Finanças
Nova carteira do Ibovespa fica mais representativa com entrada de ações de agro
Opinião é de analistas ouvidos pelo InveastNews; das 3 empresas que ingressaram no indicador, 2 são do setor.
Passa a valer nesta segunda-feira (5) a nova composição do Ibovespa, que vai vigorar até 30 de dezembro. As Arezzo (ARZZ3), Raízen (RAIZ4) e São Martinho (SMTO3) são as novidades do indicador, que conta agora com 92 ativos de 89 empresas. Para analistas, a entrada de duas empresas do agronegócio torna o índice mais diversificado e representativo e colabora para elevar o valor de mercado destas companhias no longo prazo.
A cada quatro meses, a bolsa brasileira faz um rebalanceamento de seu principal indicador, que reúne as empresas mais importantes do mercado de capitais do Brasil.
O índice é resultado de uma carteira teórica, composto por ações e units de companhias listadas na B3 (B3SA3. Entre os critérios para ingressar no índice, estão estar entre os ativos que representem 85% em ordem decrescente de índice de negociabilidade; estar entre os ativos que representam 95% de presença em pregão e não custar menos de R$ 1, as chamadas penny stocks.
Erik Sala, especialista em investimentos da DVinvest, explica que, apesar de o Ibovespa ser um índice pequeno, composto por menos de 100 ações, ele se torna mais representativo com a chegada de São Martinho e Raízen, empresas do agronegócio.
“Quando se olha para o tamanho do Brasil e a realidade das empresas, a gente sente falta de representatividade maior no índice. E, com certeza, com essas companhias entrando, ele vai ‘ganhando corpo’”, avalia Sala.
Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, explica que essas mudanças não têm intenção de gerar grandes impactos no Ibovespa a partir de sua composição, mas são importantes para “abrir os olhos” dos investidores para novas oportunidades, tornar o índice mais diversificado, com exposição a setores diferentes, além de dar maior visibilidade das companhias para os investidores.
Mais ‘holofotes’ para ações do agronegócio?
Os ativos que apresentam o maior peso na composição do Ibovespa estão ligados ao setor financeiro e de commodities, como Vale (VALE3) (14,194%), Petrobras (PETR4) (7,343%), Itaú Unibanco (ITUB4) (5,992%) e Bradesco (BBDC4) (4,731%), por exemplo.
Segundo a TC/Economatica, antes desta atualização da nova composição do Ibovespa, faziam parte do índice 14 empresas classificadas como sendo do setor de agronegócio, tendo a Ambev (ABEV3) o maior peso entre elas no índice, de 3,4%.
Sala, da DVinvest, destaca que São Martinho e Raizen apesar de serem empresas ligadas ao agronegócio, que é parte relevante do PIB brasileiro, o setor não é destaque quando se olha para a bolsa.
“Quando a gente vê essas empresas entrando no índice é mais animador. Sabemos também que o agronegócio tem suas peculiaridades, estamos falando de um capital bem pulverizado e empresas menores, mas estamos vendo cada vez mais companhias do setor na bolsa. Esses dois casos entrando no Ibovespa acaba sendo bem positivo”, afirma o especialista em investimentos da DVinvest.
Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos, destaca que o fato de serem empresas do agronegócio, São Martinho e Raízen acabam tornando o índice mais “saudável”.
Impactos da entrada no Ibovespa
Régis Chinchila, da Terra Investimentos, explica que a inclusão de um ativo no indicador sinaliza que a companhia conseguiu cumprir os requisitos para compor o índice, o que, por si só, já é positivo. Além disso, o analista destaca que esse movimento proporciona maior visibilidade para a empresa, maior entrada de fluxo comprador de fundos e de investidores que buscam replicar o índice, aumentando o valor de mercado da companhia no longo prazo, além do prestígio de estar entre os componentes do principal indicador da bolsa de valores brasileira.
Erik Sala, especialista em investimentos da DVinvest, afirma que, ao fazer parte do índice, além dos ativo se tornarem mais líquidos e ganharem mais atenção de quem investe em ações, as empresas podem se tornar mais visíveis aos investidores estrangeiros, que, muitas vezes, têm como primeira referência as empresas que estão no Ibovespa.
