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Vaivém do dólar: por que a moeda está oscilando tanto?

Alguns acham que as coisas melhoraram, outros nem tanto. Como o mercado de câmbio precificou as turbulências no cenário político e global?

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Desde o início do ano, a moeda americana acumula uma valorização de mais de 30% em relação ao real. Alguns analistas já trabalhavam com a possibilidade de a cotação romper o patamar dos R$ 6, quando na semana passada a taxa de câmbio inverteu a tendência de forma surpreendente. O dólar teve uma queda acumulada de mais de 4% e ficou na casa dos R$ 5,40. 

Mesmo sendo uma queda expressiva em pouco tempo, ainda se considera que a taxa de câmbio permanece em patamares elevados, se comparada aos meses anteriores. Com toda turbulência política e a crise sanitária do coronavírus sem perspectiva de fim, é de se perguntar: quais forças têm operado na movimentação do câmbio? Os analistas ao menos esperam que o limiar dos R$ 6 ainda pode ser atingido? Qual o futuro do dólar?

A caminhada em 2020

O professor Francisco Eduardo Pires, do Instituto de Economia da Faculdade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divide em três momentos a trajetória de valorização do dólar ante o real neste ano. Uma primeira etapa “pré-consciência do coronavírus”, segundo ele, que aconteceu antes da primeira semana de março. Nesse período a desvalorização do real frente ao dólar foi de 11%. Comparando-se com as moedas de países emergentes, a desvalorização do real foi 7%.

A segunda etapa se origina com a percepção do mercado de que a crise seria inevitável, determinando uma desvalorização ainda maior, de 16%. Já na terceira etapa, Francisco explica que nasce da intensificação da crise política. “Chamamos de efeito idiossincrático”, declara.

O marco dessa terceira etapa para Francisco é a demissão do ministro da Saúde, Henrique Mandetta, em 16 de abril. Mesmo com a rápida substituição, em menos de dois dias, por Nelson Teich, o movimento custou uma desvalorização de mais ou menos 15%, em relação às outras moedas emergentes.

Francisco considera que o mercado foca em um critério particular durante as disputas políticas, a governabilidade. Portanto, cita alguns outros eventos importantes que abalaram a confiança dos investidores, como a demissão do ministro Sérgio Moro e o conflito com o poder judiciário. Mas confessa que não consegue explicar a queda na cotação que aconteceu na última semana.  

Intervenção do BC e mercado futuro

O ex-servidor do Banco Central (BC) e mestre em administração de empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Aparecido Francisco Sales, acha que ao contrário do que esperávamos, o mercado de câmbio não se importa tanto com a crise política. A resposta para a queda da última semana, segundo ele, é a expectativa com as reaberturas econômicas fora do país. 

Mesmo considerando “que as instituições estão mostrando alguma resiliência” durante a crise, ele tem posições contundentes a respeito das atuações do BC, protagonista no controle da cotação. Para obter o título de mestre, sua dissertação sobre a eficácia do swap cambial citou alguns estudos defendendo a hipótese de que “o preço [da moeda estrangeira] é formado no mercado futuro e, por arbitragem, é transmitido para o preço à vista”.

É preciso esclarecer alguns pontos. Arbitragem financeira é a obtenção de lucro a partir da compra e venda na diferença de preços, mas e o swap cambial? Diferente da queima de reserva estratégica, quando o BC oferece diretamente dólar ao mercado, afetando preço à vista, o swap é um derivativo. Isso significa que o swap é um contrato financeiro derivado de um preço, que estabelece uma aposta futura. Qual preço? O preço do dólar em relação ao CDI (taxa básica das trocas interbancárias).

Confuso? Sales ilustra com um exemplo. Imagine que um desastre aconteceu (como uma pandemia) e o dólar americano, da economia mais forte e consolidada do mundo, um ativo super-seguro portanto, entra em viés de alta. Os bancos estão ansiosos para ir ao mercado e comprar moeda. Então o BC intervém oferecendo um papel que diz “Não compre moeda! Compre esse papel que lhe pago a variação do dólar em troca de juros (CDI)”. Por isso, o termo swap (troca em inglês). O BC troca a variação da moeda pela variação do CDI.

Está clara a vantagem das instituições financeiras que participam dos leilões de swap, mas para o BC, a estratégia funciona para contenção da alta, mas qual o limite dessa atuação? Segundo a pesquisa de Sales, para o período observado, de julho de 2017 a setembro de 2018, os swaps não foram eficientes para conter a volatilidade da cotação.

Só que na semana passada, independentemente da sua eficácia, os swaps tiveram um efeito diferente. Como os contratos esperavam uma alta, e a cotação entrou em baixa, a variação perdeu para o CDI. “O Banco Central provavelmente ganhou com essa queda”, diz Sales. Sorte dos investidores que apostaram na compra de swap reverso, ou seja, quando se espera uma queda na variação do dólar.

A reação do mercado

“Na semana passada, nós tivemos um abrandamento da crise política. A reunião do dia 21, com os governadores e o presidente, mostrou uma coordenação melhor, e na sequência, o vídeo da reunião ministerial não revelou para o mercado um motivo caaz de justificar um pedido de impeachment.” Essa é a resposta para a queda na cotação, seugndo a porta-voz do departamento de câmbio da Ourivest, Fernanda Consorte.

Ela não nega que algumas oscilações foram causadas por conflito político, como na quinta-feira quando a disputa entre o presidente e o STF se intensificou após a operação anti fake news da Polícia Federal. “O câmbio ainda está alto, mas quando o dólar estava a R$ 5,70, era um cenário de crise política muito pior do que está hoje.”

Para o futuro, ela disse que o mercado espera mais um corte na Selic, ou seja, mais um determinante de alta. Os investidores saem do país quando a taxa de juros brasileira (maior mas com mais risco) e a americana (menor mas com menos risco) convergem e diminuem a diferença.    

Efeitos da taxa de câmbio alta

Consorte vê a melhora do câmbio condicionada à saída da crise econômica atual, mas acha prematuro tratar da pressão inflacionária causada pelo dólar alto em uma eventual retomada econômica. O chamado pass-through (repasse da alta do dólar nos preços da economia), que não é perceptível agora porque a pandemia derrubou o nível de consumo — em abril o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou negativo (-0,31%) —, também não era tão sentido antes da crise, pelo menos se comparado aos anos anteriores a 2008.

É isso que trata a monografia de Alessandra Becker Rieper, orientada pelo professor Francisco Eduardo Pires. Formada em Ciências Econômicas pela UFRJ, ela afirma que “nos anos anteriores à crise de 2008”, a variação da taxa de câmbio “era uma variável que possuía efeitos aproximadamente três vezes maiores sobre a inflação do que possui no período mais recente.”

As expectativas de inflação dos agentes econômicos e o nível de atividade econômica também são altamente determinantes no efeito de pass-through. Logo, ela não vê no curto-prazo “um repasse das depreciações cambiais para os preços no país.” 

Assim, sem outros grandes motivos para preocupação, sobra para se beneficiar da desvalorização da nossa moeda as exportações de commodities do agronegócio. Esperando, porém, que a crise política não faça maiores estragos na importação de insumos, e a reabertura em outros países possa alavancar a demanda elos produtos brasileiros.

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