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Negócios

Petrobras divulga resultado forte no 3º tri e dividendos (ainda) robustos

Contudo, geração de caixa e plano de negócios da companhia acionam sinal de alerta nos mercados.

Foi bom, mas vai piorar. É assim que o mercado financeiro enxerga o balanço da Petrobras (PETR3; PETR4), anunciado na noite desta quinta-feira (9). Isso porque, apesar de a estatal petrolífera ter apresentado mais um trimestre de resultado forte, o foco da nova gestão no desempenho operacional acende a luz amarela sobre os números financeiros. A ação preferencial (PN) da estatal recuava perto de 0,4% por volta de 13h30.

Mas o investidor não precisa se assustar. Não significa que a companhia pode voltar a ser a mais endividada do mundo, como foi o caso até recentemente. Aliás, a dívida líquida da Petrobras atingiu US$ 43,7 bilhões ao final de setembro, uma queda de 7,9% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado. 

O que deve acontecer é a Petrobras deixar de pagar dividendos gordos. A petrolífera já vinha dando esses sinais, após ter promovido o maior corte global em termos de remuneração aos acionistas no segundo trimestre, conforme levantamento feito pela Janus Henderson, após ter conquistado o posto de maior pagadora no mesmo período de 2022.

Amostra de diesel R5. (Foto: Divulgação/Agência Petrobras)
Amostra de diesel R5. (Foto: Divulgação/Agência Petrobras)

Contudo, talvez não seja tão ruim como se imagina. Tanto que a Petrobras elevou o dividendo a ser pago em 2024 referente ao terceiro trimestre deste ano, para R$ 1,34 por  ação ordinária (ON) e preferencial (PN). O valor representa um aumento em relação ao anterior, de R$ 1,15 por ação, e será pago em duas parcelas, em fevereiro e março, de R$ 0,67 para cada classe.

Sólido e robusto

Apesar de maior que o previsto (R$ 1,20), a Petrobras optou por anunciar dividendos mínimos, no total de R$ 17,5 bilhões, considerando-se a recompra de ações ao redor de R$ 1 bilhão no trimestre passado. Com isso, a XP Investimentos vê a estatal colocando o dedo no gatilho com potencial impacto negativo à frente, apesar de mais um trimestre sólido.   

“Continuamos vendo a Petrobras como uma tese complexa que, por um lado, fornece uma forte remuneração trimestral aos acionistas e, por outro, tem uma probabilidade não tão baixa de uma intensa perda de valor devido a vários riscos”. 

André Vidal e Helena Kelm da XP, em relatório.

No topo da lista de preocupações, está o fator político, avalia a Ativa Investimentos. Afinal, os ajustes na política de preços de combustíveis e as mudanças no estatuto da companhia sobre o pagamento de dividendos deixaram a sensação de déjà vu, relembrando episódios de interferência do governo na estatal. 

“A aparente disposição da Petrobras em aumentar os investimentos em segmentos onde não possui vantagens comparativas contribui para uma avaliação neutra sobre a companhia, à despeito da leitura positiva para os resultados neste trimestre”, explica o analista Ilan Arbetman, também em relatório. 

Tanto os analistas da XP quanto os da Ativa destacam a solidez nas demonstrações contábeis da companhia, com forte desempenho operacional. 

Aliás, os recordes da Petrobras em exploração e produção (E&P), no refino e no processamento de gás no terceiro trimestre foram comemorados pelo presidente da companhia, Jean Paul Prates, na rede social X (antigo Twitter):

Para o executivo da companhia, os números mostram que a tomada de decisão da nova gestão foi bem-sucedida, visando tornar a empresa “mais competitiva” e crescendo “de forma sustentável e rentável”. 

Porém, apesar dos custos menores, também houve queda nos volumes de vendas de gasolina e GLP, o que se refletiu em redução de mais de 40% no lucro líquido da Petrobras e baixas de quase 30% na receita e no Ebitda, cada, na comparação anual. 

Ainda assim, o Citi também considerou os resultados sólidos, com o Ebitda ajustado em linha com as estimativas e o pagamento de dividendos, mostrando que a Petrobras tornou-se uma “máquina de geração de caixa”.  

Plano de negócios põe dividendos em xeque

A grande questão para o mercado então é se esse desempenho pode mudar com o novo plano de negócios. Com isso, o foco dos investidores se desloca para o planejamento estratégico da Petrobras, que deve ser lançado até o fim de novembro.

Os investimentos podem representar um grande aumento daqui para frente. Aliás, os desembolsos da companhia saltaram quase 60% no trimestre passado, em base anual, para US$ 3,4 bilhões, como parte da previsão de aportes de US$ 78 bilhões até 2026.

“Este é o maior risco de curto prazo para a tese da empresa, uma vez que o plano deve não apenas incrementar o volume esperado atual de investimentos como ter um foco maior em transição energética”.

Filipe Villegas, da Genial Investimentos. 

Nos últimos dias, circularam notícias dando conta de que o plano de negócios deve superar a faixa de US$ 100 bilhões. As especulações geraram temores sobre um pagamento menor de dividendos à frente, dado o aumento das despesas em bens de capital (Capex) e maior deslocamento de recursos para segmentos sem tanto retorno.

Meio cheio ou meio vazio?

O BTG Pactual vê com cautela a chance de o plano de negócios exceder US$ 100 bilhões, dado o histórico de alocação de capital da Petrobras, com injeção de recursos em “projetos inorgânicos e em segmentos fora do negócio principal da companhia”. 

Porém, os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte não mudam a visão de que a Petrobras continuará capaz de realizar pagamentos extraordinários de dividendos. Até porque, muitas vezes, a empresa acaba investindo menos do que o previsto, ressaltam. “Nos últimos seis anos, os investimentos foram, em média, 25% inferiores ao previsto”, lembram.

24/02/2011 REUTERS/Sergio Moraes

Além disso, o Bradesco BBI lembra que os desembolsos definidos no plano de negócios serão repartidos ao longo dos próximos cinco anos. “E o mercado tende a prestar mais atenção aos pagamentos de dividendos de curto prazo”, diz. 

Tanto que o BBI ressalta que o pagamento de dividendos do terceiro trimestre, de aproximadamente US$ 3,5 bilhões, foi superior à estimativa da gestora, de US$ 3 bilhões, justamente devido aos investimentos da Petrobras menores que o esperado. 

Ou seja, no cabo-de-guerra entre dividendos e investimentos, há quem veja riscos vindos de potenciais fusões e aquisições e Capex elevado; enquanto outros seguem otimistas de que a Petrobras tem capacidade de gerar mais dinheiro do que investe e gasta. A conferir.

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