Quase todas as principais moedas dos mercados emergentes se desvalorizaram frente ao dólar este mês, lideradas pelo real, diante de um Federal Reserve que parece disposto a manter os juros altos por mais tempo.
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A depreciação do câmbio tem implicações para as trajetórias de política monetária dos bancos centrais e para os custos de dívida externa. Cerca de US$ 54 bilhões de títulos em moeda forte de mercados emergentes vencem em 2024, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Embora tudo isso traga memórias de crises passadas, como a da Tailândia em 1997, muitos países estão agora em uma posição muito melhor, com amplas reservas, câmbio flutuante e crescimento sólido. Mesmo assim, os casos do Egito ou do Sri Lanka ilustraram o que pode dar errado quando moedas afundam e reservas encolhem.
“As coisas estão obviamente muito diferentes do final dos anos 90”, disse Sonal Varma, economista-chefe para Índia e Ásia, exceto Japão, do Nomura. Mas “a pressão que a maioria dos mercados emergentes enfrenta é real. Do ponto de vista dos bancos centrais, o foco principal é manter a volatilidade baixa.”
O enfraquecimento das taxas de câmbio e as oscilações do mercado desencadearam uma enxurrada de respostas de autoridades nos últimos dias. Autoridades sul-coreanas expressaram preocupação com a depreciação acentuada do won, e a secretária do Tesouro americano Janet Yellen reconheceu os receios de seus pares do Japão e Coreia do Sul em uma reunião em Washington.
O banco central da Indonésia interveio no câmbio esta semana, depois que a rupia atingiu o nível mais fraco em quatro anos.
“Pode haver circunstâncias em que a volatilidade da taxa de câmbio seja excessiva, onde alguma intervenção cambial poderia ser apropriada, mas isso realmente depende das circunstâncias particulares”, disse Tobias Adrian, diretor do departamento monetário e de mercado de capitais do Fundo Monetário Internacional, em uma declaração em Washington esta semana.
Mas, no geral, muitos países asiáticos têm um amplo estoque de moeda estrangeira. A regrinha do FMI é que os países têm reservas “adequadas” quando detêm dinheiro suficiente para cobrir três meses de importações.
Gastar mais em bens e serviços no exterior do que o que entra pode prejudicar a situação de um país, especialmente se os investidores começarem a retirar fundos abruptamente. Enquanto países como China e Coreia do Sul registram superavit nas contas externas, outros como Brasil estão em déficit.
A perspectiva de que o Fed mantenha os juros elevadas durante os próximos meses também poderá influenciar as decisões de juros de países latino-americanos, como Brasil e Chile, os primeiros no mundo a iniciar ciclos de flexibilização depois de saírem na frente também no aperto.
Alguns investidores dizem que o banco central da Colômbia, cuja taxa de juro de referência é de 12,25%, poderá se abster de acelerar o ritmo da flexibilização. Enquanto isso, no Brasil, o mercado precifica um ciclo menor de reduções de taxas.
Analistas do Citigroup, incluindo Ivan Rios, disseram que o Banco Central do Brasil pode ter que entregar um corte menor do que o que havia sinalizado como estimativa futura para a reunião de maio.