A indústria aérea global há muito tempo alerta que os passageiros acabarão pagando parte dos US$ 5 trilhões de custos da descarbonização dos voos. Chegou a hora.
O governo de Singapura anunciou um imposto sobre as tarifas aéreas para financiar compras de combustível de aviação sustentável, enquanto a vizinha Malásia autorizou as companhias a cobrar uma taxa de carbono dos passageiros a partir do próximo mês.
Na Europa, as companhias aéreas este ano perderam um quarto de sua licença de emissões gratuitas, a primeira de uma série de reduções que já parecem pressionar os preços das passagens.
“Entramos em uma nova era”, disse Rico Luman, economista de transporte e logística do ING em Amsterdã. “Voar vai ficar mais caro.”
Embora as políticas variem de país para país, o objetivo comum é limpar uma indústria da aviação que durante um século dependeu de combustíveis fósseis para funcionar. As companhias aéreas temem que, a menos que demonstrem que levam a sério a redução das emissões, enfrentarão multas, limites de voos ou — pior ainda — serão impedidas de voar.
O combustível de aviação sustentável feito a partir de óleos usados ou matérias-primas agrícolas, como o etanol, é a principal aposta da indústria para atingir sua meta de emissões líquidas zero até 2050. Mas o novo combustível é escasso e pode custar mais que o dobro do preço do querosene de aviação, deixando às companhias aéreas pouca escolha a não ser repassar o custo aos passageiros.
Isso significa pouco alívio de preços para os passageiros que foram atingidos pela alta das passagens desde que as viagens aéreas foram retomadas após a pandemia. Agora, também terão de pagar para neutralizar a pegada de carbono da aviação.
“Essa mudança é cara”, disse em entrevista Kiri Hannifin, diretor de sustentabilidade da Air New Zealand.
Projeções
A Air New Zealand pretende que o combustível sustentável (SAF, na sigla em inglês) represente cerca de 20% do seu consumo total até 2030, uma das metas mais ambiciosas do setor. Delta Air Lines, Cathay Pacific Airways e Qantas Airways estão entre as que miram 10% até o final da década.
O SAF pode reduzir as emissões em até 80%. O combustível mais verde é essencial para reduzir as emissões dos voos longos porque os aviões elétricos não têm autonomia suficiente e a propulsão a hidrogênio não deve ter um impacto significativo durante décadas.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo calcula que a transição da aviação para emissões líquidas zero exigirá investimentos de até US$ 5 trilhões até 2050. Mesmo na indústria do turismo, que tem mais a perder, muitos reconhecem que os passageiros não podem escapar de pagar parte da conta.