Chegou ao fim uma semana instável no mercado, mas que foi salva aos 45 do segundo tempo. O Ibovespa, principal índice da B3, fechou em alta de 0,05% aos 101.521 pontos nesta sexta-feira (21). No acumulado da semana o índice subiu 0,17%.
Adormecida por alguns meses, a política brasileira acordou e decidiu fazer estrago. No Ministério da Economia a dança das cadeiras deixou os investidores de cabelo em pé. E como se não fosse suficiente, a ameaça do risco fiscal brasileiro voltou a bater na porta.
A cereja do bolo foi o Senado tentando anular um veto de reajuste salarial para funcionários públicos que custaria quase R$ 120 bilhões aos cofres nacionais em plena crise. E quando o barco parecia ir à deriva, Paulo Guedes instituiu no calendário brasileiro o “dia do fico” gritando aos quatro ventos que a relação com Jair Bolsonaro está ótima, nenhum motivo de preocupação aparentemente.
Com toda essa montanha russa de emoções, o Ibovespa se rebelou e caiu aos 99 mil pontos, um grande baque após 4 meses de alta consecutivos. Mas, no final tudo deu certo, apesar de que no mês de agosto a bolsa ainda cai 1,35%.
Para Murilo Breder, analista da Levante Investimentos não é preciso ficar ansioso se o Ibovespa opera abaixo dos 100 mil pontos, embora esta seja uma marca psicológica importante para o investidor. Ele destaca que não teremos mais quedas abruptas até o final do ano. “Renda variável é isso, uma hora a bolsa seria testada e o mês de agosto prova isso”, defende.
Para o analista as quedas do índice fazem parte de um movimento natural do mercado, mas que de forma alguma significa que voltaremos ao patamar da crise. Prova disso são os indicadores econômicos que já começam a trazer boas notícias. O índice IBC-Br, a previa do PIB, teve crescimento de 4,89% em junho ante maio. E nesta sexta-feira (21) foram divulgados dados do Caged, que apontam a criação de 131 mil vagas de trabalho no mês de julho. Até o ministro Paulo Guedes já comemora uma possível recuperação da economia brasileira em formato V. Ainda há esperança para os investidores!
Maiores altas
Os destaques positivos da semana também acompanham a recuperação global, especialmente quando o assunto é China, exportação e também seguindo a alta do dólar. Todas exceto a Ultrapar que disparou graças a um novo acordo de acionistas.
A maior alta da semana foi a Marfrig (MRFG3) que subiu 14,48%. Quando o assunto é carne, o apetite da China e EUA aumenta, bom para os frigoríficos que fazem a festa.
Outro fator que auxiliou foi o resultado trimestral da Marfrig, divulgado na semana passada que surpreendeu o mercado. A empresa teve lucro de R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre, um salto de 1738% comparado ao resultado no mesmo período em 2019. “O mercado já vinha precificando um resultado bom e os números foram acima do esperado. A tendencia para a ação nos próximos dias ainda é de alta” afirma Breder.
Para o analista o apetite chinês é muito forte somado a alta do dólar que beneficia cada vez mais exportadoras como a Marfrig. Breder também destaca a alta no preço do gado brasileiro que parece apontar o fim de um ciclo, favorecendo ainda mais a companhia. E reforça que o PIB brasileiro no segundo trimestre, que será divulgado no 1º de setembro, deve ter o agronegócio como destaque. “O agronegócio sempre carregou nas costas o PIB e acreditamos que não será diferente desta vez”, diz.
A segunda maior alta da semana foi segundo Breder um ponto fora da curva. É a Ultrapar (UGPA3) que teve alta acumulada de 10,38%. A companhia disparou com a notícia de que a renomada gestora de recursos Pátria fechou um acordo de acionistas e agora terá uma cadeira no Conselho de Administração do grupo. “É uma gestora de renome o que traz uma forte expectativa de melhorias na governança corporativa da Ultrapar, que sofreu nos últimos anos com escândalos de corrupção”, avalia.
Entre os destaques da semana brilharam as siderúrgicas puxadas pela demanda chinesa crescente por aço e o preço do minério de ferro em alta. A tonelada da commoditie chegou a ser negociada em até US$ 130, patamar visto pela última vez há 6 anos.
Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e Gerdau Metalúrgica (GOAU4) também subiram com a notícia de que a venda de aço cresceu 19,4% em julho comparado ao mesmo período em 2019.
Segundo o Instituto Nacional de Distribuidores de Aço a expectativa de crescimento na venda da commoditie é de 3% para 2020.
Veja as cinco maiores altas da semana:
Ação | Alta |
Marfrig (MRFG3) | 14.48% |
Ultrapar (UGPA3) | 10.38% |
Gerdau (GGBR4) | 9.39% |
Usiminas (USIM5) | 9.00% |
Gerdau Metalúrgica (GOAU4) | 8.78% |
Maiores quedas
A maior queda da semana foi a Cogna (COGN3) que recuou 8,76%. Há alguns dias a companhia vem desiludindo os investidores. Para reforçar a decepção nesta semana o Credit Suisse avaliou a empresa como “underperform” com preço alvo de R$ 6.
O balanço do segundo trimestre na companhia também não ajudou, a Cogna teve prejuízo de R$ 140 milhões, revertendo lucro de R$ 266 milhões no mesmo período em 2019. “As expectativas do mercado com a Cogna já eram pessimistas por causa da Covid e a suspensão do Fies até 31 de dezembro, mas apesar disso os resultados vieram abaixo do esperado”, explica Bruno Komura, analista de renda variável da Ouro Preto Investimentos. Ele reforça que agora o mercado espera que a Cogna se reestruture para lidar com a inadimplência e evasão dos estudantes.
A segunda maior queda da semana foi a Sabesp (SBSP3) com queda acumulada de 8,03%. Como diria o velho ditado “o peixe morre pela boca”, no caso da Sabesp foi pela boca do João Dória, governador de São Paulo.
Segundo Komura, as ações da companhia sofreram após Dória declarar que a empresa voltaria ao plano de capitalização (aumento de capital da companhia) e também participaria de concessões em outros estados.
Com o risco deste movimento travar a privatização da Sabesp o mercado ficou indigesto. “Entre as empresas com maior potencial de privatização está a Sabesp, a capitalização poderia postergar ou mudar os planos para a companhia”, explica.
Acompanhando os novos casos de Covid-19 que podem colocar em xeque a reabertura econômica das nações recuaram também as companhias aéreas. No Brasil, outro setor que foi impactado apesar da sua resiliência foi o farmacêutico que segundo Komura deve virar para a queda junto com o varejo.
Veja as cinco maiores quedas da semana: