Os juro americano está num patamar tão elevado que, mesmo com o corte desta semana, ainda vai permanecer um bom tempo no maior nível em quase uma década e meia. Isso significa que este ainda é um bom momento para quem pensa em dolarizar parte de sua carteira.
Uma forma de fazer essa diversificação e obter um retorno polpudo, mas sem correr o risco do mercado de ações no exterior, é investir nos chamados “corporate bonds”. Esses papéis de renda fixa são emitidos por empresas do mundo inteiro, inclusive brasileiras, para conseguir recursos em moeda americana. Esses títulos de dívida se assemelham às debêntures no Brasil, mas pagam em dólar e têm um rendimento maior do que o do Tesouro americano.
A “mágica” dessa remuneração mais alta, na verdade, vem de uma constatação simples: os papéis das companhias são vistos como mais arriscados se comparados aos do governo dos Estados Unidos. Por isso, eles pagam um prêmio sobre o rendimento dos Treasuries, os títulos do Tesouro dos EUA. Esse prêmio para atrair os investidores dos corporate bonds vai variar de acordo com a classificação do risco de crédito da empresa e o prazo de vencimento do título.
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Por exemplo, o título americano (Treasury) com vencimento em 10 anos exibia uma remuneração nominal de 3,64% ao ano em 17 de setembro. Já o bond da Apple de prazo semelhante pagava um prêmio de 0,66 ponto percentual acima do papel público ou 4,3% ao ano.
Também dá para aproveitar o mercado internacional para aplicar em bonds de empresas nacionais e receber em dólar. Os títulos brasileiros lançados no exterior embutem ainda uma vantagem extra para os investidores locais. Companhias consideradas aqui como verdadeiras fortalezas podem ser vistas como mais arriscadas pelos estrangeiros. Além disso, os papéis emitidos por elas têm que competir com os bonds de empresas de muitos outros países. Por isso, precisam pagar retornos mais generosos para atrair o investidor.
É o caso da Petrobras. O bond com vencimento em julho de 2033 da petroleira era negociado em 17 de setembro com uma taxa de 5,52% – um prêmio de 1,88 ponto percentual sobre o Treasury de 10 anos.
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Entre as companhias brasileiras, vários grupos conhecidos têm títulos em dólar acessíveis a aplicadores locais por meio das plataformas de investimentos. Por valores iniciais entre US$ 900 e US$ 1.000, pode-se obter ganhos de até 8,93% ao ano em moeda americana. Esse é o caso do bond da Movida, com vencimento em abril de 2029.
Já a BRF tem um título com prazo de término em setembro de 2050 e retorno de 6,88% anual. Outro papel, o da CSN com vencimento em janeiro de 2028, paga 7,97% ao ano. E o bond de junho de 2030 da Cosan tem retorno de 5,29%.
Grande parte dos bonds de grupos brasileiros são emitidos por suas subsidiárias no exterior, caso da Embraer Netherlands Finance e da Suzano Áustria. No primeiro caso, o vencimento de julho de 2030 tem cupom de 7% ao ano. O papel da controlada da Suzano vence em janeiro de 2029 e aparece com cupom de 6% ao ano.
De olho no cupom
Uma característica dos bonds é que eles garantem ao investidor um pagamento periódico de juros, que pode ser semestral ou anual. São os cupons. E é comum que papéis de companhias americanas ou europeias paguem taxas menores. O título da Apple que vence em maio de 2030, por exemplo, foi lançado com um cupom equivalente a 4,15% ao ano.
Em outro caso, da multinacional de tecnologia Nvidia, um bond que vence em abril de 2030 possui um cupom semestral de 2,85%. Um papel da Microsoft com vencimento menor, em fevereiro de 2027, tinha cupom de 3,30% ao ano.
Os bonds podem ser negociados no mercado secundário antes do vencimento. Mas, assim como em qualquer ativo de renda fixa, os preços desses ativos podem variar conforme as condições de mercado, para mais ou para menos. O papel da Apple citado, por exemplo, era negociado a uma taxa de 3,64% ao ano (considerando os cupons mais atualização do valor principal) no dia 10 de setembro. Ou seja, o investidor que comprou o papel no momento da emissão à taxa de 4,30% teria uma perda se vendesse o bond agora.
O efeito cambial
Normalmente, a taxa de remuneração dos bonds é prefixada, ou seja, o investidor já sabe de antemão quanto vai ganhar. Mas nessa conta é preciso considerar também um elemento fundamental: o câmbio.
Sim, como são papéis dolarizados, o investidor brasileiro que tiver interesse em diversificar os recursos nessa modalidade precisa avaliar também esse risco – que pode aumentar ou reduzir os ganhos, dependo das cotações.
Análise de risco
Como é preciso considerar a hipótese de não pagamento da dívida, existem agências de classificação de risco que divulgam avaliações sobre as empresas. Essas notas servem de referência para os investidores e influenciam a remuneração dos bonds. Quanto menor a chance de calote de uma companhia, mais baixa a remuneração aceita pelo mercado para comprar seus papéis. Seguindo a mesma lógica, títulos mais arriscados precisam remunerar melhor para atrair capital.
“Emissores com as maiores notas de crédito possíveis (AAA, AA+ ou AA-) costumam lançar bonds com prêmios que variam entre 0,5 e 0,8 ponto percentual acima dos Treasuries, no caso de papéis de longo prazo”, diz Paula Paula Zogbi, gerente de research da Nomad, fintech que oferece conta e investimentos em dólar para brasileiros.
Esse é o caso de empresas como Apple, Nvidia e Microsoft. Vale ressaltar que não se trata de uma regra, apenas uma referência – os prêmios podem variar de acordo com o momento de mercado.
Essas companhias menos arriscadas recebem a classificação “grau de investimento”. Em um relatório recente, o diretor e estrategista de renda fixa da multinacional de serviços financeiros Charles Schwab, Collin Martin, diz que os bonds dessas empresas seguem atrativos, apesar da queda recente nos rendimentos. Como parâmetro, ele diz que o retorno médio do índice Bloomberg US Corporate Bond (que mede o desempenho de papéis do tipo) caiu para 4,9% ao ano no fim de agosto, em comparação com o nível máximo alcançado em outubro do ano passado (6,4% ao ano).
As maiores companhias brasileiras costumam ter notas de risco mais baixas do que as gigantes americanas. Em junho deste ano, por exemplo, a S&P Global Ratings atribuiu classificação “BBB-” para uma proposta de emissão de bonds da Vale Overseas, com vencimento em 2054. Isso significa nove degraus abaixo do topo (AAA). Por conta disso, esses papéis precisam oferecer remuneração mais elevada.
Brasil está na turma do fundão
Para investir em bonds a partir do Brasil, o interessado precisa ter conta em um banco, corretora ou instituição que opere no país e esteja autorizada a fazer aplicações no exterior. Uma das vantagens é que os custos das operações – como corretagem e outros – são automaticamente convertidos e debitados em reais. O mesmo acontece com o crédito das
remunerações.
Outro caminho é abrir uma conta em uma corretora estrangeira. Nesse caso, as transações são feitas em dólar, mediante o envio de recursos para essa instituição. Nesse caso, todos os custos ficam somente em dólar, com a necessidade de envio de recursos para essa instituição. Quanto ao imposto sobre os rendimentos de pessoas físicas residentes no Brasil em aplicações no exterior, a legislação determina atualmente uma alíquota única de 15%.
O valor mínimo exigido para investir em bonds pode variar de uma instituição para outra, e também de acordo com a escolha do papel. Normalmente parte de US$ 1 mil.
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