Depois de um ano particularmente ruim para o investimento verde, o fundador da maior empresa de hedge funds do mundo mandou uma mensagem bem clara.
O bilionário Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, destacou aos delegados presentes à COP28 em Dubai que o capital privado só pode realisticamente financiar soluções climáticas se os retornos fizerem sentido.
“É preciso torná-lo lucrativo”, disse em Dubai.
O mantra reverbera pelo amplo e ensolarado campus onde é realizada Conferência das Partes deste ano, com representantes de Wall Street, como o JPMorgan Chase e Bank of America, reforçando o mesmo argumento.
Faz parte de uma mudança na mensagem transmitida pelo setor financeiro. Há dois anos, na cúpula COP26, realizada na Escócia, a Aliança Financeira de Glasgow para o Zero Líquido (GFANZ) anunciou compromissos que representavam US$ 130 trilhões em ativos financeiros. Aclamado na época como um momento “divisor de águas”, banqueiros presentes na COP deste ano mostram relutância em impor condições a estes números.
“É preciso disponibilidade de projetos; pode haver US$ 130 trilhões ou mais de capital, mas é capital que busca retorno, então você precisa de investimentos financiáveis que realmente proporcionem risco e retorno apropriados”, disse Ramaswamy Variankaval, chefe global de consultoria corporativa e soluções sustentáveis do JPMorgan, em entrevista em Dubai. “É isso que todos procuramos.”
À medida que se torna cada vez mais claro que o capital privado terá de ser mobilizado em grande escala para ajudar a combater as consequências da crise climática, banqueiros e gestores de investimento utilizam a COP28 para traçar alguns limites.
Shriti Vadera, presidente da Prudential, disse que ninguém deve esperar que o capital privado preencha um vazio de políticas sem os incentivos certos.
“Vamos ser claros”, disse a executiva durante um painel da COP28.
“O setor privado só faz coisas que são comerciais e criam um retorno comercial: deve preservar o capital dos seus clientes, poupadores, pensionistas e correntistas.”
Shriti Vadera, presidente da Prudential.
Dada a necessidade global anual entre US$ 5 trilhões e US$ 10 trilhões para enfrentar os desafios colocados pela mudança climática, é óbvio que o capital privado terá de fornecer a maior parte, disse Dalio. Mas tem que haver “um retorno sobre o dinheiro”, acrescentou.
O banho de realidade chega após um período de fortes perdas para investidores de ativos verdes. O Índice S&P Global Clean Energy já caiu quase 30% neste ano, em comparação com um ganho de quase 20% do S&P 500.
A tese de investimento em mercados emergentes é ainda mais complicada devido à necessidade de compensar o capital privado pelo risco adicional de se aventurar fora do mundo desenvolvido.
Brian Moynihan, CEO do Bank of America, disse durante painel em Dubai que os acordos de transição climática e energética no mundo em desenvolvimento são “mais difíceis de financiar”, citando um swap de dívida por natureza de US$ 500 milhões que seu banco coordenou para o Gabão e que levou dois anos para ser concluído.
Quando se trata de enfrentar a crise climática nos mercados emergentes, não há solução viável que não inclua o financiamento privado, disse John Greenwood, codiretor de finanças estruturadas para as Américas do Goldman, em Nova York. Mas isso exigirá experimentar novas estruturas de financiamento para torná-lo atraente, afirmou.
“O foco deve estar na inovação”, disse Greenwood.
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