendo boas projeções”. “Estamos vendo o Brasil comprando mais vacinas. Acredito que temos ainda um bom período pela frente de otimismo com o mercado. Continuo recomendando compra de ações”, afirma.
Na outra ponta, Bruno Komura, estrategista de renda variável da Ouro Preto, afirma que o momento é mais propício à venda de ações do que compra. “Pensando agora, no curto prazo, o melhor a se fazer seria vender, pensando que a gente ainda tem muito problema político e o risco fiscal ainda está bastante latente. A gente pode ter muita surpresa negativa no curto prazo”, opina.
Sobre o cenário atual no mercado, o analista de renda variável José Falcão, da Easynvest, afirma que “juntando os fatos, tinha tudo para o Ibovespa estar em tendência de queda. Uma tempestade perfeita”. Mas ele aponta que, “agora, está em tendência de alta, puxado pelas expectativas de normalização das atividades ainda este ano e também seguindo o movimento das principais bolsas globais”.
“Porém, vale destacar: quando a pandemia amenizar, a conta fiscal/privatização/reformas e tudo mais prometido para o mercado pode pesar muito na bolsa e haver correções mais acentuadas”, pondera Falcão.
Em quais setores ficar de olho?
Embora veja uma “pressão no curto prazo” sobre o mercado de ações de maneia geral, Komura diz que “tem algumas empresas que podem ajudar a se proteger”.
“Pode haver algumas empresas que consigam surfar bem nesse cenário bastante incerto. Commodities no geral pode ser uma boa, pensando que a China continua crescendo e vai continuar puxando a demanda por commodities. Então, Vale (VALE3) e siderúrgicas no geral. E também, se for pensar mais para o futuro, pensando que no ano que vem a gente vai voltar ao normal, pode ser uma boa entrar em shoppings, por exemplo, pensando mais para o longo prazo”, comenta ele.
Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, aponta que “a bolsa vem subindo praticamente há 15 dias diretos, muito impulsionada pelo setor de índices de materiais básicos. Vale, Gerdau (GGBR4 e GGBR3), CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5 e USIM3) e outros ativos de mineração, muito impulsionados pelo preço do minério, vêm subindo.”
“O que vai acontecer, dado o cenário internacional de resultados corporativos, é uma possibilidade de a gente ter um fluxo muito positivo para bancos nas próximas semanas, porém a gente vê alguns setores que são da parte de consumo também impulsionando a bolsa nos últimos dias, como o setor de frigorífico, com JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e a própria Minerva (BEEF3). Esses ativos ligados a commodities de exportação têm impulsionado muito fortemente o índice Ibovespa.
Já Lima recomenda que o investidor fique de olho nas ações impactadas pelo episódio dos temores sobre interferência política na Petrobras (PETR3 e PETR4), há algumas semanas. “O melhor caso de oportunidade de compra que nós tivemos na bolsa foi justamente na queda forte da Petrobras por causa da saída do presidente da empresa. Acabamos vendo um certo pânico no mercado que barateou muitas ações que ainda estão em tendência de alta”, diz ele.
“O nosso Ibovespa tem se comportado de maneira lateral nos últimos dias porque finalmente retornou à faixa de preço que estava sendo negociada antes desse evento da Petrobras”, acrescenta o analista. “Para quem soube aproveitar a oportunidade daquele pânico mais cedo, esse seria o momento de botar um pouco de dinheiro no bolso.”
Também avaliando o movimento atual do mercado e os setores, Falcão comenta que “o investidor toma risco, procurando oportunidades baratas para se beneficiar da retomada da economia e por isso observamos uma inversão de fluxos das ‘techs’ para a velha economia (commodities e indústria)”.
Mas ele recomenda cautela ao investidor. “É para comprar? Não diria que é para entrar 100% exposto, mas manteria a alocação em renda variável, com aportes graduais à medida que as coisas vão normalizando.”