Vilão da saúde financeira de muitos brasileiros, o crédito rotativo é um mecanismo adotado pelos bancos para parcelamento do pagamento do cartão de crédito.
A taxa do crédito rotativo é algo variável de banco para banco, mas, no geral, ainda há muita inadimplência nesse tipo de operação, o que tem feito o Banco Central estudar novas alternativas para melhorar esse cenário e reformular esse modelo de crédito.
Quer saber o que é crédito rotativo, como funciona o rotativo do cartão de crédito e conferir dicas sobre como evitá-lo? Confira neste texto.
O que é crédito rotativo e como funciona?
O crédito rotativo é uma espécie de crédito ofertado pelos bancos ao consumidor quando ele não consegue pagar o valor total da fatura de seu cartão de crédito no vencimento.
O rotativo ocorre como um financiamento da fatura, quando há o pagamento de um valor entre o mínimo e o total.
Ou seja, quando o cliente não é capaz de honrar o pagamento total do cartão, o banco estabelece um tipo de “empréstimo” referente ao valor que ficou em aberto, deixando esse saldo para o mês seguinte, com juros.
Quando utiliza o crédito rotativo, o cliente está, basicamente, pedindo emprestado dinheiro do banco para pagar a fatura do seu cartão, com juros, limite e outras condições específicas dessa operação. O valor do empréstimo é o saldo devedor da fatura, menos o valor que foi pago até o vencimento. Os juros do crédito rotativo são cobrados mensalmente, e geralmente são muito altos, possuindo sua fórmula baseada em juros compostos.
- Confira a calculadora de juros compostos.
Como funciona o rotativo do cartão de crédito:
- O cliente recebe a fatura do cartão de crédito.
- Faz o pagamento do valor mínimo da fatura ou um valor superior, mas ainda menor que o total da fatura.
- O saldo devedor da fatura (diferença entre o total dela e o que foi pago) é transferido para o crédito rotativo.
- Os juros do crédito rotativo são cobrados mensalmente, juntamente com o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
- Você deve pagar o saldo devedor do crédito rotativo até o vencimento da próxima fatura.
Quais são as regras do crédito rotativo
O crédito rotativo é amplamente utilizado no Brasil e, por isso, em 2017, o Conselho Monetário Nacional (CMN) criou uma série de regras para evitar a inadimplência do consumidor com relação a ele.
Anteriormente, o prazo para utilização era ilimitado, no entanto, o órgão estabeleceu uma medida que restringiu o prazo do crédito rotativo do cartão de crédito à 30 dias, somente até o vencimento da fatura seguinte.
“Se na data do vencimento o cliente não tiver feito o pagamento total do valor da fatura, o restante terá que ser parcelado ou quitado”, diz o Banco Central.
Em 2023, o BC também estabeleceu um limite máximo para os juros do crédito rotativo, determinando que eles podem ser cobrados até que o valor da dívida chegue ao dobro do valor inicial.
Exemplo de juros de crédito rotativo em bancos
As taxas de juros do crédito rotativo costumam ser altas, no entanto, alguns bancos têm taxas inferiores à média, de quase 450% ao ano (segundo dados do BC em julho).
Confira o valor da taxa de juros de crédito rotativo cobrada por alguns dos principais bancos brasileiros, segundo o ranking publicado em setembro de 2023 pelo Banco Central:
- Banco Pan: 19,44% a.m (ao mês), equivalente a 742,64% a.a (ao ano);
- Banco C6: 16,96% a.m (ao mês), equivalente a 555,02% a.a (ao ano);
- Itaú: 16,74% a.m (ao mês), equivalente a 540,77% a.a (ao ano);
- Banco do Brasil: 15,33% a.m (ao mês), equivalente a 453,5% a.a (ao ano);
- Santander: 15,05% a.m (ao mês), equivalente a 437,83% a.a (ao ano);
- Bradesco: 14,17% a.m (ao mês), equivalente a 390,34% a.a (ao ano);
- Banco Inter: 14% a.m (ao mês), equivalente a 381,73% a.a (ao ano);
- Nubank: 13,48% a.m (ao mês), equivalente a 356,18% a.a (ao ano); e
- Caixa Econômica: 11,13% a.m (ao mês), equivalente a 254,97% a.a (ao ano).
Desvantagens do crédito rotativo
O crédito rotativo é uma opção para quem não tem condições de pagar a fatura do cartão em sua totalidade. No entanto, é importante lembrar que os juros podem se tornar um problema sério caso a dívida não seja paga em um prazo curto, gerando a tal “bola de neve”.
Segundo a Serasa, um dos principais riscos é ter o nome negativado, ou seja, inscrito no cadastro de inadimplentes. Isso porque, devido às altas taxas de juros do crédito rotativo, o cliente pode não conseguir pagar a dívida.
Ou seja, os principais pontos negativos de sua utilização são:
- Juros altos: Os juros do crédito rotativo são muito altos, chegando ao valor médio de quase 450% ao ano. Isso significa que, utilizando o crédito rotativo, a dívida deve aumentar rapidamente;
- Dificuldade de sair das dívidas: caso não pague a dívida em um prazo curto, o cliente pode ficar preso no crédito rotativo e não conseguir quitar a dívida.
- Danos ao crédito: se não pagar a fatura do cartão em sua totalidade, o nome do consumidor pode ser incluído nos órgãos de proteção ao crédito, dificultando a obtenção de outras formas de crédito no futuro.
Como evitar crédito rotativo
O crédito rotativo deve ser utilizado como uma medida emergencial e não recorrente, visto que a taxa é alta e pode levar o consumidor à inadimplência.
Uma das regras básicas das finanças é manter o controle de gastos. O consumidor pode utilizar uma planilha de controle financeiro para monitorar os gastos e evitar o parcelamento da fatura do cartão de crédito.
Confira algumas dicas da Serasa, uma das instituições especialistas em dados de crédito no Brasil:
- Controle seus gastos, acompanhe a fatura pelo aplicativo de seu banco ou por meio de uma planilha;
- Estabeleça um “teto” de gastos em seu cartão;
- Tenha cuidado com o número de parcelas de suas compras;
- Tente pagar o valor integral da fatura e dentro da data de vencimento para evitar os encargos.
Fim do crédito rotativo
Devido aos altos juros e taxa de inadimplência que acompanham o crédito rotativo, uma das modalidades de crédito mais caras do mercado, o Banco Central tem estudado extingui-lo.
Em outubro de 2023, o presidente da autarquia, Roberto Campo Neto, participou de uma sessão plenária no Senado para falar sobre decisões de política monetária do órgão, tratando do crédito rotativo.
Campos Neto disse que, em até 90 dias, a autarquia deve apresentar uma solução para o “grande problema” que é o cartão de crédito, que encaminha-se para a extinção do crédito rotativo, indo direto para o parcelamento, com uma taxa ao redor de 9% ao mês.
“Ou seja, extingue-se o rotativo, quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento ao redor de 9%. E que a gente crie algum tipo de tarifa para desincentivar esse parcelamento sem juros tão longos. Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que eles fiquem um pouco mais disciplinados, numa forma bem faseada, para não afetar o consumo”, disse o presidente o BC.
*Com informações da Agência Brasil