Estreando no Ibovespa nestes primeiros pregões de 2024, a ação da Isa CTEEP (TRPL4) tem atraído atenção por um motivo principal: as expectativas sobre os investimentos da concessionária de transmissão de energia nos próximos meses. Mas, visto como um fator que pode alavancar a companhia, esse ponto também desperta dúvidas quanto aos dividendos.
O papel TRPL4 terminou seu primeiro pregão no Ibovespa em queda. Nesta terça-feira (2), recuou 1,13%, negociado a R$ 26,20. Em 2023, contudo, a ação acumulou ganhos de mais de 24%.
A companhia tem registrado uma sequência de resultados bem avaliados por especialistas. No mais recente, referente ao terceiro trimestre do ano passado, reportou lucro consolidado de R$ 486 milhões, cravando uma sequência de 40 trimestres seguidos de resultados no azul.
Para os próximos, o mercado espera “crescimento de lucro e estabilidade nos resultados”, segundo Luan Alves, analista chefe da VG Research. Já Ricardo Schweitzer, analista independente, diz que a “visão para TRPL4 é positiva, repercutindo boa execução operacional e redução do custo da dívida na esteira de menor CDI e desaceleração da inflação”.
Avaliando as perspectivas, especialistas ouvidos pelo InvestNews foram quase unânimes ao destacar a estratégia de investimentos da empresa como o grande fator-chave. Victor Martins, analista sênior da Planner Investimentos, aponta que “sua estratégia de crescimento foca em projetos de reforços e melhorias, projetos greenfield e oportunidades em fusões e aquisições”.
“Olhando para um futuro próximo, pode-se constatar que os projetos de reforço e modernização são a principal via de crescimento nos próximos anos”, comenta também Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
Isso é bom ou ruim?
Para Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, essa via de crescimento pelos investimentos podem ser um sinal de alerta para o mercado – especialmente sobre a capacidade da empresa em continuar pagando proventos. Ao final de 2023, o dividend yield (retorno em dividendos) de CTEEP era de 7,07%, segundo dado da ferramenta Valor Pro – patamar considerado bom por especialistas.
“Neste momento, a companhia deve passar por uma elevação do volume de investimentos para os próximos anos, o que traz um risco maior para a tese, que é o risco desses projetos serem entregues dentro do prazo, antecipação de obras”
Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed.
“A princípio as perspectivas ainda são são positivas, mas vejo que a empresa não deve continuar pagando bons dividendos como pagou nos últimos anos por conta desse aumento da alavancagem (indicador de endividamento) e aumento do Capex (investimento em bens de capital)”, acrescenta o analista.
Mas essa análise não é unanimidade no mercado. Gonçalvez, da Box Asset, afirma que “o nível atual de alavancagem é confortável para enfrentar os investimentos e manter o nível de pagamento de dividendos”. Alves, da VG, concorda que “a empresa possui uma alavancagem controlada” diante dos “planos de expandir a sua atuação ainda mais em transmissão de energia”.
Ao final do terceiro trimestre de 2023, a CTEEP tinha uma relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 2,25 em 12 meses, versus 3,26 de outras do setor, novamente segundo o Valor Pro.
Setor elétrico e estratégia de investimento
A CTEEP opera uma rede de transmissão por onde trafegam 30% de toda a energia elétrica transmitida no Brasil. Seu sistema elétrico é composto por mais de 31 mil quilômetros de circuitos, incluindo ativos próprios e controlados em conjunto, além de 137 subestações próprias (129 em operação e oito em construção). Seu acionista controlador é a empresa colombiana ISA, que detém 35,82% do capital total.
Considerando as peculiaridades do setor, a posição em empresas como Isa CTEEP é considerada estratégica por muitos analistas.
“Temos uma visão construtiva para as ações da Cteep, uma empresa com atuação no segmento de transmissão de energia, remunerada pela disponibilidade de linha – o que mitiga riscos de volatilidade setorial, e que se destaca pelo controle de custos e forte geração de caixa”
Victor Martins, analista sênior da Planner Investimentos.
Martins diz que o papel da companhia é “uma alternativa interessante para investidores que buscam segurança, rentabilidade e proventos”. “Para 2024, estimamos um dividendo de R$ 2,90/ação equivalente a um dividend yield bruto de 10,9%”, conta.
Mas a recomendação não é unânime. Em novembro, o UBS rebaixou a recomendação de CTEEP de neutra para venda, citando “o aumento da agressividade observado nos leilões recentes”, “os esforços da Eletrobras para vender suas ações na CTEEP” e a “atual posição comercial da empresa”, considerada “notavelmente pouco atraente”.
A CTEEP ficou de fora do mega leilão de transmissão de energia realizado em dezembro, após ser a grande vencedora do primeiro certame do ano. A empresa anunciou que permaneceria concentrada nos novos projetos de sua carteira.
Já o BB Investimentos divulgou em dezembro um relatório setorial com recomendação de compra para a ação da CTEEP. Os analistas da casa enxergam potencial de valorização em 2024 de mais de 34% – uma das maiores do setor, perdendo apenas para os 35% de Copasa (CSMG3).
Enquanto isso, BTG, Guide e Terra Investimentos têm recomendação neutra para a ação de CTEEP.
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