Finanças
Petrobras paga altos dividendos, mas plano de negócios coloca futuro em xeque
Valor a ser pago aos acionistas em 2024 surpreende e plano de negócios traz cautela.
A Petrobras (PETR3; PETR4) deixou de ser a maior pagadora de dividendos do mundo em apenas um ano, na passagem do segundo trimestre de 2022 para o mesmo período de 2023, conforme foi amplamente divulgado à época. A dúvida, agora, é se a empresa vai repetir o script nos próximos trimestres.
Nem mesmo o mais recente resultado sólido da companhia, com pagamento de dividendos (ainda) robustos, reduziu essa desconfiança dos investidores. A estatal anunciou o valor de R$ 17,5 bilhões (ou cerca de US$ 3,5 bilhões), o equivalente a R$ 1,34 para cada classe de ação (ou US$ 0,54 por ADR), a serem pagos aos acionistas em 2024, em duas parcelas.
O montante representa um aumento em relação à distribuição anterior, de R$ 1,15 por ação ou R$ 15 bilhões no segundo trimestre deste ano. Cálculos do Citi apontam que o pagamento de dividendos anunciado reflete uma valorização de aproximadamente 3,5% para as ações ordinárias (ON) e 3,8% para as ações preferenciais (PN).
As ações e ADRs (recibos de ações listados no exterior) da Petrobras serão negociadas ex-dividendos a partir do próximo dia 22 de novembro.
Para mais ou para menos?
O valor surpreendeu analistas do mercado financeiro, seja para baixo ou para cima. A exceção ficou apenas com o Bank of America, que acertou em cheio. Já o BTG Pactual avalia que o montante mostra alinhamento com a política de distribuição de proventos.
Por um lado, enquanto o Bradesco BBI e o Santander estimavam o pagamento total de US$ 3 bilhões e de US$ 3,3 bilhões aos acionistas, respectivamente. Por outro, o Itaú BBA previa US$ 3,9 bilhões.
Enquanto isso, a Ativa Investimentos esperava R$ 1,20 por ação (ou R$ 15,6 bilhões) e a Genial Investimentos projetava R$ 1,24 por ação. Por sua vez, a XP Investimentos e o Safra Research destacam que o valor anunciado representa o mínimo, considerando-se a recompra de ações ao redor de R$ 1 bilhão no período.
(arte)
DIVIDENDOS DA PETROBRAS
Projeções dos bancos para proventos da petroleira referentes ao 3º tri de 2023:
Instituição | Previsão de dividendos do 3º tri/2023 | Anúncio efetivo ante o projetado |
Itaú BBA | US$ 3,9 bilhões | Abaixo |
Bank of America | US$ 3,6 bilhões | Dentro |
BTG Pactual | US$ 3,6 bilhões | Dentro |
Santander | US$ 3,3 bilhões | Acima |
Bradesco BBI | US$ 3 bilhões | Acima |
Ativa Investimentos | R$ 1,20 por ação | Acima |
Genial Investimentos | R$ 1,24 por ação | Acima |
XP Investimentos | pagamento mínimo | Dentro |
Safra | pagamento mínimo | Dentro |
Valor anunciado | US$ 3,5 bilhões | – |
Assim, o receio dos investidores é de que, após ter promovido o maior corte global de dividendos no segundo trimestre deste ano, conforme levantamento feito pela Janus Henderson, a Petrobras também fique de fora da lista de maiores pagadoras nos últimos trimestres ou mesmo no acumulado de 2023.
Aliás, vale lembrar que a companhia encerrou o ano de 2022 na vice-liderança do ranking global de maiores pagadores de dividendos, depois de ter conquistado o topo da lista apenas no segundo trimestre de 2022. Os dados são da gestora de fundos globais, com sede em Londres.
Dividendos x investimentos
Com isso, o foco agora se desloca para o novo planejamento estratégico da Petrobras, que deve ser lançado até o fim de novembro. Os investidores estão ressabiados quanto ao tamanho do plano de negócios, que pode ultrapassar a marca de US$ 100 bilhões, superando o volume atual esperado de investimentos de US$ 78 bilhões até 2026.
Isso porque há quem veja riscos vindos de potenciais fusões e aquisições e despesas com bens de capital (capex), dentre outros, como é o caso da XP. Ou mesmo foco maior em segmentos onde não possui vantagens comparativas, como transição energética, ou fora do negócio principal da companhia, conforme avaliam a Ativa e a Genial.
No entanto, existem também aqueles que seguem otimistas de que a Petrobras tem capacidade de gerar mais dinheiro do que investe e gasta, como avaliam o BTG Pactual. Para os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte, mesmo os rendimentos mínimos da estatal ainda são atraentes.
“Mesmo que os dividendos sejam distribuídos de acordo com a política atual, ainda vemos uma história convincente de distribuição”.
ANALISTAS DO BTG PACTUAL, EM RELATÓRIO.
A mesma opinião têm os analistas Caio Ribeiro e Leonardo Marcondes, do BofA. Para eles, o dividendo proposto está em linha com a nova política de remuneração da companhia, que prevê 45% do fluxo de caixa livre e leva também em consideração a quantidade de ações recompradas.
Ainda assim, o BTG lembra que muitas vezes a empresa acaba investindo menos do que o previsto. Cálculos do banco indicam que, nos últimos seis anos, os investimentos foram, em média, 25% inferiores ao previsto.
Com isso, a revisão do guidance da companhia para produção e investimentos no curto prazo acaba sendo positiva. Afinal, a petrolífera elevou a previsão de produção total de óleo e gás neste ano, ao mesmo tempo em que reduziu a estimativa para o capex em 2023, de US$ 16 bilhões para US$ 13 bilhões.
Segundo o Santander, essa previsão mais baixa no capex implica um investimento de aproximadamente US$ 3,9 bilhões no quarto trimestre deste ano, ante estimativa do banco de US$ 4,6 bilhões. “E isso implicaria dividendos maiores no próximo trimestre”, ressaltam os analistas Rodrigo Almeida e Eduardo Muniz do banco, em relatório.
Portanto, os dividendos não precisam, necessariamente, emagrecer, para que os investimentos possam ganhar corpo. Afinal, após completar 70 anos no mês passado, a Petrobras enfrenta agora o desafio de deixar de ser apenas uma petrolífera para se tornar uma empresa de energia, investindo, principalmente, em fontes renováveis.
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