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Venda de carros elétricos acelera no mundo — mas não no Brasil

Crescimento global nos últimos 3 anos triplicou, mesmo quando a pandemia encolheu o mercado de carros convencionais e fabricantes enfrentaram gargalos na cadeia de suprimentos.

Venda de carros elétricos acelera no mundo — mas não no Brasil

No mundo da energia limpa, poucas áreas são tão dinâmicas quanto o mercado de carros elétricos. Em comparação com 2019, triplicou o percentual de carros elétricos no mundo em 2021. Já comparando com 2020 – ano da pandemia – o número dobrou, segundo o relatório da International Energy Agency (Organização Internacional para Fomento da Indústria de Energia).

O crescimento impressionante da frota nos últimos três anos se deu mesmo quando a pandemia global encolheu o mercado de carros convencionais e os fabricantes começaram a enfrentar gargalos na cadeia de suprimentos. 

Confira a seguir o sétimo especial sobre carros elétricos no Brasil e no mundo, que faz parte da série de Infográficos do InvestNews.

Em 2019, 2,2 milhões de carros elétricos foram vendidos no mundo, representando apenas 2,49% das vendas globais de automóveis. Em 2020, o mercado geral de carros contraiu, mas as vendas de carros elétricos contrariaram a tendência, subindo para 3 milhões e representando 4,1% das vendas totais de carros.

Em 2021, as vendas de carros elétricos mais que dobraram, para 6,6 milhões, representando 8,57% do mercado global de carros e mais do que triplicando sua participação de mercado em relação a dois anos antes. Todo o crescimento líquido nas vendas globais de veículos em 2021 veio de carros elétricos.

A IEA estima que existam cerca de 16 milhões de carros elétricos em circulação nas estradas em todo o mundo, consumindo cerca de 30 terawatts-hora (TWh) de eletricidade por ano. É o equivalente a toda a eletricidade gerada na Irlanda, país localizado perto da costa da Inglaterra.

Os carros elétricos ajudaram a evitar o consumo de óleo e as emissões de CO2, embora esses benefícios para o meio ambiente tenham sido anulados pelo aumento paralelo das vendas de SUVs – os utilitários esportivos. Eles são grandes, altos, pesados e consomem mais combustível.

A frota global de SUVs aumentou rapidamente, de menos de 50 milhões em 2010 para cerca de 320 milhões em 2021 – equivalente à frota total de automóveis da Europa. Como tal, os SUVs estão entre as principais causas do crescimento das emissões de dióxido de carbono (CO2 ) na última década. Somente em 2021, a frota global de SUVs aumentou em mais de 35 milhões, elevando as emissões anuais em 120 milhões de toneladas de CO2, segundo IEA. Atualmente, mais de 98% dos SUVs nas estradas do mundo ainda depende de motores a combustão.

Como o modelo é mais pesado que os veículos convencionais, eles consomem mais combustível, o que acaba por emitir mais poluentes na atmosfera. Mas segundo a Agência Internacional de Energia, as vendas disparadas de carros elétricos em 2021 devem ser suficientes para cancelar as emissões adicionais decorrentes dos 35 milhões de SUVs que foram comprados em detrimento dos carros de tamanho médio. No entanto, o relatório alerta que o ideal mesmo seria que as vendas do modelo a combustão fossem interrompidas.

A boa notícia é que, gradativamente, vem aumentando o número de novos modelos de SUV elétricos lançados no mercado, o que significa que os SUVs estão eletrificando mais rápido do que nos anos anteriores. Em 2021, cerca de 55% dos modelos de carros elétricos no mercado eram SUVs, contra 45% há dois anos. Pela primeira vez, a taxa de eletrificação do modelo corresponde à taxa de eletrificação dos carros de passeio.

Mas um detalhe chama a atenção: produzir SUVs com propulsão elétrica não seria uma solução viável, visto que, “além de consumir mais energia, carros maiores aumentam a demanda por minerais essenciais uma vez que SUVs elétricos movidos a bateria são equipados com uma bateria muito maior (70 quilowatt-hora) do que um carro elétrico com bateria média (cerca de 50 quilowatt-hora)”.

Entre os maiores emissores de dióxido de carbono na atmosfera, estão, por ordem: SUVs, indústria, carros de passeio, caminhões e aviões comerciais. Logo, se faz mais do que necessário a eletrificação das frotas além de medidas para se reduzir as emissões nas industrias.

A China é quem lidera a venda de carros elétricos no mundo. Durante anos, o país asiático usou como estratégia repassar subsídios generosos para que aumentasse a compra de elétricos no país. Agora, o repasse foi reduzido em 30%.

Ainda assim, a Associação Chinesa de Automóveis de Passageiros (CPCA) prevê que cerca de 5,5 milhões de carros elétricos e híbridos plug-in possam ser vendidos em 2022. Número este bem maior que os 3,4 milhões de elétricos vendidos em 2021, o que ultrapassa em 47% o que vendeu o continente europeu.

Já na Europa, as vendas de carros elétricos aumentaram quase 70% em 2021 para 2,3 milhões, sendo quase metade disto modelos híbridos plug-in. Embora o crescimento anual tenha sido mais lento do que em 2020, quando as vendas mais que dobraram, isso ocorreu no contexto de um mercado automotivo europeu que não tinha se recuperado da pandemia. 

Mas o aumento registrado nas vendas de veículos elétricos no continente no ano passado também foi impulsionado por subsídios que inclusive foram aumentados e expandidos na maioria dos principais mercados europeus. As vendas mensais em 2021 foram as mais altas no último trimestre do ano, atingindo o pico em dezembro, quando as vendas europeias de carros elétricos superaram pela primeira vez os veículos a diesel, cuja participação de mercado é de 21%.