Por dentro das novas integrantes do Ibovespa
Saiba mais sobre cada uma das três empresas que passaram a fazer parte do principal indicador da B3 nesta segunda-feira (05), além do desempenho de suas ações e perspectivas:
Arezzo&Co
A rede varejista do setor de calçados, bolsas e acessórios femininos foi fundada em 1972 pelos irmãos Anderson e Jefferson Birman.
A companhia controla diversas marcas como, por exemplo: Schutz, Anacapri, Alexandre Birman, Fiever, Alme, MyShows, Carol Bassi e Vans.
No ano passado, a empresa fez a aquisição da Digital Native Brand e da Baw Clothing Além disso, também fez a compra da marca MyShoes e iniciou parceria com o Mercado Livre (MELI34).
A companhia estreou na B3 em 2011, levantando R$ 565,8 milhões com o IPO.
No segundo trimestre deste ano, a varejista registrou lucro líquido ajustado de R$ 123,36 milhões, valor 160,4% maior que o obtido um ano antes.
No ano de 2022 até 31 de agosto, o papel da companhia acumulava valorização de 22,08%. Confira o desempenho da ação da Arezzo em 2022:
Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, explica que a bolsa de valores está saindo de um ambiente de mercado que sofreu bastante, impactando o papel da varejista.
“A ação da Arezzo, desde quando começou a pandemia, chegou a cair algo de 50% do seu valor, mas voltou praticamente no mesmo ano e fechou o período positivo em quase 6%. É uma empresa muito boa. Dedes o início da pandemia, se vê a Arezzo figurando com quase 50% de alta. Com o papel da empresa subindo dessa maneira, o investidor tem, de certa forma, interesse no ativo”, explica Gonçalves.
Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos, alerta, no entanto, que o ativo da companhia é um pouco mais arriscado, por ser setor de consumo, com a inflação interferindo diretamente.
São Martinho
Fundada em 1907, a empresa do setor sucroenergético possui quatro unidades em operação: em Pradópolis, na região de Ribeirão Preto (SP); em Iracemápolis, na região de Limeira (SP); em Américo Brasiliense (SP) e em Quirinópolis (GO).
A abertura do capital da companhia ocorreu em 2007, levantando R$ 368,417 milhões.
A São Martinho registrou lucro líquido de R$ 221,6 milhões no primeiro trimestre da safra 2022/2023, valor 16,6% maior do que o registrado no mesmo período do ano anterior.
Somente neste ano até 31 de agosto, a ação da empresa tinha desvalorização acumulada de 5,62%. Veja o desempenho da ação da São Martinho em 2022:
Chinchila explica que a ação da São Martinho estava em um movimento de forte de alta nos meses que antecederam a projeção que decepcionou para a colheita deste ano e que, a partir daí, a empresa vem em uma tendência de baixa agravada pelos resultados ruins no período e medidas do governo que impactaram a competitividade do etanol.
“Agora, resta olhar para o próximo ano, esperando melhores números de produção e um ambiente de competição mais favorável contra a gasolina”, destaca o analista da Terra Investimentos.
Raízen
Fundada em 2011, a Raízen é uma joint venture entre a Cosan (CSAN3) e a Shell. A empresa opera todas as etapas da cadeia de valor do etanol, atuando desde o plantio, colheita, processamento, armazenamento, logística, distribuição e comercialização de produtos e serviços até o consumidor final.
Em agosto de 2021, a companhia abriu seu capital na bolsa de valores do Brasil, movimentando R$ 6,9 bilhões.
No primeiro trimestre da safra 2022/2023, a empresa registrou lucro líquido ajustado de R$ 1,08 bilhão, ante os R$ 501,4 milhões registrados na mesma etapa da safra 2021/2022.
Em 2022 até 31 de agosto, o papel da companhia acumulava desvalorização de 24,38%. Confira o desempenho da ação da Raízen em 2022:
Para Regis Chinchila, a ação da Raízen “descolou” um pouco do mercado em movimento de baixa nos últimos meses, com o ambiente desfavorável do etanol, mas, segundo ele, os resultados divulgados em referência ao segundo trimestre do ano indicam que o horizonte para a companhia nos próximos anos ainda é positivo.
Erik Sala, especialista em investimentos da DVinvest, afirma que a Raízen é uma empresa relevante e que tem uma capacidade de inovação muito forte. Segundo Sala, apesar da queda do preço do ativo, ele se torna uma boa oportunidade de compra por ter boas perspectivas.
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