E não é para menos. A Nvidia se tornou a empresa mais valiosa do mundo, ao superar US$ 4 trilhões de valor de mercado. E as demais também fazem parte desse seleto grupo do trilhão — a de menor capitalização, a Tesla, vale mais de US$ 1 trilhão. Essas companhias formam o grupo conhecido hoje no mercado pelo nome nada modesto de as “Sete Magníficas”.
Mas e no momento atual? Uma vez que ninguém tem um DeLorean com capacitor de fluxo para voltar no tempo — e, supondo que você, como milhões de investidores pelo mundo, também quer acrescentar ações de tecnologia na carteira —, uma grande dúvida surge à mente: ainda vale a pena investir nessas big techs, uma vez que já valorizaram tanto? O que é preciso saber antes de comprar papéis do setor?
A corrida bilionária da inteligência artificial
Em primeiro lugar, mesmo com valores de mercado tão altos, a corrida da inteligência artificial está só começando. Cada uma dessas gigantes posicionou sua artilharia de recursos multibilionários e estratégias para se manter no pódio dessa competição. Mas tem um ponto importante: as apostas são muito distintas entre si.
Apesar de, direta ou indiretamente, todas se beneficiarem com a euforia da IA, as Sete Magníficas, na verdade, compõem um grupo bem diverso, com teses de investimento completamente diferentes. São companhias que atuam em áreas tão distintas como redes sociais, carros elétricos, produção de chips e serviços de nuvem.
E essas diferenças têm se refletido no desempenho das ações em 2025: enquanto Apple e Tesla acumulam queda no ano — 21% e 20%, respectivamente —, Microsoft, Nvidia e Meta seguem em alta de 8,4%, 10,8% e 18,15%.
Segundo João Valadares, da Arbor Capital, o setor de tecnologia não está, como um todo, barato ou caro. “As oportunidades hoje são específicas, tanto em valor quanto em fundamento”, diz. A aposta é principalmente em infraestrutura de IA, que ainda tem bastante estrada pela frente.
As big techs estão na linha de frente da inovação, o que significa também atuar em um terreno altamente dinâmico e competitivo. Como explica Pedro Cezar de Andrade, da IP Participações, “investir em tecnologia é difícil porque é onde a vanguarda da humanidade acontece. E a vanguarda muda o tempo todo”. Segundo ele, empresas que hoje lideram podem ser superadas rapidamente por modelos mais eficientes quando menos se espera.
Para atenuar esse risco, os chamados efeitos de rede, mecanismos que aumentam o valor de um produto conforme mais pessoas o utilizam, ajudam a criar barreiras para novos entrantes. Exemplos disso são WhatsApp e Windows, mas o conceito se aplica também a plataformas como Airbnb, redes sociais e serviços de nuvem. São essas barreiras de entrada que dão tempo para as big techs reagirem a ameaças competitivas e se reinventarem.
IA nas big techs: quem lidera e quem corre atrás?
A Apple, que já foi a empresa mais valiosa do mundo antes da febre da inteligência artificial, tem enfrentado dificuldades em convencer o mercado de que está bem colocada na corrida da IA. A expectativa era de que a companhia avançasse nesse tipo de serviço, especialmente com o anúncio do Apple Intelligence. No entanto, a empresa afirmou que terá mais novidades para divulgar só em 2026.
A Microsoft é apontada por analistas como uma das mais bem posicionadas para quem pensa em investir. Além de liderar o segmento de nuvem com o Azure, a empresa se beneficia diretamente com a OpenAI, dona do ChatGPT, com quem tem uma parceria de exclusividade.
A Meta, que teve a maior valorização neste ano, também é vista como destaque. A empresa já investia em IA antes de virar moda, o que deu a ela uma vantagem competitiva em algoritmos de personalização de conteúdo e publicidade. Isso melhorou a experiência do usuário, aumentou o engajamento e a conversão de campanhas publicitárias, algo que outras concorrentes ainda tentam reproduzir.