Em termos absolutos, o maior mercado de carros elétricos na Europa em 2021 foi a Alemanha, onde mais de um em cada três carros novos vendidos em novembro e dezembro eram elétricos. Com 25%, a Alemanha tem a maior participação de mercado entre os grandes mercados europeus, seguida pelo Reino Unido e França (ambos com cerca de 15%), Itália (8,8%) e Espanha (6,5%).

Mas os Estados Unidos fizeram um retorno impressionante ao mercado de carros elétricos em 2021, com as vendas mais que dobrando, ultrapassando meio milhão. O mercado geral de automóveis dos EUA também se recuperou, mas os carros elétricos dobraram sua participação para 4,5%.

O mercado de carros elétricos dos EUA ainda é dominado principalmente pela Tesla, que responde por mais da metade de todas as unidades elétricas vendidas. A participação de mercado da companhia liderada por Elon Musk no entanto, caiu 65% em 2020, à medida que novos modelos elétricos foram oferecidos por outras montadoras. Os programas de incentivos federais não foram renovados, mas os consumidores ainda podem se beneficiar de generosos créditos fiscais (exceto para veículos Tesla e GM).

Em 2021, a Volkswagen liderou as vendas de elétricos na Europa, enquanto a marca BYD liderou na China. Já GM e Stellantis seguem ganhando mercado ao redor do mundo.

Fora dos grandes mercados, os carros elétricos estão crescendo lentamente. Caso do Brasil, Índia e Indonésia – países em que o market share é menor que 1%. Porém, segundo a Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos, o emplacamento de elétricos em 2021 corresponde a 1,8% do total no mundo – percentual este que não coincide com o contabilizado pela IEA. 

De acordo com levantamento da ABVE (Associação Brasileira de Veículo Elétrico), a frota de eletrificados no país em 2021 foi de 77.259 mil. Em abril de 2022, o número de carros eletrificados saltou para 90.109.  No entanto, entre os carros elétricos vendidos, a maioria ainda é de híbridos, com apenas 8% sendo os elétricos puros, chamados de BEVs (da sigla Battery Electric Vehicle). 

O que mostra como o Brasil está andando lentamente para eletrificar sua frota. E entre os principais motivos, estão: a falta de incentivos públicos e preço alto.

Ao longo de 2020 e 2021, muitos governos estabeleceram metas para eliminar gradualmente as vendas de carros com motor de combustão interna nas próximas duas décadas, assim como vários fabricantes de automóveis. Os veículos elétricos tornaram-se a tecnologia de transporte rodoviário preferida de muitos governos e da indústria automotiva.

O governo dos EUA anunciou em novembro de 2021 uma meta ambiciosa de 50% de eletrificação para carros novos até 2030, apoiada pelo anúncio da instalação de 500.000 pontos de carregamento para ajudar a aumentar a confiança do consumidor. Na Europa, a Comissão Europeia propôs zerar o padrão de emissão de CO2 para carros novos até 2035.

Ao mesmo tempo, várias montadoras anunciaram metas de eletrificação. Por exemplo, a Volkswagen disse que metade de suas vendas serão elétricas até 2030. A Ford espera que entre 40% a 50% das suas vendas sejam elétricas até o final da década. A Toyota anunciou novos investimentos visando atingir 3,5 milhões de carros elétricos vendidos por ano até 2030. 

No Brasil, os poucos incentivos existentes vêm de municípios, como o da prefeitura de São Paulo e sua Lei do Clima. Porém, os incentivos previstos se referem a isenção de rodízio e de IPVA dos elétricos. Ainda não há isenção de IPI, por exemplo. Atualmente, o IPI de um carro elétrico “puro” é o dobro  que o de um carro flex popular, segundo ABVE. 

Já o Programa Rota 2030 prevê a concessão de três benefícios, entre eles, a aplicação diferenciada do IPI para empresas. Entre as companhias que tiverem renúncias fiscais através do programa deverão investir 1,5% do benefício tributário em pesquisas sobre o desenvolvimento da tecnologia para veículos elétricos, segundo a PL 6.020/2019. 

Já outra medida que está em tramitação no Congresso é a PL 403/2022, que isenta veículos elétricos e híbridos do Imposto de Importação até 31 de dezembro de 2025. A expectativa com a proposta é reduzir em até 20% o preço final dos eletrificados no Brasil. Mas a medida ainda necessita ser aprovada. 

Desafios: preços dos suprimentos

O futuro parece brilhante para os carros elétricos, mas há sinais de alerta vindos de sua cadeia de suprimentos, com os preços dos materiais aumentando para toda a indústria automobilística. Em 2021, o preço do aço subiu 100%, o alumínio cerca de 70% e o cobre mais de 33%, afetando carros convencionais e elétricos. Para os carros elétricos, desafios adicionais foram impostos pelo aumento dos preços dos materiais necessários para fabricar baterias: o preço do carbonato de lítio aumentou 150% ano a ano, grafite 15% e níquel 25%, segundo IEA.

Várias montadoras também enfrentaram escassez de microchips que restringiu a produção.No entanto, a escassez é problemática para os carros elétricos, já que exigem cerca de duas vezes mais chips que os veículos convencionais equivalentes, principalmente devido a componentes eletrônicos de potência adicionais. É possível que, sem essas interrupções, as vendas de carros elétricos pudessem ter sido ainda maiores em 2021. Várias fábricas foram desativadas por semanas, causando atrasos nas entregas.

Mas para que os elétricos continuem sua atual trajetória de crescimento, as cadeias de suprimentos de baterias e a capacidade de produção de elétricos terão que se expandir rapidamente.

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