Quem nunca ouviu falar em câmbio? Todos sabem que existem diversas moedas espalhadas pelo mundo e que cada uma delas corresponde a um valor em relação às outras. E é por essa razão que, muitas vezes, trocar dinheiro se torna uma tarefa difícil quando a moeda estrangeira de interesse é supervalorizada.
No entanto, tem uma coisa que nem todos conhecem: os fundos cambiais. Eles nada mais são do que uma alternativa de investimento com o propósito principal de proteger o valor de um dinheiro nacional das oscilações entre ele e determinadas moedas do exterior.
Mas não só isso. Como qualquer outro fundo de investimento, existem diversos detalhes que o investidor precisa saber antes de aplicar nessa categoria de investimento – que faz parte da modalidade de renda variável.
Continue a leitura para entender tudo sobre o assunto. Esclareça o que são fundos de investimento e, na sequência, siga para a categoria de fundos cambiais.
O que é fundo de investimento?
Para entender o que é um fundo cambial, primeiro é preciso saber o que é um fundo de investimento. Não se aflija. Por mais que seja preciso conhecer um conceito para aprender o outro, não haverá complexidade alguma, ok?
Um fundo de investimento nada mais é que uma carteira de produtos financeiros que pode ser composta por diferentes tipos de ativos – como de curto prazo; referenciados; de renda fixa; de ações; de dívida externa; multimercado; e cambiais. Normalmente, cada fundo de investimento tem um tipo de ativo em foco, apesar de também poder adquirir papéis de modalidades diferentes.
Por exemplo: um fundo de ação precisa ter, de acordo com a regulamentação da Comissão de Valores Imobiliários (CVM), 67% do valor das cotas pertencentes a ações. Portanto, os outros 33% do valor das cotas podem ser de outros tipos de ativos, como de renda fixa. Entendeu?
Além disso, os fundos de investimentos são oferecidos por instituições financeiras, como corretoras de valores e bancos, que designam a gestores – e apenas a eles, investidores não podem opinar – a função de tomar as decisões de compras dos ativos que irão compor a carteira.
Antes da criação do fundo, existe a captação de recursos. Isto quer dizer que essa categoria de investimento é de modalidade de aplicação coletiva, ou seja, diversos investidores colocam o seu capital no serviço financeiro. Porém, isso não quer dizer que todos os investidores precisam aplicar a mesma quantia, fica a critério de cada um quanto irá destinar ao fundo. Portanto, cada investidor terá uma cota específica do patrimônio que comporá a carteira.
Visto isso, já deu para imaginar o que é um fundo cambial, não é?
O que é fundo cambial?
Os fundos cambiais investem em ativos atrelados a moedas estrangeiras. Por via de regra, eles têm a finalidade de proteger os investidores contra as flutuações de sua moeda nacional em relação à uma moeda estrangeira que tenha maior força na economia mundial.
Um exemplo disso seria um fundo cambial que fica em uma instituição financeira brasileira e que acompanha a variação do dólar americano. Sendo assim, os investidores que vivem no país iriam aplicar recursos em sua moeda nacional (ou seja, o Real), que seriam convertidos para a moeda estrangeria (neste caso, o Dólar). Ao longo do tempo, esse investimento acompanharia as variações positivas e negativas entre os câmbios.
Isto quer dizer que, além do fundo proteger os investidores das oscilações entre as moedas, também é possível lucrar com a variação positiva do câmbio do exterior. Mas, caso a moeda nacional apresente um melhor desempenho do que a outra, o investidor pode perder com a aplicação.
Como funciona o fundo cambial?
Os fundos de investimento são classificados segundo diversos critérios, incluindo liquidez, prazo e composição da carteira. Eles podem ser do tipo aberto , em que os investidores têm liberdade para adquirir e resgatar cotas a qualquer momento, permitindo ajustes contínuos no patrimônio do fundo. Por outro lado, os fundos internos estabelecem um número limitado de cotas, que só podem ser resgatados no vencimento do prazo ou negociadas no mercado secundário, trazendo menos liquidez ao investidor.
Além disso, os fundos podem ser estruturados para objetivos de curto prazo, com horizonte de investimento definido e liquidação em período mais restrito, ou de longo prazo, que cancelam tempo maior de aplicação, normalmente superior a um ano, e protegem maior potencial de retorno em contrapartida a menor liquidez.
Fundos cambiais, por exemplo, são geralmente abertos e específicos ao longo prazo, o que permite ao investidor ingressar ou retirar recursos conforme desejar, aproveitando variações cambiais sem restrições rigorosas de resgate.
