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Inflação americana em 2,9% pavimenta o caminho para cortes nos juros – lá e aqui

Há três anos o ‘IPCA’ deles não ficava abaixo de 3%. Entenda a situação gringa em 8 gráficos

O “IPCA” dos EUA caiu a 2,9% no acumulado dos últimos 12 meses – 0,1 ponto percentual abaixo das expectativas. É a primeira vez desde março de 2021 que o índice de inflação fica abaixo de 3%.

A baixa pavimenta o caminho para o início dos cortes de juros nos EUA – o que tende a empurrar o dólar para baixo, tira pressão da inflação brasileira e, por consequência, pode acelerar a volta dos cortes na Selic nos próximos meses. Tudo a combinar com os russos da parte fiscal, claro. Mas trata-se de uma boa notícia para nós de uma forma ou de outra.

LEIA MAIS: Criadora do ‘gatilho da recessão’ nos EUA defende corte na taxa de juros

E o fato é que os juros americanos estão fazendo seu trabalho, que é reduzir a inflação. Pelo CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês, equivalente ao nosso IPCA) ela tinha chegado a 9,1% em junho de 2022, o maior nível desde 1981. A ameaça de inflação fora de controle, que era real há dois anos, deixou de existir. 

Nos EUA, vale lembrar, sempre divulgam a inflação “cheia” e o “núcleo”. A cheia dá a variação nos preços de mais ou menos 300 itens. O núcleo exclui os mais voláteis – energia (incluindo combustíveis) e alimentos.

Com isso, ele dá uma ideia melhor de como a inflação realmente caminha no longo prazo. E o núcleo, que tinha batido em 6,6% em setembro de 2022, fechou julho em 3,2%, contra 3,3% em junho. É a quarta queda seguida. 

Veja os dois abaixo.

PCE: o índice que mais conta

A meta do Fed é baixar o núcleo da inflação para 2%. O BC americano estipula esse objetivo não exatamente para o núcleo do CPI, mas para o de outro índice de inflação, o PCE (sigla para Gastos de Consumo Pessoal).

A diferença entre os dois é simples: o PCE atualiza a lista de itens pesquisados com mais frequência. Se a carne vermelha ficou cara demais e boa parte da população trocou por frango, o peso do frango no índice aumenta (não há um índice semelhante no Brasil).

O núcleo do PCE de junho veio em 2,6%. O de julho só sai no final deste mês. Como é para ele que o Fed olha para valer, só aí o rumo da “Selic” americana vai ficar mais claro – por mais que o CPI já indique uma tendência. Enquanto o PCE não chega, segue aqui a variação histórica:

O carrapato e a vaca

Juros altos combatem o carrapato (a inflação) dando pauladas na vaca (a economia). Com o dinheiro mais caro, a atividade econômica diminui. Consome-se menos. E a demanda em baixa faz os preços pararem de subir.

Paulada não faltou. Os juros americanos estão há um ano em 5,5% – o maior patamar em 23 anos.

Mas e a vaca da economia? O normal é que ela saia atordoada da pancadaria. O dinheiro caro deixa as empresas com menos capital de giro. Algumas não suportam, e começam a demitir. Outras fecham. O desemprego cresce…

Esse efeito colateral dos juros é tão líquido e certo que, nos últimos anos, o mercado financeiro comemorou todo e qualquer dado que mostrasse fraqueza do mercado de trabalho. A começar pelo Payroll, que mostra a abertura de novas vagas a cada mês.

O problema: se o mercado de trabalho cai demais, temos um sinal de recessão – algo que consegue ser pior do que inflação. O quanto seria “demais”? A pista pode estar na taxa de desemprego:

Isso acionou um gatilho teórico: a Regra de Sahm. Vamos a ela.

Recessão?

Recessão significa basicamente dois trimestres seguidos de queda no PIB – no caso dos EUA, em 1947 e em 2022 rolaram duas quedas seguidas sem que o governo decretasse recessão (entenderam que outros índices vinham bem, e que o PIB logo voltaria ao positivo, como aconteceu).

Bom, se os EUA estiverem entrando em recessão hoje, só vai dar para saber no ano que vem, quando tivermos os números do PIB do terceiro e do quarto trimestre de 2024. Mas, claro, há atalhos para antever se um período de vacas magras está ou não a caminho.

Um deles é a Regra de Sahm, criada pela economista americana Claudia Sahm em 2019. Trata-se de uma fórmula que usa o ritmo de crescimento do desemprego para avaliar a possibilidade de recessão. Veja nesta sequência de slides:

PMI e PIB

Há mais dados além dos de emprego, claro. Um dos mais importantes é o PMI (Índice de Gerentes de Compras, em inglês). Trata-se de uma pesquisa global da consultoria ISM, com executivos dos setores industrial e de serviços. 

A ISM faz as entrevistas, tabula, e estipula uma pontuação pouco ortodoxa. Se der abaixo de 50, temos que o setor em questão está em contração. Acima de 50, expansão.

O PMI industrial fechou julho em 46.8 – contração, mas que não chega a ser alarmante. E o de serviços veio com uma boa surpresa: 51,4. Ou seja, expansão.

Enquanto isso, o PIB tem ido bem. Alta de 2,8% no segundo trimestre.  

Agora é aguardar os próximos dados. E entender se o ciclo de alta nos juros americanos está mesmo matando o carrapato sem causar grandes danos à vaca.

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