Existe um movimento inevitável que é a correção do mercado. Afinal, tudo o que sobe muito, uma hora cai. E não podia ser diferente com o Ibovespa, que quase encostou nos 100 mil pontos em uma onda de euforia dos investidores. Após 11 altas consecutivas, chegou a hora também do principal índice da B3 cair. Nesta sexta-feira (12), a bolsa de valores teve queda de 2% aos 92.795 pontos. Na semana, o índice recuou 1,95%. Mas, ainda exalando esperança de dias melhores, no mês de junho a bolsa tem valorização de 6,17%.
Mas, e agora? Essa dança de sobe e desce vai ter um fim? Ou as previsões pessimistas do Federal Reserve que alertaram o mundo sobre uma segunda onda do coronavírus e uma recuperação demorada da economia americana colocaram um fim na vontade dos investidores de ir às compras.
Para Caio Fernandez, consultor de investimentos da Ivest, este movimento de realização de lucros é saudável e o fato da bolsa ter recuado aos 92 mil pontos não implica que a tendência agora é de queda. “Acredito que para o Ibovespa a tendência ainda é de alta, fundamentada no fortalecimento da confiança dos investidores que optam por investir na bolsa a nível global”, afirma.
Fabio Galdino, head de renda variável da Vero Investimentos enxerga o movimento da bolsa como coerente comparado a outros países emergentes. Para ele as expectativas com o Ibovespa ainda são positivas. “É um movimento global com os bancos centrais injetando dinheiro, os investidores frente a um cenário com taxas de juro reduzidas, tendem a olhar mais para a renda variável”, explica.
Apesar do forte movimento especulativo sobre uma possível segunda onda do coronavírus, Galdino acredita que o mercado vai ter que aprender a lidar com isso, porque ainda vamos conviver com essa realidade por muito tempo, mas o desafio é ter cada vez menos impacto financeiro.
Maiores altas
Entre as maiores altas da semana o varejo dispara, refletindo que a reabertura dos comércios e shoppings foi bem recebida pelo investidor. O destaque positivo da semana foi da B2W (BTOW3), que avançou 15,22% no acumulado. Seguida do Magazine Luiza (MGLU3), com alta de 7,57%. Ainda na 4ª posição entre as maiores altas da semana, estão as Lojas Americanas (LAME4) que subiram 5,39%.
Galdino enxerga nas varejistas o impacto da euforia dos investidores com a flexibilização da quarentena. Outro fator que ajudou na alta foi o aumento das vendas online, que teve um crescimento constante desde abril. “A Magazine Luiza não está na liderança por causa do cancelamento da distribuição de R$ 290,9 milhões em dividendos”, acrescenta.
Na 3ª posição das maiores altas da semana está o IRB Brasil (IRBR3), que avançou 6,88%, em meio a duas investigações da Susep e CVM e graves problemas de governança. Galdino avalia que os papéis, com forte desvalorização, passam por um movimento especulativo, o que explicaria a alta da companhia em meio ao caos. “Não podemos esquecer que o IRB é monopolista do setor e apesar dos problemas de governança, isso não necessariamente se traduz nos negócios”, afirma.
A quinta maior alta da semana foi da Equatorial (EQTL3), que subiu 5,06%. Um crescimento modesto de acordo com Galdino para uma empresa do setor elétrico focada no Nordeste, que tem apresentado rápida recuperação. “É um papel defensivo, que paga bons dividendos”, aponta.
Confira as 5 maiores altas da semana:
Ação | Alta |
B2W (BTOW3) | 15.22% |
Magazine Luiza (MGLU3) | 7.57% |
IRB Brasil (IRBR3) | 6.88% |
Lojas Americanas (LAME4) | 5.39% |
Equatorial (EQTL3) | 5.06% |
Maiores quedas
O destaque negativo da semana foi da Yduqs (YDUQ3), que recuou 13,30% no acumulado. A companhia também teve um movimento de realização de lucros após anunciar a aquisição de uma unidade no norte do país, ainda pendente da aprovação do Cade.
A segunda maior queda foi da Braskem (BRKM5) que teve, nesta sexta-feira (12), sua recomendação de compra rebaixada para neutra pelo banco UBS. “Isso impacta no valuation e nível de risco da companhia, somado a dependência da Braskem com o dólar”, avalia o consultor Caio Fernandez. A Braskem recuou 9,32% na semana.
Outra ação que caiu apesar da reabertura econômica e o auge das varejistas foi a Cia Hering (HGTX3), que sofreu queda de 8,51%. O movimento da companhia na contramão do setor de varejo se fundamenta no medo do investidor frente a uma segunda onda da Covid-19. “Apesar da retomada do varejo as pessoas ainda não priorizam a compra de roupas ou itens fúteis”, defende Fernandez.
Apesar do dólar estar retomando seu crescimento, as fortes quedas experimentadas nos últimos dias afetaram algumas companhias, especialmente as exportadoras. É o caso da Gerdau (GGBR4), que caiu 8,50%. Mesmo com a retomada da China e a demanda por minério de ferro que beneficiaria a companhia, Fernandez explica que o mercado ainda olha com receio para o longo prazo, especialmente quando se fala do setor de construção civil.
Na 5ª posição está a Cogna (COGN3), que recuou 7,97%. Fernandez considera o papel especulativo, com um movimento semelhante ao da OI. “Qualquer notícia positiva atrai o olhar dos vendedores”, explica.
Este seria um dos motivos que sustentaria o porque a Cogna precificou de forma negativa uma notícia positiva. Na quinta-feira (11), a empresa assinou um aditivo ao contrato da operação da Somos, extinguindo a conta garantia estabelecida em oferta pública de ações e repactuando as obrigações de indenização da Tarpon, gestora da Saber Serviços Educacionais, braço de educação básica da Cogna.
Confira as 5 maiores quedas da semana: