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Finanças

Via no vermelho: veja a opinião de analistas sobre o prejuízo no 3º tri

Empresa identificou um aumento de 82% no número de processos trabalhistas no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo intervalo do ano passado.

via varejo
Centro de distribuição da Casas Bahia, da Via Varejo, em Jundiaí (SP) 04/12/2009 REUTERS/Paulo Whitaker

Via (VIIA3), dona da bandeira Casas Bahia e do banco digital banQi, surpreendeu o mercado ao publicar na véspera os resultados financeiros do terceiro trimestre. A companhia teve prejuízo líquido contábil, impactada por revisões em provisões geradas por processos trabalhistas.

Em fato relevante, a empresa informou que identificou um aumento de 82% no número de processos trabalhistas no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo intervalo do ano passado. Com isso, as provisões (despesas ainda não pagas) que somavam R$ 1,2 bilhão em junho deste ano subiram para R$ 2,5 bilhões em setembro.

Diante do cenário, a companhia registrou prejuízo líquido de R$ 638 milhões no terceiro trimestre, ante lucro líquido de R$ 590 milhões contabilizados no mesmo intervalo do ano passado.

Já a receita líquida caiu 6% no comparativo anual, para R$ 7,34 bilhões. O resultado antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) ficou negativo em R$ 923 milhões, ante montante positivo de R$ 1,12 bilhão registrado no mesmo intervalo do ano passado.

Em relatório, a empresa mencionou que tem tomado ações desde 2011 visando “melhorar sua rentabilidade” incluindo redução de 39% do seu quadro de pessoal. “Essas demissões impactaram fortemente a entradas de reclamações trabalhistas, principalmente nos anos de 2016 e 2017”, informou a varejista.

As ações da empresa despencavam 11,63% por volta das 17h desta quinta-feira (11). Veja aqui mais destaques da bolsa. Confira abaixo a avaliação de analistas sobre os resultados reportados pela empresa.

Itaú BBA

Em relatório, Thiago Macruz, Helena Villares, Maria Clara Infantozzi e Felipe Amancio, analistas do Itaú BBA, consideraram os resultados “nada surpreendentes”. A equipe reiterou que a empresa espera poder compensar o desembolso de caixa dessas ações trabalhistas com a monetização de créditos fiscais. Além disso, a casa colocou os papéis da empresa em “revisão”.

“Decidimos dar um passo atrás, retrabalhar nosso modelo e repensar a tese de investimento para a empresa à luz do anúncio de hoje. Nossas estimativas atuais e preço-alvo não refletem mais nossa visão”, disseram os analistas.

A equipe lembrou que, diante do aumento do ticket médio dos processos trabalhistas e da aceleração do ritmo de entrada de novos processos, a companhia teve que provisionar R$ 1,2 bilhão neste trimestre (além dos R$ 1,3 bilhão provisionados no quarto trimestre de 2019).

“Isso, combinado com as provisões contabilizadas neste trimestre (R$ 271 milhões), somam um impacto total de R$ 1,49 bilhões no Ebit, conforme divulgado no release (e de R$ 989 milhões no lucro líquido)”, lembrou a equipe.

Os analistas do Itaú também mencionaram o cronograma de provisões adicionais para os próximos anos, incluindo a fatia entre R$ 900 milhões e R$ 1 bilhão prevista para 2022. “A administração espera que essas provisões se traduzam em um desembolso de caixa entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões no próximo ano. No entanto, a empresa também acredita que esse valor será mais do que compensado pela monetização do crédito tributário, estimado em cerca de R$ 1,8 bilhão para 2022 (e em torno de R$ 1,8 bilhão de 2023 em diante)”, disse a equipe do Itaú.

O GMV (vendas brutas das mercadorias) online da Via, que atingiu R$ 5,86 bilhões, alta de 33% comparativo anual, ficou 3% acima da projeção do Itaú, enquanto a receita líquida de R$ 7,34 bilhões ficou 3% abaixo das estimativas do banco.

Nu invest

Para Murilo Breder, analista do Nu invest, a provisão para os processos trabalhistas “manchou” algumas importantes conquistas da companhia, como oito trimestres consecutivos de ganho de market share; bom NPS (satisfação dos clientes) e a malha própria de logística que saiu de 16% em 2019 para 56% este ano.

“Ainda assim, as principais linhas do balanço vieram abaixo do esperado, sendo que os processos trabalhistas devem seguir impactando fortemente o fluxo de caixa em 2022 e 2023, segundo a própria estimativa da companhia, retornando a níveis mais baixos apenas a partir de 2024”, explicou Breder.

O analista complementou que a Via, até então, vinha demonstrando ao mercado que estava se recuperando operacionalmente e encurtando a distância de suas concorrentes diretas como Magalu, Mercado Livre e Amazon, mas essa meta ficou mais longe.

“Enquanto o Mercado Livre divulgou bons números no último dia 5 de novembro, com Magalu podendo seguir pelo mesmo caminho (os dados serão divulgados após o encerramento do pregão desta quinta), o custo bilionário dos processos trabalhistas somado a um desempenho operacional abaixo do esperado voltam a deixar o mercado com a sensação de que Via é a companhia com a ‘casa menos arrumada’, para trás qualitativamente na disputa do e-commerce brasileiro”, avaliou o analista do Nu invest.

XP Investimentos

A XP Investimentos, por sua vez, apontou em relatório que entre as três companhias de sua cobertura varejista que reportaram seus resultados ontem, a Via foi o destaque negativo. Também divulgaram balanços Vivara e d1000.

Para os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday, a Via reportou resultados em linha, mas “ofuscados” pelo anúncio de provisão para demandas judiciais trabalhistas.

O GMV total da empresa, que cresceu 5,8% no comparativo anual, ficou 1,7% acima das previsões da XP, com o crescimento do online mais do que compensando a performance mais fraca das lojas físicas, que registram queda de 14% no comparativo anual.

Por outro lado, a equipe ponderou que essa compensação não ocorreu na receita – que caiu 6% ante o mesmo intervalo do ano passado – devido à maior representatividade das lojas físicas.

A margem bruta foi um destaque, na avaliação dos analistas, com crescimento de 0,5 ponto percentual ante o mesmo intervalo do ano passado, mesmo diante da maior participação do digital, o que não se refletiu na margem Ebitda ajustada que caiu 2,6 ponto percentual, em comparação ao terceiro trimestre do ano passado, devido a maiores investimentos em marketing digital e as despesas com processos trabalhistas.

“Por fim, destacamos que a companhia segue avançando em suas iniciativas estratégicas, com o lançamento do crediário para o marketplace previsto no quartro timestre de 2021 e algumas lojas ativadas como pontos de drop-off de sellers. Mantemos nossa recomendação neutra e preço-alvo de R$ 10 por ação”, concluíram os analistas .

BofA

Os analistas do Bank of America (BofA) informaram que o prejuízo líquido de R$ 0,40 por ação da Via ultrapassou a estimativa do banco de investimento que era de R $ 0,01, sendo R$ 0,51 em provisões para demandas judiciais, parcialmente compensado por R$ 0,16 em créditos tributários.

Robert E. Ford Aguilar, Melissa Byun e Guilherme Vilela acrescentaram que os resultados menores da Via estão atrelados à forte “erosão” do salário real; aos altos níveis de endividamento das famílias e nível de emprego abaixo das taxas de 2019.

“A Via também supera a demanda excepcionalmente forte do ano anterior por produtos eletrônicos e móveis para o lar, alimentada ainda mais por pagamentos de ajuda emergencial aos consumidores. Embora esperemos um aumento no final de 2022, um ambiente econômico fraco e uma dinâmica competitiva de comércio eletrônico podem impactar o sentimento do mercado”, informaram os analistas da casa

Levante

A equipe de Research da Levante Investimentos apontou que o resultado da Via foi abaixo das expectativas na maioria das linhas e que enxerga um “impacto negativo” no preço das ações da empresa no curto prazo. “Ainda sob os nossos pareceres, o fraco crescimento do GMV e das receitas reflete um macro mais desafiador para as varejistas (elasticidade renda da demanda, crédito, inflação) além do aumento da concorrência no setor. A base de comparação também tem ficado cada vez mais desafiadora, já sob a dura marca d’água do varejo digital no contexto pós pandemia”, disse a equipe.

O que chamou a atenção negativamente foi a performance do varejo físico, “que deveria ter apresentado números mais sólidos nesta altura do campeonato (população vacinada, baixa restrição de funcionamento)”, avaliou a Levante.

A casa também apontou a provisão de passivo trabalhista como mais um ponto negativo. “Embora possam ser elencadas como não-recorrentes e sem efeito caixa no curto prazo, essas obrigações aumentarão a necessidade futura de financiamento da companhia, que segue com alguma dificuldade em gerar caixa através das suas operações”, informou.

Ainda assim, a equipe sinalizaou alguns “predicados” no relatório de resultados, como o marketplace que cresceu a uma taxa expressiva de 133%, acelerando em relação aos últimos cinco trimestres.

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