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O risco de bolha financeira apontado por Ray Dalio: como fica o Brasil?

Samy Dana e Dony De Nuccio trazem as considerações de especialistas e economistas sobre o assunto.

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Será que estamos em risco de uma bolha financeira?

Este é um assunto que vem ganhando tração – e não é de hoje. Mais precisamente este ano, após uma entrevista do renomado gestor e escritor, Ray Dalio, em que disse aos investidores que se preparassem para uma possível bolha no mercado de ações americano.

O megainvestidor afirmou que os sinais de bolha são claros, porém, não igual à dos anos 2000, nem à de 1929, mas sim algo na metade do caminho. Uma das suas justificativas é o fato de algumas companhias que estão em um ritmo acelerado de crescimento estarem se beneficiando da avaliação do mercado financeiro, com negociações especulativas – segundo Dalio. De fato, é notória a rotação de setores na Bolsa em que as companhias que tiveram melhor desempenho na pandemia – como as empresas de tecnologia – vêm superando o valor de mercado de empresas ligadas à economia tradicional.

A questão é que Dalio chama atenção para uma tendência de os investidores não prestarem muita atenção aos preços dos ativos, e quando isso acontece, é aí que surge uma bolha. Em seu LinkedIn, o gestor chegou a publicar um estudo apontando para uma série de indícios da existência de bolha em alguns setores da bolsa americana. Nesse estudo ele levanta dúvidas sobre a sustentabilidade dos preços, além da quantidade de novos investidores.

O Cafeína conversou com analistas, gestores e economistas sobre a visão de cada um sobre o assunto e como Brasil pode – ou não – ser afetado.

Para Fernando Martin, da Levante Investimentos, o mercado global não pode ser reduzido a um único índice como o S&P 500.  Isso porque o mercado tem um conceito amplo, seja pela classe de ativos como geográfica. Apesar de o índice com as 500 maiores empresas americanas estar sendo negociado em termo de preço sobre lucro acima da sua média em dez anos, existe uma justificativa pra isso. Atualmente, grande parte das companhias listadas são de tecnologia. E essas empresas negociam a um múltiplo preço sobre lucro mais alto por serem empresas que crescem mais e precisam ter um prêmio por esse crescimento.

“O mercado não se resume ao S&P 500”

fernando martin, levante investimentos

Por outro lado, Ray Dalio enxerga algumas características de bolhas em alguns mercados específicos, em especial ao boom de ofertas de ações de empresas que ainda não são lucrativas mas que têm conseguido um valor de mercado excepcional. E nisso, o analista da Levante concorda e até cita exemplos. “O Airbnb vale dezenas de bilhões de dólares, porém, não tem perspectiva de gerar caixa tão cedo. Da mesma forma o Uber, que têm dificuldades de gerar boas receitas”, comenta.

Já segundo o economista chefe da Necton, André Perfeito, olhando em termos globais, há um nível de liquidez extremamente elevada que tem feito alguns ativos específicos terem uma valorização muito alta. Um exemplo disso são as criptomoedas que capturaram boa parte dessa liquidez.

Agora analisando o cenário brasileiro, ambos os especialistas concordam que o país está longe de ter um aspecto de bolha e que ainda não há um sinal de alerta. Na verdade, existe um descolamento do mercado americano e o que se tem visto é uma bolsa que vem ‘apanhando’ bem pelo que vem acontecendo no cenário de inflação, risco fiscal e político, mas com empresas muito fortes, pagando bons dividendos e com momento operacional muito positivo. Segundo Martin, hoje a B3 (a bolsa brasileira) está abaixo da sua média histórica quando considerado o preço sobre o lucro, não a pontuação.

Essa também é a opinião de outros analistas e gestores. Para Antonio Marques Samad Júnior, sócio e gestor da Axia Investing, se trouxermos o valor das principais empresas listadas na B3 de 10 anos atrás para o valor presente (em valores atualizados pela inflação ou pelo dólar) vamos ver que quase todos eles estão sendo negociados a valores abaixo do que estavam há 10 anos atrás. E isso por si só já afasta a possibilidade de bolha em nossa bolsa.

“Bolsa brasileira está descolada da realidade americana”

antonio marques samad júnior, axia investing

“A preocupação com uma possível bolha existe atualmente, mas está mais voltada para os mercados mais desenvolvidos, que vem buscando máxima atrás de máxima, puxados principalmente pelos estímulos econômicos em função da pandemia”, aponta Samad.

Pontos de atenção

Agora os pontos de atenção que podem soar como sinal amarelo para qualquer investidor é do ponto de vista técnico: caso os juros americanos (que ainda estão a patamares baixos), venham a subir de repente. É comum que os países aumentem expressivamente suas taxas de juros para proteger suas moedas.

Este foi um ponto destacado por Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos. Segundo ele, desde a crise de 2008 é visto uma política monetária estimulativa com juros a praticamente zero nos Estados Unidos, assim como em outros países desenvolvidos. No Japão, por exemplo, os juros chegam a ser negativos, o que estimula muito o mercado de crédito. Mas como nem tudo é só bônus, precisam ser considerados os ônus.

Um ambiente com juros zero favorece para que as empresas paguem seus credores. Porém, quando os juros aumentam, acende o sinal de perigo. Isso porque há casos de muitas empresas que tomaram dívidas pra resolver o cenário de curto prazo – mas se elas não geram dinheiro para sanar essas dívidas – esse custo dos juros pode pesar, virar uma bola de neve e levar a um boom de recuperações judiciais e até falências.

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