O caso Nvidia
A Nvidia, que projeta as GPUs (Unidades de Processamento Gráfico), que são uma espécie de “motores” das plataformas voltadas ao treinamento e execução de modelos de inteligência artificial, vive uma demanda sem precedentes. Mesmo terceirizando a fabricação de seus chips, a empresa domina o mercado de aceleradores para data centers, o que a torna essencial para gigantes como Microsoft, Meta e Google.
Apesar de não liderar em valorização no ano até agora, a Nvidia segue como uma das queridinhas do mercado. O preço das ações é impulsionado tanto pelo frenesi em torno da IA quanto pela posição única que ocupa no setor. Esse protagonismo ajuda a sustentar seu valor de mercado, que chegou a bater US$ 4 trilhões de dólares no dia 9 de julho.
No entanto, nos preços atuais já está embutida boa parte da expectativa de que a demanda por sua tecnologia continuará acelerada, o que exige mais cautela do investidor. Para a IP Participações, o mercado está precificando um crescimento muito forte, mas ainda é incerto até onde essa curva pode ir. Além disso, outras big techs têm investido pesado para reduzir a dependência da Nvidia.
Como alternativa, algumas gestoras têm optado por investir na TSMC, a fabricante taiwanesa responsável pelos chips mais avançados do mundo, entre eles, os usados pela Nvidia. Mesmo que a líder atual do setor perca espaço, ainda tende a se beneficiar, já que é praticamente a única capaz de produzir essa tecnologia em grande escala.
Indo um pouco além na cadeia de produção, outra opção que entra no radar é a ASML, empresa holandesa que fabrica as máquinas de litografia para a produção de semicondutores. Com domínio quase absoluto nesse segmento, oferece certa proteção ao investidor diante das altas barreiras de entrada.
Tesla: expectativa x realidade
A Tesla ainda é um case incerto. Hoje, as expectativas em torno da companhia estão apoiadas na ideia de que Elon Musk conseguirá transformá-la em uma gigante de inteligência artificial voltada à mobilidade autônoma. Essa projeção de futuro, e o valor atribuído a ela baseado nessas premissas, é o que no mercado se chama valuation. No caso da Tesla, essa tese se baseia principalmente nos dados que os veículos da empresa coletam, que poderiam ser usados para treinar um sistema de direção mais eficiente. No entanto, isso ainda precisa ser colocado à prova: enquanto concorrentes como a Waymo (Google) já realizam viagens 100% autônomas, os sistemas da Tesla ainda dependem da supervisão humana.
Balanços começam nesta quarta-feira
A temporada de balanços das big techs continua nesta quarta-feira, com a divulgação dos resultados do segundo trimestre de 2025 da Meta e Microsoft, após o fechamento dos mercados. Na quinta-feira, é a vez de Apple e Amazon, também após o encerramento das sessões. A Tesla e a Alphabet, controladora do Google, soltaram os resultados em 23 de julho, reportando lucros de, respectivamente, US$ 1,17 bilhão, com queda de 16% frente ao mesmo período de 2024, e de US$ 34,54 bilhões, alta anual de 46%. Já a Nvidia deve soltar seu balanço apenas em 27 de agosto.
Como investir em big techs na prática
Investir em big techs exige atenção a alguns pontos essenciais. O primeiro é ter um horizonte de, pelo menos, três anos e saber exatamente por que você está comprando determinada ação, ou seja, qual é a sua tese de investimento. Isso envolve entender qual é o diferencial competitivo da empresa, como ela ganha dinheiro, quais são os riscos envolvidos e por que ela deve se valorizar no futuro. Como os preços das ações de tecnologia reagem rapidamente às mudanças de cenários, é importante conhecer bem os fundamentos por trás de cada companhia.
Entre as formas de investir no setor estão os ETFs, fundos que replicam um índice e têm as cotas negociadas na bolsa. Eles permitem acompanhar as tendências de forma diversificada e com menor risco de erro na escolha das empresas. Um exemplo são os ETFs negociados na B3 que acompanham o índice Nasdaq. Existem dois: o NASD11 e o QQQI11.
Outra opção é aplicar em fundos especializados, que acompanham de perto o setor. Já quem quer aplicar em uma empresa específica pode investir diretamente em ações no exterior ou, aqui no Brasil, com os BDRs, mas é preciso entender que o risco é maior.