Finanças
Quais os melhores investimentos para a reta final do ano?
Especialistas comentam que, mesmo com Selic em queda, renda fixa segue atrativa, enquanto renda variável tem boas oportunidades de descontos.
Com a reta final de 2023 se desenhando sobre um contexto de Selic em baixa e um certo pessimismo no mercado de renda variável em meio a projeções de juros mais altos nos Estados Unidos, alguns investidores passaram a redesenhar suas estratégias. Mas especialistas ouvidos pelo InvestNews apontam que a renda fixa segue atrativa, enquanto na renda variável é preciso ficar atento para diferenciar bons ativos descontados.
No acumulado do ano até agora, índices de renda variável e de renda fixa têm apresentado tendências mistas, segundo levantamento feito pelo especialista Einar Rivero com dados do mercado.
O Ibovespa, por exemplo, se destaca entre os retornos mais baixos ao investidor, com alta de 6,22%, enquanto o BRDX e o Ifix (que acompanham o desempenho de BRDs e Fundos Imobiliários, respectivamente), ficaram entre os melhores investimentos. O avanço foi de 21% e 14%, respectivamente.
Entre os indicadores que servem de parâmetro para investimentos em renda fixa, o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) e o IMA Geral (que acompanha o retorno dos títulos públicos, como os papéis do Tesouro Direto) tiveram desempenhos parecidos, de 13% e 12%, respectivamente.
Veja abaixo as recomendações de investimentos de especialistas ouvidos pelo InvestNews.
Renda fixa
Cenário
Rodrigo Cohen, planejador financeiro e co-fundador da Escola de Investimentos, lembra que, apesar de iniciado o ciclo de queda, “ainda temos uma Selic com dois dígitos”. “E mesmo com a previsão do boletim Focus de juros em 11,75% no fim do ano, ainda assim não temos uma taxa tão baixa a ponto de valer a pena sair da renda fixa.”
Eduardo Rahal, analista chefe da Levante Corp, acrescenta que “com o recente estresse nos últimos dias de mercado, sobretudo refletindo o pessimismo com a política monetária nos EUA e um fiscal mais deteriorado no Brasil, abriu-se novamente oportunidade em títulos de renda fixa”.
Na mesma linha, Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, comenta que “mesmo em um ciclo de corte de juros, ainda vão encerrar o ano em patamares bem elevados”.
Onde investir
Rahal aponta “assimetria em taxas pré fixadas mais curtas, com vencimentos em 25/26, ao passo que, para o investidor mais arrojado, com a NTN-B longa pagando próximo de IPCA+6%, também passa a ser uma alternativa interessante, tanto para carrego como para um trade mais tático”.
Ele acrescenta que “uma parcela ainda alocada em CDI/Pós fixados ainda faz sentido, tendo em vista o rendimento ainda elevado (ainda que com dinâmica de queda)”. “O pós-fixado auxilia também na redução de volatilidade no portfólio do investidor, entregando rendimentos atrativos com liquidez”, explica o analista.
Por sua vez, Cohen diz que, para ele, os prefixados não são uma opção interessante para o investidor. “Às vezes o investidor compra um CDB que, naquele momento, está com uma taxa altíssima, e depois a situação macroeconômica muda, e aqueles juros sobem mais ainda tendo o investidor prejuízo caso queira se desfazer do ativo. Com isso, tem que levar até o vencimento ficando preso numa taxa que não está tão atrativa mais.” Por isso, ele indica ativos atrelados ao IPCA.
Cruz, da RB, aponta ainda que “quando a gente olha para fora, também há muitas oportunidades interessantes em renda fixa nos Estados Unidos, na Europa, isso tem sido bem atrativo”.
Renda variável
Cenário
Pensando na bolsa de valores, Cruz, da RB, diz que, com a queda da Selic, a perspectiva é de alguma melhora nos próximos balanços das empresas, o que deve ajudar na valorização das ações. “A gente vê no que já foi reportado sobre 2023 que algumas têm resultado operacional melhor mas, quando chega na linha financeira, o consumo de pagamento de juros é muito grande. Então provavelmente no ano que vem uma melhora ocorra”.
Também com boas projeções para ações, Rahal, da Levante, avalia que “a bolsa brasileira, em especial após as correções recentes, entrega uma assimetria atrativa”.
“Os múltiplos da bolsa refletem o pessimismo do mercado, bem como a falta de liquidez, tendo em vista o avanço nos yields das treasuries americanas que drenam a liquidez dos mercados. Ainda assim, vemos a bolsa barata, ‘tradando’ abaixo da média histórica e ante um ciclo de afrouxamento monetário com cortes de juros”.
Eduardo Rahal, analista chefe da Levante Corp
Mas ele reforça que “o momento ainda exige cautela”, já que “o elevado patamar de juros, a concorrência abrupta em alguns setores e a alavancagem de alguns segmentos exigem um ‘stock picking’ adequado para atravessar este período mais turbulento”.
Onde investir
Cohen aponta que a queda dos juros deve beneficiar ações de construtoras (especialmente as voltadas para consumidores de baixa renda), tecnologia e educação. Ele também menciona o varejo, mas pondera: “no momento atual, eu não estou vendo nenhuma empresa de varejo tão forte a ponto de valer a pena comprar, mesmo com a queda dos juros”.
Já Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, destaca três recomendações ao investidor nesta reta final de 2023: Kepler Weber (KEPL3), PRIO (PRIO3) e Neoenergia (NEOE3).
“Apesar do primeiro semestre com resultados pressionados, a demanda por armazenagem cresce em ritmo acelerado e já há bons projetos que devem entrar no segundo semestre deste ano”, diz ele sobre a primeira, mencionando ainda o Plano para Construção de Armazéns (PCA) do Governo Federal “que deve beneficiar a Kepler”.
Sobre Prio, “apesar do cenário macro desafiador e os juros em alta, o barril de petróleo segue em patamares elevados e não há sinais de arrefecimento ao longo deste ano”. “A Prio é a empresa do setor que mais tem gerado valor nos últimos anos e segue crescendo e entregando resultados”, diz.
Por fim, ele diz que Neoenergia, “além de se beneficiar da queda de juros”, também deve sentir os efeitos a alta do consumo de energia com o fim do inverno “nas regiões em que ela atua, que são algumas das regiões mais quentes do país (Nordeste e centro oeste), o que pode impulsionar seus resultados”.
Especialistas ainda comenta outro fator que também deve estar no radar dos investidores nos próximos meses: o câmbio. Nesse sentido, Rahal, da Levante, indica que “ativos dolarizados podem se beneficiar de um dólar mais forte no mundo, tendo em vista a atratividade dos títulos norte-americanos, bem como a diminuição do diferencial de juros reais para emergentes, incluindo o Brasil.”
“Neste caso, ativos com receitas dolarizadas podem se sair melhor, especialmente as exportadoras”, diz ele.
Mas o analista reforça que é preciso estar atento aos riscos antes de investir. “Embora estejamos vendo oportunidade e assimetria, é natural que haja volatilidade no meio do caminho. Além disso, é crucial escolher bem os nomes para surfar o ciclo, pois muitas empresas passam por situações delicadas em termos de balanços, estrutura de capital”, diz.
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