Essas classificações ajudam o investidor a escolher opções selecionadas para objetivos financeiros, perfil de risco e necessidade de liquidez.
O que compõe a carteira dos fundos cambiais?
De acordo com a regulamentação da CVM, os fundos cambiais devem ter no mínimo 80% da carteira composta por ativos relacionados diretamente, ou sintetizados via derivativos, ao fator que dá nome à classe. Os outros 20% podem ser ativos de outras categorias.
Fundo cambial: quanto rende?
O rendimento de um fundo cambial depende da performance da moeda que compõe a carteira e as flutuações dos outros ativos que também compõe o portfólio de investimentos. Geralmente, por conta do câmbio, esse tipo de fundo pode oscilar tanto quanto os fundos de ações – conhecidos como os mais voláteis do mercado.
Segundo dados recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais ( ANBIMA ), os fundos cambiais apresentaram forte volatilidade em 2024. Entre janeiro e julho, com o avanço do dólar frente ao real em aproximadamente 15,77%, esses fundos registraram uma rentabilidade média de 19,96% no acumulado do ano, sendo o melhor desempenho entre os principais tipos de fundos no período.
Por outro lado, a queda do dólar registrado ao longo do segundo semestre de 2024 fez com que alguns fundos cambiais apresentassem desempenho negativo. Em julho, por exemplo, a rentabilidade acumulada dos fundos cambiais estava em torno de -4,47% no ano até aquele mês, refletindo o impacto da valorização do real frente à moeda americana.
Nos últimos 12 meses até agosto de 2025, os dados do Boletim de Fundos de Investimento indicam que a captação líquida dos fundos cambiais ocorre positivamente, mesmo diante da volatilidade do mercado de moedas estrangeiras. Esse cenário demonstra que os investidores continuam a buscar proteção cambial e diversificação em suas carteiras, reforçando o papel estratégico desses fundos como alternativa diante das oscilações do câmbio internacional.
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Quais são os custos do fundo cambial?
Segundo a CVM, para investir em qualquer modalidade de fundos de investimento é preciso arcar com algumas taxas de investimento, como a de administração – pelo cuidado no dia a dia sobre o patrimônio do fundo – e, eventualmente, a taxa de performance – que é cobrada nos termos de regulamento, quando os rendimentos superam um patamar previamente estabelecido.
Além disso, também pode haver despesas de corretagem, custódia e liquidação financeira de operações e de auditoria.
Importante salientar: essas taxas não são fixas, elas variam de instituição financeira para instituição financeira. Por isso, é muito importante que o investidor avalie quais são os custos antes de aplicar em qualquer fundo de investimento.
Quais são os tributos?
Para ter uma casa, um carro ou prestar um serviço, cada cidadão deve arcar com impostos, e para fazer investimentos não seria diferente. Ao aplicar em fundos cambiais, o investidor deve contribuir com Imposto de Renda (IR). Veja o percentual de acordo com o prazo.
Fundo de curto prazo
Prazo do Investimento | Alíquota de IR |
---|---|
Até 180 dias | 22,50% |
Acima de 180 dias | 20% |
Fundo de longo prazo
Prazo do Investimento | Alíquota de IR |
---|---|
Até 180 dias | 22,50% |
De 181 a 360 dias | 20% |
De 361 a 720 dias | 17,5% |
Acima de 720 dias | 15% |
No caso de resgate com menos de 30 dias, o investidor também deverá pagar pelo Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O valor é regressivo: varia conforme a data que o investidor for retirar a alocação no fundo.
Vantagens e desvantagens do fundo cambial
Existem algumas vantagens em investir em fundos cambiais. A principal delas seria a proteção de valor do dinheiro nacional em relação às altas oscilações de moedas estrangeiras sobre ele.
Além disso, para quem deixar de comprar o câmbio e aplicar diretamente nessa categoria de investimento, poderá contar com a gestão de um profissional da área, que, provavelmente, tomará as melhores decisões para trazer maior rendimento para o fundo.
Outro benefício ao investir é que para aplicar em fundos cambiais não há nenhuma complexidade, só é preciso transferir determinado valor na moeda nacional para o fundo.
Por último, os fundos cambiais podem ser uma alternativa de diversificação de carteira, conduta muito recomendada por especialistas, para evitar que investidores não percam integralmente seus patrimônios em renda variável.
Mas, assim como em tudo, sempre há um lado negativo. O primeiro deles seria a moeda nacional do investidor supervalorizar sobre a moeda estrangeira, de modo que acabe perdendo ao aplicar nessa categoria de investimento.
Outro detalhe seria que para ter acesso ao fundo cambial, o investidor precisaria arcar com os custos e tributos do investimento.
Vale a pena investir em fundos cambiais?
A decisão sobre investir em fundos cambiais deve considerar o perfil e os objetivos de cada investidor. Segundo Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, “os fundos cambiais se tornam especialmente interessantes para quem busca proteção contra a alta do dólar. Por exemplo, quem tem uma viagem internacional planejada pode usar esses fundos para ‘travar’ o valor da moeda, evitando surpresas com variações cambiais. Nesse caso, é preciso pesquisar fundos que ofereçam boa liquidez e taxas de administração competitivas”.
Komura acrescenta que “os fundos cambiais também podem ser usados para apostar na valorização do dólar, já que investir diretamente por meio de derivativos pode exigir aportes mínimos elevados, enquanto comprar dólar à vista implica em armazenar o ativo físico.
Na mesma linha, José Falcão, da NuInvest, ressalta que “assim como o ouro, o dólar é considerado um porto seguro tradicional. Manter uma parcela da carteira alocada em moedas fortes é prudente como proteção diante de cenários de instabilidade econômica global, independentemente da direção do câmbio. Essa estratégia funciona como um seguro contra riscos sistêmicos e amplia a diversificação do portfólio”.
Os fundos cambiais servem tanto para proteger o patrimônio contra oscilações do dólar quanto para diversificar e reduzir riscos na carteira, sendo especialmente valiosos em períodos de volatilidade internacionais. Entretanto, é fundamental analisar taxas e liquidez antes de investir.
Quais são os riscos dos fundos cambiais?
Para qualquer investimento de renda variável, sempre haverá riscos. Então, para os fundos cambiais também não seria diferente. “Os riscos de investir em fundos cambiais são as oscilações de mercado. Em cenários instáveis da economia, de incertezas, esse tipo de produto tende a ter ainda mais volatilidade. Um exemplo clássico dessa volatilidade é o movimento de política monetária ao redor do mundo”, explica Falcão.
“Dependendo de como forem esses movimentos dos Bancos Centrais, isso tem uma relação direta com o câmbio. Um exemplo clássico seria uma possível alta da taxa de juros nos Estados Unidos. O que é que o investidor [nesse caso] pensa: ‘Os EUA estão subindo os juros e são a maior economia do mundo, portanto, a mais segura. Então, vamos tirar dinheiro de economias emergentes que possuem mais riscos, e levar um pouco para a segurança neste momento mais instável e delicado da economia’”, acrescenta o analista.
Isto significa que, de acordo com essa tendência, seria vantajoso ter alocado em fundos cambiais que têm o dólar como moeda principal, mas no caso de fundos com outras moedas predominantes o desempenho poderia ser contrário.
Ele ressalta que o desempenho dos fundos cambiais “depende muito do cenário macro aos quais estão inseridos”. Além disso, recomenda que “não é um investimento para fazer uma alocação excessiva e sim com um objetivo maior de proteção e diversificação de portfólio de forma geral, porque o fundo cambial, no caso do dólar, costuma ter uma correlação negativa com outros ativos de risco, como a bolsa do Brasil”, porque, “geralmente, quando a bolsa cai muito, acontece um movimento inverso com o câmbio, o dólar tende a se valorizar frente ao real”.
Como investir em fundos cambiais?
Após o investidor analisar os benefícios e riscos envolvidos na aplicação em fundos cambiais, bem como definir seus objetivos financeiros, o próximo passo é escolher qual fundo utilizar para o investimento. Recomenda-se avaliar cuidadosamente as opções disponíveis no mercado, observando o histórico de desempenho, a estratégia de investimento, as taxas de administração e a liquidez oferecida por cada fundo.
Para obter essas informações, o investidor pode consultar os sites de instituições financeiras que oferecem fundos cambiais, além de análises e rankings de fundos divulgados por plataformas especializadas e associações do mercado financeiro.
Com o fundo escolhido, o investidor deve abrir uma conta em uma corretora de valores habilitada e realizar o transporte inicial, que pode variar conforme o valor mínimo exigido pelo fundo. A partir desse momento, o investidor poderá portar valores adicionais ou solicitar resgates conforme sua conveniência, respeitando as condições de liquidez e prazos estabelecidos pelo fundo.
Esse processo proporciona flexibilidade e autonomia para que o investidor gerencie sua exposição ao mercado cambial de acordo com seu perfil e necessidades.